O desempenho dos Correios e o erro de origem
por Edivaldo Dias de Oliveira
1 – Há um grave erro de origem na avaliação de desempenho da ECT – Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos.
A lucratividade nesse tipo de empresas em todo mundo constitui uma rara exceção e não regra, inclusive a maior empresa desse setor no mundo a US Post é deficitária há décadas e nenhum governante, seja democrata ou republicano fala em ineficiência e privatização. Não há em qualquer mídia desse país, qualquer crítica ao desempenho financeiro da empresa. As mesmas coisas se podem dizer dos demais correios em todo o mundo.
São raríssimos os casos de privatização nesse setor, a destacar apenas o caso alemão que foi sendo adquirido aos poucos pela também alemã DHL, empresa de courrier. Em outros dois casos as privatizações já foram ou estão sendo revistas como o inglês e português.
2 – Qual deveria ser então o critério de avaliação de desempenho dessas empresas?
Todas elas são afiliadas a UPU – União Postal Universal – órgão ligado a ONU, que possui mais Correios filiados que a ONU possui membros.
A UPU deve possuir dados sobre o desempenho de cada uma das empresas de Correios pelo mundo, inclusive estratificada por região e tamanho da população e país, quantidade de funcionários por população, pessoal envolvido diretamente com a logística de manuseio e entrega dos objetos postais, bem como os prazos de entrega em cada um deles.
São esses os critérios que devem nortear a análise de desempenho de uma empresa de Correios e não cair na cantilena fácil do mercado de lucratividade a todo custo, pois isso acaba trazendo prejuízo na prestação final do serviço, com terceirização e precarização, corte abrupto de funcionários com PDVs, adiamento de concursos para a melhoria dos serviços entre outros males.
3 – É possível adotar algumas medidas para melhorar a relação despesa/receita?
Não sei se por orientação da UPU, mas a tabela de preço dos Correios no Brasil, quando são majoradas, o são de forma linear, ou seja, adota o mesmo índice de aumento para todas as modalidades de serviços postais, um erro.
Erro maior também é o fato dessa tabela ter apenas dois preços diferente para cada serviço prestado, dividindo-se em capital e interior. Tomamos como exemplo o caso do estado de São Paulo, onde começa o CEP Código de Endereçamento Postal no país.
O cepiamento do estado começa no CEP 01000-000 e vai até o CEP19.999-999, tendo o intervalo de 10 mil como reserva de CEP. Do CEP 01 ao 5999, representa a capital, do CEP 06 ao 9.999, a região metropolitana e do CEP 11.000 ao 19.999 o interior do estado.
Porém, pela tabela de preços dos Correios para encomenda simples e expressas a capital CEPs 01/05 tem um preço e todo o restante, CEP 06/19 tem um segundo preço igual. Ora, não é preciso muito esforço para notar que a logística envolvida para a entrega de um objeto postal nos CEPs 06/09 é menos complexa do que a envolvida nos CEPs 11/19. Esse critério se aplica a todos os estados do Brasil.
Logo, se os Correios mexer nessa tabela, onerando pelo menos as entregas expressas e encomendas para os locais mais distantes, é certo que ela vai melhorar sua receita, sem mexer na taxa básica de primeiro porte para carta (LC) e impresso (AO) simples ou mesmo registrado de primeiro porte, que equivale a 20 gramas por objeto postal.
4 – A importância estratégica dos Correios em todo mundo.
Em todo mundo, os Correios possuem uma importância estratégica de soberania nacional, fazendo a ligação física com todas as comunidades do território por mais distantes que sejam. É uma tarefa que não pode ser privatizada mesmo que o operador venha a ser uma empresa nacional, que pode muito bem ser adquirida por estrangeiros no futuro.
Sem contar a responsabilidade em transporte de provas de concursos, remédios e urnas eletrônicas por todo o território. Já pensou tais tarefas sendo executada por uma empresa privada, cujo dono tenha se manifestado politicamente sobre o pleito ou sobre a eficácia de um medicamento ou vacina?
Pense numa comunidade distante sendo atendida por serviços em geral oferecidos por países vizinhos, como entregas, saúde, educação, segurança. Que sentimento de pertencimento essa comunidade terá com o país de origem e com o país que o assiste? Daí a anexação é um pulo, exemplos pelo mundo é o que não falta, como o norte do México, anexado pelos EUA e mesmo o Acre, que pertencia a Bolívia e tinha mais assistência daqui do que de lá, daí a uma oferta de compra da nossa parte foi um pulo. O Alaska foi vendido pela Rússia aos EUA na bacia das almas, porque o Czar não conseguia dar assistência aos seus habitantes, esse estado é hoje o maior produtor de petróleo dos EUA. Pensa num arrependimento russo? Nem se fale em questão geoestratégica…
Os Correios do brasil é a única instituição presente em cada município e isso não vai continuar se for privatizada, fechar a maioria das unidades será a primeira providência a ser adotada pelos novos proprietários.
5 – A grande farsa da concorrência eficiente.
Trabalhei nos Correios de São Paulo SP, como carteiro de 1978 a 1985, comecei no CDD – Centro de Distribuição Domiciliar – de Pinheiros e terminei no CDD Cidade Dutra. Desde aquela época a Abril, então a maior editora do país tinha empresas próprias e terceirizadas que faziam entregas de várias de suas publicações, mas mesmo com todo o volume de entregas, ela não conseguia ir além do centro expandido da capital paulista, uma imensa\ metrópole, postando junto aos Correios as correspondências destinadas ao que chamávamos de fundão.
Nada mudou. A prática continua a mesma, com as novas empresas de logística, elas ficam com o filé e entregam o osso para os Correios, desfilam seus modernos carros elétricos e drones pelos comerciais, mas não se vê nenhum entregador em cima de barcos, voadoras, como se vê carteiros e carteiras, embrenhados na mata.
Para finalizar, o que direção da empresa e dirigentes sindicais devem buscar são dados que atestem a eficiência da nossa empresa em comparação com empresas congêneres de outros países, para com esses dados rebater o discurso canalha dos piqueteiros da Faria Lima, que tudo fazem para impedir que o país se desenvolva, distribua melhor a renda e diminua a desigualdade.
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