O imperialismo pressiona toda a América Latina a abandonar a Venezuela para que ele possa impor um golpe de Estado no país. O principal alvo dessa campanha é o próprio presidente Lula, o mais importante aliado de Maduro que agora está capitulando diante da pressão. Com essa posição de Lula, de não reconhecer Maduro, a esquerda ligada ao PT tenta justificar esse posicionamento com argumentos. É o caso de Cesar Fonseca que escreveu o texto “Lulismo x Chavismo: porque Lula acha regime venezuelano desagradável e autoritário”.
Ele começa afirmando: “o desabafo do presidente Lula de que o regime político na Venezuela é desagradável e autoritário, sem ser uma ditadura, expressa seu contido repúdio instintivo à representação explícita da marca registrada do modelo político criado pelo ex-presidente Hugo Chavez, seguido pelo presidente Maduro: socialismo bolivariano venezuelano”. Isso não é verdade. Lula não repudia o chavismo, ele está sendo pressionado pela direita a se afastar de Maduro. O próprio texto de Fonseca deixa isso claro.
O colunista começa a fazer uma análise ideológica do Chavismo e chega então a fazer comparações com a China: “o decálogo político-partidário do Partido Comunista, na concepção de Marx e Engels, pregado por Hugo Chaves, é o mesmo que, hoje, Xi Jinping dissemina, ideologicamente, na China, pelo partido comunista chinês, responsável por colocar os chineses no topo da economia mundial pelo critério do poder de paridade de compra em escala global, graças aos juros baixos praticados pelo crédito público estatal”.
A comparação ideológica em si não faz muito sentido, o chavismo é muito diferente do modelo chinês. Mas aqui fica claro como o posicionamento de Lula não é ideológico. Com a China, que todos concordam ser menos democrática pelos padrões da imprensa burguesa, não há esse repúdio. Como Maduro, que o próprio autor admite ter um histórico democrático, o repúdio é enorme. Ou seja, não é uma questão ideológica, é uma luta política que acontece agora. A campanha imperialista mais pesada é em relação à Venezuela e não em relação à China.
Ele então começa a diferenciar Lula do chavismo: “ao contrário de Chávez, o presidente Lula não tem nada de socialista. Trata-se de reformista da burguesia, com sua origem sindical, formada na base econômica industrial do Brasil herdado de Getúlio Vargas, que modernizou o Estado nacional e as relações de trabalho, a partir da Revolução de 1930”.
Mais uma vez é preciso afirmar que todas essas questões são irrelevantes. Lula reconheceu a eleição de Putin este ano, reconheceu a eleição de Masoud Pezeshkian do Irã e até mandou Alckmin para a posse. Nesse sentido o chavismo é muito mais próximo de Lula do que as ideologias russas e iranianas.
O texto continua: “a diferença histórica qualitativa entre Venezuela, sob chavismo-madurismo, dominante no parlamento venezuelano, e Brasil, comandado por Lula e aliados de centro-esquerda, minoritários no Congresso, rechaçados pela elite reacionária, que lhes impõe modelo neoliberal anti-nacionalista, anti-crescimento econômico sustentável, tende a ser incontornável”.
Mas o que há para contornar? São dois países diferentes. E pelo texto ainda parece que o Brasil nunca se libertará da direita.
O Brasil tem uma escolha?
Fonseca então comete o mesmo erro de outros setores da esquerda, considerar que Lula pode escolher entre dois polos:
Lula, nesse contexto, tenta se equilibrar entre os dois pólos geopolíticos que se formam no plano global, com renascimento de nova guerra fria, que pode virar guerra quente:
1 – De um lado, os Estados Unidos, propensos à destruição do regime chavista, para dominar o petróleo venezuelano, indispensável à estabilidade do dólar, depois do fim do petrodólar, que lhe garantia o necessário aval, e;
2 – De outro, a China e a Rússia, aliadas da Venezuela, com as quais o Brasil se encontra alinhado na construção dos BRICS, cuja máxima geopolítica é a multipolaridade contra a unipolaridade defendida pelos Estados Unidos e União Europeia.
O grande problema aqui é que não existe essa escolha. A divisão que está colocada é: países imperialistas contra países oprimidos. O Brasil é um país oprimido, ele não pode escolher fazer parte do bloco dos EUA. No caso dos países oprimidos fazer parte do bloco dos EUA é a Argentina de Milei, a ditadura no Equador e no Peru. Colocado assim a tese do equilibrismo não faz sentido nenhum. Porque se equilibrar entre Milei e Maduro? Como qualquer discordância que se tenha com Maduro é um fato que ele é aliado e Milei é um inimigo dos brasileiros, dos argentinos e de todos os oprimidos.
O Brasil faz parte dos países oprimidos, isso é um fato. Em analogia, um operário mais bem pago não pode escolher entre se aliar ao patrão ou se aliar aos operários. Não é uma escolha que existe, ele é operário e ponto. Será eternamente oprimido pelo patrão que dependendo da conjuntura pode manter ele com algum privilégio mas caso venha a crise irá mostrar a fúria da opressão capitalista. E no mundo de hoje as crises são uma certeza. Tanto no âmbito das fábricas quanto na questão internacional.
O colunista defende a posição de Lula de esperar a análise das atas: “se o veredicto das autoridades venezuelanas for o de que Nicolas Maduro, isto é, o chavismo, venceu as eleições, que, previamente, os oposicionistas consideram ter sido vencidas por eles, Lula terá que sair da posição de ambiguidade em que se encontra”.
Mas essa tese não é real. Lula poderia ter aceitado o resultado quando o CNE afirmou que Maduro venceu. Ele escolheu esperar as atas por pressão da direita. Agora quando houver essa análise a direita irá falar que foi fraude, e o que fará Lula?
Todos sabem que essa extrema direita venezuela financiada pelos EUA não tem compromisso com nada. E esse ponto é crucial. Em todo esse longo texto sobre a Venezuela César Fonseca não levante em momento algum a questão principal, que Maduro está sofrendo uma tentativa de golpe de Estado. Colocando as coisas as claras isso mostra como a posição de Lula é absurda. Como conciliar Jango com Castelo Branco? Como conciliar Dilma e a Lava Jato? Como conciliar Lula e Bolsonaro? Como conciliar Maduro e os EUA? Isso não existe. O Brasil deve assumir o lado correto, o da Venezuela contra o imperialismo.