O preço do subdesenvolvimento é a eterna ignorância. É extraordinária a capacidade que o país tem de destruir todas suas iniciativas promissoras. Esta semana foi divulgada a intenção do Exército de comprar drones capazes de disparar mísseis, bombas ou granadas.
Na longínqua década de 90, fui ao Instituto Militar de Engenharia só para conhecer Rex Nazareth, um dos pais do desenvolvimento nuclear no Brasil. Lá, ele me mostrou todas as pesquisas do IME, a mais promissora das quais era, justamente, a fabricação de drones – tema pouquíssimo falado na época. Tinha também sistema de sensores para identificar movimentos de terra ou em rios, úteis para presídios e para a fronteira amazônica. E me fez uma pergunta inacreditável:
- Como podemos mostrar isso ao governo? Você teria um caminho?
Ou seja, o Estado brasileiro não tinha informações sobre o que estava sendo produzido em um instituto público, o IME. Menos ainda o Alto Comando do Exército, que sempre jogou a engenharia e o IME para segundo plano.
Não apenas isso. Na guerra do Golfo, houve o enorme sucesso da Engesa (Engenheiros Especializados S.A), com seu carro de guerra Cascavel. A Avibrás montou reputação internacional com o sistema de artilharia Astros II. A Imbel (Indústria de Materiais Bélicos do Brasil) tornou-se um grande fabricante de armas, munições e equipamentos militares. E a Embraer tornou-se um dos maiores players globais de aviação – cujo controle quase foi vendido à Boeing no governo militar de Jair Bolsonaro.
Pouca coisa restou desse período. Agora, tem-se a Avibrás em processo acelerado de desmonte, com a possível venda para investidores estrangeiros. E não há nenhum movimento do governo ou das Forças Armadas para mantê-la no Brasil, podendo até invocar princípios de segurança nacional.
E tudo isso em um momento em que a nova corrida armamentista vai transformar a indústria de defesa no grande motor de investimento global.
Em 2024, os orçamentos de defesa europeus aumentaram 11,7% em termos reais. Dez anos atrás, havia a diretriz da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) dos gastos em defesa corresponderem a 2% do orçamento de cada país. Apenas três países cumpriram o requisito. Até o final de 2024, já eram 23 dos 32 membros da OTAN.
Quem irá se beneficiar desse movimento é o Japão e a Coréia do Sul, que apareceram como grandes exportadores de armas. O Japão iniciou sua indústria de defesa apenas em 2014. Já as exportações da Coreia do Sul foram de US$ 14 bilhões em 2023, entrando para o clube dos 10 maiores exportadores.
Um artigo de Eduardo Vasco, no Observatório de Geopolítica do GGN, trouxe um quadro amplo do que está ocorrendo. Na quinta-feira passada estava prevista uma cúpula especial de defesa da União Europeia, para debater os planos de expansão militar.
Em janeiro de 2024, o jornal Bild divulgou documento secreto das forças armadas alemãs prevendo uma guerra direta entre a OTAN e a Rússia no verão europeu de 2025. Em seguida, Robert Bauer, chefe do comitê militar da OTAN, declarou em uma reunião com os chefes militares dos países-membros: “precisamos de uma transformação da OTAN para a guerra”, segundo contou Vasco.
Enquanto isso, na licitação FX – dos caças da FAB – optaram por um caça sueco, influenciado pelo comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, sem nenhuma preocupação em relação à segurança nacional e às perspectivas comerciais. Não levaram em conta que motores e aviônica são produzidos nos Estados Unidos, que poderá vetar a venda de acordo com suas preferências geopolíticas.
Resta o submarino nuclear, cujo programa foi duramente afetado pela Lava Jato. Até agora foi entregue apenas um. Ainda não foi entregue o submarino Álvaro Alberto. Que na sua entrega a luz de Álvaro Alberto se espraia pelas Forças Armadas e abra espaço para seus cientistas voltarem a trabalhar em pesquisas avançadas.
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