Durante participação no evento Logística no Brasil, realizado nesta quarta-feira (30) na sede da Fiesp, em São Paulo, a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, defendeu o fortalecimento da aliança entre o Brasil e o BRICS como parte central da estratégia nacional diante do atual cenário global. Tebet afirmou que o grupo, formado por economias emergentes como China, Índia e Rússia, representa uma oportunidade para o Brasil.
“O BRICS não é problema nessa equação; o BRICS, hoje, para o Brasil, é solução”, afirmou a ministra.
O evento foi promovido pelo jornal Valor Econômico, com apoio do Ministério dos Transportes e da Infra S.A. Em seu discurso, Tebet destacou a importância de decisões baseadas em dados econômicos e não em posicionamentos ideológicos. Segundo ela, o Brasil depende fortemente de mercados asiáticos e precisa ampliar sua integração logística e comercial com os países vizinhos da América do Sul.
“A nossa dependência do agro com países asiáticos é de quase 50% e 10% com os EUA”, declarou.
“A forma mais rápida e eficiente de chegar à Ásia é pelo Pacífico. Não podemos ficar sujeitos a intempéries como acabou de acontecer, pegando o mundo de surpresa”, acrescentou, sem mencionar diretamente os impactos das novas tarifas norte-americanas.
A ministra também comentou sobre o aumento das tarifas comerciais impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que anunciou a medida no início de julho, prevendo sobretaxas de 50% sobre produtos brasileiros. Tebet sugeriu que o Brasil deve manter uma postura pragmática diante da medida.
“Não podemos fazer biquinho nem chorar. É preciso entender o que é espuma e o que é chope nesse processo”, disse.
Ela afirmou que o governo precisa compreender quais setores norte-americanos estão sendo protegidos com as tarifas e o que Washington estaria disposto a negociar em troca. Tebet mencionou a possibilidade de os EUA reduzirem tarifas sobre itens como café e frutas, com base nos interesses comerciais próprios.
“Eles são pragmáticos. Pode haver diminuição de tarifas sobre café, frutas e aquilo que interessa a eles. A partir disso, podemos desenhar políticas de contingência com responsabilidade fiscal”, afirmou.
Tebet também avaliou os impactos da nova administração de Trump sobre o cenário internacional. Para a ministra, o retorno do ex-presidente ao cargo modificou a dinâmica global e levou diversos países a reconfigurarem suas estratégias de inserção econômica.
“Obviamente, o mundo não será mais o mesmo”, disse.
“A nossa sorte é que Trump não foi reeleito e, nesse ‘gap’, muitos países se reposicionaram”, completou, referindo-se ao intervalo entre os dois mandatos do presidente dos EUA.
A ministra também abordou a relação entre os Estados Unidos e a União Europeia, após o anúncio de um acordo de investimentos entre os dois blocos. Para Tebet, o pacto é frágil e cercado de incertezas quanto à sua execução, especialmente em função das tensões geopolíticas com a Rússia.
“Será que a União Europeia vai mesmo conseguir cumprir esse acordo de investimentos com os americanos, à custa de certa proteção militar ou bélica?”, questionou.
Na comparação com o Brasil, a ministra apontou que a balança comercial entre os dois países é favorável aos Estados Unidos, e que o Brasil não participa das mesmas pressões políticas enfrentadas por países da Europa.
“Quando olhamos para o Brasil, não vemos nada disso. A balança comercial dos EUA com o Brasil é superavitária para eles”, declarou.
Ao final do discurso, Simone Tebet reforçou a importância de uma política externa baseada na independência estratégica e na ampliação de parcerias com países do BRICS e da América do Sul. A ministra destacou que a construção de rotas logísticas e comerciais com os vizinhos sul-americanos deve ser acelerada para garantir acesso a mercados como o asiático.
O evento reuniu representantes do setor produtivo, autoridades públicas e especialistas em infraestrutura, comércio exterior e transporte. As declarações de Tebet ocorrem no contexto de revisão da política comercial brasileira diante da imposição de tarifas unilaterais pelos Estados Unidos e da busca por novas alianças econômicas.