As demissões involuntárias. Lula se destaca!
por Rui Daher
Quando moldada para a vida, a expressão do título não é minha, mas do grande amigo, publicitário, escritor e roteirista Márcio Alemão. Das letras, ele a cunhou para não pesar o vernáculo com o termo desespero. Não me envergonho do roubo e nem de expandi-lo.
Depois de quase cinquenta anos de amizade, hoje em dia, ele mais novo, eu na maratona dos 79 para os 80, nossa luta ferrenha contra a mediocridade humana continua, sejam presenciais, menos, pois ambos moramos na “capitá intransitável”, o que nos faz manter os ‘proseios’ (Guimarães Rosa, 1908-1967), sérios ou galhofeiros (mais), nas digitais ou em telefonemas semanais bons, velhos e ainda fundamentais.
Fica a impressão de que o Alemão quando cunhou a expressão passava pela Via Anchieta e lembrou como as indústrias automobilística e de autopeças se mantêm em épocas de crise. Os trabalhadores, quando aceitam, é porque já sabem que, mais algumas semanas, e viriam as demissões autoritárias, em condições piores, já que hoje em dia não podem se valer de qualquer intervenção favorável, inexistentes leis trabalhistas mais vigorosas.
Acabam sendo levados a abrir MEIs (Microempresas Individuais) o que, sem galhofa, nesta levada, já fez economistas, políticos, jornalistas, afirmarem que o Brasil é o país onde mais cresce o número de aberturas de empresas do mundo. Fenomenal, não?
Mal sabem governos, empresários, partidos políticos, cientistas sociais, sindicalistas, jornalistas, e toda a ‘merdaiada’ do novo normal – blogueiros, internautas mercenários, influenciadores digitais – que eles atestam a expressão do fraterno amigo: a demissão voluntária do emprego, muitas vezes, acaba em demissão não voluntária da vida.
A Lei dos “Meieiros” veio para extinguir a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em sua última versão, um conjunto de leis protetivas dos trabalhadores, editado em 1943. Muitos especialistas afirmavam que a CLT estava ultrapassada, pois não contemplava as mudanças fundamentais nas relações de trabalho trazidas pela tecnologia.
Em 2017, o então presidente Michel Temer, influenciado pelo lobby empresarial, promulgou a lei 13.467, que incluiu alterações na CLT, mas não a modificou de forma radical. Não precisava, afinal a terceirização já corria solta na área trabalhista, a CLT caindo de madura por truque capitalista.
Tudo balela. Os trabalhadores olhavam equivocadamente para o aumento em seus rendimentos brutos sem perceberem o valor dos benefícios que lhes eram retirados. Mais: o capital acenava com o fato de que sem o peso dos encargos sociais poderia empregar maior contingente de funcionários.
Outra balela. Desde 2017, só se fez aumentar os índices do desemprego, vindo a cair no governo Lula. E a melhora no caso atual, foi fruto de ações macro e microeconômicas, e não de mudanças na legislação trabalhista.
Fosse Lula mexer nesse quesito seria a gota de água que falta ao bolsonarismo, com o auxílio luxuoso de um pandeiro, não o de Jackson, mas o da mídia de direita, que descaradamente flerta com a ultradireita.
Por que tanta intransigência diante de uma economia que anda bem, volta à proeminência mundial, recupera a soberania, e põe olhos nos extratos sociais minoritários, mesmo com o Poder Executivo tendo que arrastar dois grilhões pesados: o Legislativo e o Banco Central independente? Isto um ano depois de quatro anos de devastação bolsonarista. Do que se trata? Saudades dos escândalos e das tentativas frustradas de golpe?
Estaria a mídia convencional quebrando? Mesmo mantida a obrigatória farra financeira de balanços serem publicados impressos e não digitais. Economizar não é preciso, variação cambial sim?
Certo é que a qualquer feito positivo do governo Lula, sempre seguirá o adversativo “mas …” e lá vêm gafes, Maduro, gastança, Janja, Alexandre Moraes, lançamento da candidatura a prefeito de São Paulo, Guilherme Boulos (queriam que ele comparecesse ao de Marçal, o Boçal?).
Embora em muitos pontos tenhamos posições políticas divergentes, está certo o Alemão. Uai, Nelson Rodrigues (1912-1980) e Hélio Pellegrino (1924-1988) também não as tinham, e ainda assim eram grandes amigos?
Fato é que voluntária ou não uma demissão, que não seja por justa causa, leva ao desespero um pai ou mãe de família. Se não puder esperar do sistema econômico capitalista o suprimento assistencialista do governo ou do emprego para prover alimentação, saúde, educação, habitação higienizada, a quem recorrer? Deles, miseráveis, a resposta vem na ponta da língua: “Deus”.
Não, meus crentes e fiéis religiosos. Como Deus, depois de “criar” o mundo, tem respondido a muitos poucos, largou a resposta para o subemprego. Vejo nas ruas de bairros nobres, portas de restaurantes chiques, rapazes de alto potencial para funções mais produtivas, servindo, em rodízio de guardas (militares?) de nossas segurança e carroças.
Mais uma vez, acerta o amigo, cunhador de frases. E como fica a vida deles, diante da violência que assola as cidades, criminosos abastecidos de armamentos por um insano que liberou a compra e o uso de armas, por civis disfarçados em caçadores (pombas), colecionadores (armas do século 19), clubes-de-tiro (arcabuz, bacamarte)?
Pode ser. Ele foi Regente da Federação de Corporações e ainda mantém o apoio de um grupo de alienígenas tribais denominados bolsonaristas, a exemplo do que na matriz se diz “trumpistas”. Classificados no verbete como “homens de péssimos hábitos, demências parciais”.
Um exemplo para não pedirmos demissão voluntária da vida, meu caro Márcio Alemão. Elas existem.
Uma Mariana Aydar, eclética, vem de Clara Nunes, Beth Carvalho, outras.
A outra Lucy Alves, musicista, desempenha cinco instrumentos, num “Forró Pesado”, além de cantora e atriz.
Rui Daher – administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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