Por Carlos Lima
Nos dias 6 e 7 de maio, o todo-poderoso Comitê de Política Monetária — aquela turma “independente” que, na prática, responde com um telefonema aos caprichos do mercado financeiro — vai se reunir de novo para decidir o destino da economia brasileira. Spoiler: não espere nada diferente. A expectativa é manter a taxa Selic no criminoso patamar de 14,25% ou, quem sabe, dar mais uma espetada para cima — afinal, os rentistas estão com sede.
Enquanto o Brasil real tenta sobreviver com crescimento de 1,7% ao ano, desemprego batendo quase 8% (e com quase metade da força de trabalho na informalidade ou na uberização), nossos “gênios” da política monetária seguem convictos: para domar a inflação, o remédio é sempre o mesmo — desemprego, arrocho salarial e sufocamento da atividade econômica. Um show de criatividade.
A ata da última reunião já havia deixado a mensagem clara, numa prosa tão fria quanto desumana: “a desaceleração da atividade econômica é elemento necessário para a convergência da inflação”. Traduzindo: se você está desempregado ou vendo seu salário ser corroído, comemore — você está “ajudando” o Brasil a cumprir sua meta inflacionária. Parabéns, companheiro sacrificado!
Agora vamos aos números para entender o tamanho da desgraça:
R$ 807 bilhões torrados só em pagamento de juros da dívida em 2024 — mais que saúde e educação juntos.
Cada ponto percentual de alta da Selic = R$ 35 bilhões a mais drenados dos cofres públicos diretamente para a conta bancária dos barões financeiros.
Taxa real de juros: mais de 7% ao ano, liderando o ranking mundial da vergonha monetária.
Investimento? Uma piada de mau gosto: 17,8% do PIB. Indústria? Só 11% do PIB — estamos nos especializando em exportar soja e importar tecnologia… e pobreza.
Mas nada disso faz o Copom perder o sono. Aliás, no circuito elegante da Faria Lima e nos salões acarpetados do Banco Central, o Brasil está ótimo: o lucro dos bancos bate recorde atrás de recorde, a bolsa distribui dividendos bilionários e os super-ricos seguem aplaudindo, de taça de champanhe na mão, enquanto a economia real agoniza.
E a cereja do bolo? A mídia corporativa, claro! Sempre solícita, ela enfeita essa tragédia com palavras bonitas: “austeridade”, “prudência”, “compromisso com a estabilidade”. Mas ninguém explica porque diabos essa tal “estabilidade” só serve para garantir lucros pornográficos a uma elite financeira enquanto o povo paga a conta com suor e lágrimas.
Pior ainda, dizem que o Banco Central é “técnico” e “autônomo”, quando na verdade funciona como um braço armado dos interesses mais reacionários do capital financeiro. Hoje não se faz política monetária no Brasil; se faz chantagem monetária.
Ah, e não podia faltar a cereja podre: enquanto a direita e os liberais morrem de medo de qualquer avanço social, o governo segue pressionado entre tentar governar e se equilibrar nessa armadilha. O resultado? Emprego emperrado, investimento público estrangulado e uma eterna luta para sobreviver à guerra híbrida financeira em que estamos metidos.
Chega de circo: não há saída dentro dessa camisa de força neoliberal. Ou rompemos com o modelo que sangra o Brasil para engordar rentistas ou continuaremos prisioneiros de uma lógica econômica que só serve aos de cima.
O povo já entendeu o truque: menos juros, mais empregos. E que esses tecnocratas do desastre comecem a suar frio, porque a paciência das ruas tem limite.
Charge: Latuff