O café é um produto que desperta. Atualmente, desperta preocupação e tira o sono. Fica difícil pousar a cabeça no travesseiro e dormir depois de tomar, comprar ou simplesmente falar sobre ele. É um caso de insônia política.
O consumo do grão aumentou 1,1% em 2024, quando a referência são as sacas. Foram, entre outubro de 2023 e novembro último, 21,916 milhões (cada uma com 60 quilos). O consumo per capita teve uma retração de 2,2%, chegando a 5,1 quilos por habitante/ano, provocado pelo aumento da população.
O dado impressionante é que o faturamento no mercado interno teve um crescimento de 60,85%, puxado pelo preço assustador no varejo em um ano praticamente estável em volumes e consumo. Os dados são da Associação Brasileira da Indústria do Café, a ABIC.
O aumento para o consumidor, que tem sido fonte de preocupação para o governo e munição para a oposição, tem uma escalada de quatro anos. Nesse tempo, o café torrado tradicional teve uma variação no varejo de 110%. Já a saca de café arábica aumentou 224%, o dobro. Mas, se o aumento vem acontecendo há tempos, por que a crise escalou agora? Novamente há o efeito da comunicação. O café entrou no bolo do aumento dos alimentos. Foi identificado como o que mais avançou. Ganhou espaço na mídia, nas redes sociais e no bolso de um consumidor muito mais atento.
Numa conta rápida, o consumo per capita foi de 51 litros (cada quilo de pó faz em média 10 litros). Para efeito de comparação, o consumo de cerveja no Brasil é de 69,3 litros per capita. O dado é do Relatório Global de Consumo de Cerveja da Kirin Holdings.
Poderia ser apenas uma curiosidade. Mas o café e a cerveja estão no campo das referências culturais, aquelas que estão incorporadas no vocabulário. Podemos beber qualquer coisa, mas sempre dizemos “vamos tomar um café” ou “precisamos tomar uma cerveja”. Com o café integrado ao dia a dia das pessoas, o tema do preço tem impacto grande e recorrente. É assunto para qualquer cafezinho entre amigos. Ou uma cerveja, que aumentou, segundo o IPCA, menos que 6% em 2024.