O campo de refugiados palestinos de Dera’a, situado na cidade de mesmo nome no sul da Síria, é um dos dez campos oficialmente reconhecidos pela UNRWA no país. Sua história é a marca viva da tragédia da Nakba de 1948, quando centenas de milhares de palestinos foram obrigados a abandonar suas terras pela ofensiva sionista, e da luta permanente pela sobrevivência em meio a perseguições, guerras e a miséria imposta pela opressão imperialista.
O campo foi fundado entre 1950 e 1951 para acolher a primeira leva de refugiados vindos do norte e leste da Palestina. Posteriormente, com a ocupação sionista das Colinas de Golã em 1967, Dera’a recebeu também uma segunda onda de refugiados, provenientes da cidade síria de Quneitra. A partir de então, o campo se expandiu, formando dois setores: o original e o auxiliar. Antes da guerra na Síria, Dera’a Camp abrigava cerca de 13 mil refugiados, em uma província que concentrava 26,8 mil palestinos.
A maioria dos habitantes de Dera’a vinha de vilarejos das regiões de Haifa, Tiberíades, Nazaré e Safed, vítimas da limpeza étnica promovida pelo sionismo em 1948.
A devastação imposta pela guerra
Com o início do conflito na Síria em 2011, o campo de Dera’a foi brutalmente afetado. Cerca de 90% de sua população teve de fugir, e aproximadamente 60% da infraestrutura foi destruída. Muitos refugiados palestinos de Dera’a foram forçados novamente ao exílio, repetindo a tragédia iniciada em 1948.
Apesar da recuperação parcial após 2018, quando o governo sírio retomou o controle da região, as condições de vida no campo permanecem extremamente difíceis. Um levantamento da UNRWA em 2020 indicava que apenas 3.700 palestinos haviam retornado às suas casas no campo, distribuídos em 770 famílias.
Condições de vida precárias
O campo enfrenta problemas gravíssimos de infraestrutura. O fornecimento de água é insuficiente, as redes de esgoto estão em estado de colapso e a eletricidade é precária. Projetos de reparação e melhoria, como a instalação de estações de transformação elétrica e novas linhas de água, só foram possíveis graças a esforços conjuntos entre o governo sírio, organismos internacionais e doações de filantropos locais.
A saúde pública também sofre com o abandono. A única clínica da UNRWA no campo foi severamente danificada durante a guerra e precisou ser reabilitada em 2022. Ainda assim, a capacidade de atendimento permanece muito abaixo da necessidade dos moradores.
A educação, outrora motivo de orgulho entre os refugiados de Dera’a — com altos índices de escolarização antes da guerra —, foi profundamente afetada. Escolas foram destruídas e a retomada da atividade escolar dependeu de projetos de reconstrução financiados por organismos internacionais. O campo ainda carece de ensino médio próprio, obrigando estudantes a se deslocarem até a cidade de Dera’a.
Uma relação histórica de irmandade
O campo de Dera’a não vive isolado. Sua população construiu, ao longo dos anos, laços profundos com a população síria da província de Dera’a, baseada em relações comerciais, trabalho agrícola e casamentos intercomunitários. Essa integração foi fundamental para a resistência e sobrevivência dos palestinos ao longo das décadas.
O impacto político
Antes da guerra na Síria, o campo de Dera’a era um espaço de intensa atividade política das diversas organizações palestinas. Com a devastação, essa atuação diminuiu drasticamente. Ainda assim, a existência do campo e a resistência dos seus habitantes simbolizam a luta contínua do povo palestino contra o sionismo e o imperialismo.
A tragédia de Dera’a revela, mais uma vez, a farsa da “comunidade internacional” e da ONU, que há décadas se limitam a gerenciar o sofrimento do povo palestino, sem atacar as raízes do problema: a ocupação sionista da Palestina e a submissão da região aos interesses imperialistas.