Breno Mello e Marpressa Dawn são os protagonistas de Orfeu Negro”. Foto: reprodução

Neste domingo (2), o Brasil pode ser premiado, pela primeira vez, com a estatueta do Oscar. No entanto, há 65 anos o país já levou a maior honraria do cinema indiretamente.

Em 1960, o filme “Orfeu Negro” conquistou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, hoje chamado de Melhor Filme Internacional. Apesar de ser uma obra repleta de elementos brasileiros, como a música de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, o cenário do Rio de Janeiro e um elenco majoritariamente nacional, o prêmio foi creditado à França.

A razão? A produção foi liderada pela francesa Dispat Films, em parceria com a italiana Gemma Cinematografica e a brasileira Tupan Filmes.

“O filme ‘Orfeu Negro’ foi rodado inteiramente no Rio de Janeiro, com quase que a totalidade do elenco sendo brasileira, falado em português, com música brasileira e, sobretudo, inspirado em uma peça do Vinicius de Moraes”, explicou Cao Quintas, produtor de cinema e professor da ESPM, em entrevista à BBC News Brasil. No entanto, a França, como coprodutora majoritária, foi responsável por inscrever o filme no Oscar, levando os louros da premiação.

A história de “Orfeu Negro” remonta à peça “Orfeu da Conceição”, escrita por Vinicius de Moraes em 1954. A obra reinterpretava o mito grego de Orfeu e Eurídice, ambientando-o em uma favela carioca durante o carnaval.

O filme “Orfeu Negro” deu origem à parceria de Vinicius de Moraes e Tom Jobim. Foto: reprodução

A peça, encenada em 1956 no Teatro Municipal do Rio, contou com a música de Tom Jobim e a cenografia de Oscar Niemeyer, além de um elenco de atores negros liderados pelo Teatro Experimental do Negro de Abdias Nascimento.

O sucesso da peça chamou a atenção do diretor francês Marcel Camus, que adaptou a história para o cinema em 1959. O filme manteve a essência da obra de Vinicius, mas foi conduzido por uma equipe estrangeira. “Eu não me convenço que ‘Orfeu Negro’ seja um filme brasileiro”, afirmou Quintas. “Ele praticamente se apropria de um Brasil imaginário, um neocolonialismo que filma essa alegoria e oferece essa sandice para o mundo ver.”

Apesar das críticas, o filme foi um sucesso internacional, ganhando a Palma de Ouro em Cannes e o Globo de Ouro, além do Oscar. A trilha sonora, com clássicos como “A Felicidade”, de Tom Jobim, ajudou a difundir a bossa nova mundialmente. No entanto, a representação do Brasil no filme foi alvo de controvérsias.

“Vemos um Brasil retratado por lentes e olhos estrangeiros, com personagens representando uma versão atualizada do bom selvagem”, analisou Quintas.

Para o cineasta Luiz Bolognesi, a questão vai além do Oscar. “Esse filme faz parte da violência colonial que é roubar, expropriar histórias, narrativas, linguagens, modos de produção, de vestimenta, de cabelo, de figurino, de modos de falar”, criticou. Ele reconhece, porém, que o filme teve um impacto positivo ao inspirar jovens artistas brasileiros a valorizarem a cultura nacional.

Veja o trailer de “Orfeu Negro”: 

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Last Update: 02/03/2025