Este país, que já foi chamado de “país do futebol”, agora tem como ídolo mais popular o Neymar. Chegamos a este fundo do poço.
Neymar, gente, que estampa mais manchetes pelas polêmicas de sua vida pessoal do que por um desempenho atleta digno (aliás, não me lembro da última vez que Neymar foi elogiado pelo seu talento no futebol), já que se ocupa muito mais da vida de garoto propaganda do que de atleta, enchendo os bolsos de dinheiro em cima de uma imagem que, sabemos, não passa de uma imagem.
Em meio aos contratos milionários envolvidos no futebol masculino, que recebe patrocínio suficiente pra jogar três copas seguidas, se quiser, o Brasil segue com um desempenho cada vez menor, não merecendo mais, na minha humildíssima opinião, ser conhecido como o país do futebol, ao menos não por ora.
Em outras modalidades de competições esportivas, como maior exemplo as olimpíadas, o patrocínio é, na maioria das vezes, impraticável.
Rayssa Leal, bronze no skate, sempre treinou sozinha, e só foi patrocinada porque viralizou.
Já a judoca Bia Souza – que conquistou o ouro e contribuiu fundamentalmente para o que o judô se consolidasse como melhor resultado da história das olimpíadas – tem uma história de perseverança e dedicação ao esporte.
Filha de Judocas, começou a praticar aos sete anos e nunca mais parou. Mesmo diante das dificuldades de não poder viver de seu esporte, como tantos outros atletas, voou longe.
Medalhista em várias categorias e inclusive nas Olimpíadas de Tóquio em 2020, a judoca não tem um corpo de atleta, mas tem o desempenho de um – o que, além de suficiente, é na verdade a única coisa que importa.
Bia: "Deu certo, mãe! Pai, eu consegui!" MEU DEUS EU AMO MUITO A BIAAA 🥺🤏 #GlôNasOlimpíadas #JogosOlímpicos #Paris2024 pic.twitter.com/6QdkpjC50e
— TV Globo 📺 (@tvglobo) August 2, 2024
Bia viralizou em um vídeo emocionante onde conta à sua família que conquistou a medalha: “é pela vó, diz, chorando.
Na ginástica artística, Rebeca Andrade dá um show que jamais será esquecido.
Com uma medalha de prata e duas de bronze, Rebeca já escreveu seu nome na história da ginástica artística.
Ao ser questionada sobre a reação – um tanto quanto transparente – da ginasta americana Simone biles, sua adversária, assistindo sua apresentação – responde que ambas mantém uma relação de admiração e apoio mútuo, eliminando qualquer manchete maldosa sugerindo rivalidade entre as atletas.
Mais do que fairplay, isso é empatia.
Duas mulheres pretas sabem muito bem o que tiveram que passar antes de chegarem ao topo.
O “país do futebol” finalmente passa a enxergar outros esportes e valoriza-los, percebendo também que as mulheres só precisam de uma chance para encherem o Brasil de orgulho – como faz o futebol feminino e como têm feito as mulheres negras nessas Olimpíadas.
O protagonismo das mulheres negras nas Olimpíadas não é um acaso, é o resultado de uma mudança social ainda em curso que oportuniza que as mulheres ocupem espaços que sempre foram capazes de ocupar, mas foram impedidas pela estrutura patriarcal que sempre delimitou o lugar da mulher na sociedade.
Três mulheres pretas no pódio não é um acaso, é um acontecimento histórico.