É fascinante o atual momento do país. O que garante a nacionalidade é a base, a cultura popular, a música. Depois, a academia, o sistema educacional.
No alto da pirâmide, vive-se um momento similar ao da República Velha, a república dos coronéis. Altos funcionários públicos, mídia, Judiciário assumem a linha de frente dos interesses imediatos dos coronéis de mercado – o mais ostensivo dos quais é o executivo do BTG. Elimina-se o conceito de bem público. Assaltam empresas públicas, com processos de privatização mal-cheirosos, sob complacência geral das estruturas de poder e em ações claramente nocivas ao bem comum.
Nada funciona para deter essa sanha destruidora.
Tome-se o caso da Eletrobras, da Sabesp, das refinarias da Petrobras, todas vendidas sob argumentos nitidamente falsos, e aceitos como verdadeiros por uma hipocrisia sem fim.
Some-se o enorme grau de ignorância em relação ao interesse nacional, e uma falta de bandeiras que impede qualquer ação coletiva.
Um empresário sempre será a favor da precarização do emprego, porque reduzirá seus custos trabalhistas. A soma dos empregos precarizados, no entanto, afeta diretamente o mercado de consumo interno, impedindo o deslanche da economia. O correto seria um grupo de comando na elite – como os chamados fundadores dos Estados Unidos – pensando em conjunto, sobrepondo os interesses gerais sobre os particulares. Mas toda essa selvageria foi sancionada pelo Supremo Tribunal Federal, o que se pensava ser o último reduto da responsabilidade federativa,
E é um processo histórico. No início do século 20, Manoel Bomfim destrinchou esse paradoxo brasileiro. Liberal, admirador do modelo norte-americano, na época com o Estado indutor do desenvolvimento privado, escandalizava-se com a sanha financeira nacional, de criar crises terríveis, que depois se estendiam por toda a Nação e, em seguida, recorrerem aos “financistas” (como eram chamados os economistas da época), que se diziam portadores das últimas descobertas da ciência econômica e, com isso, desviavam a atenção da opinião pública dos verdadeiros motivos das crises e da estagnação da economia.
E fazem tudo isso em nome do liberalismo. Sufocam a atividade produtiva com níveis absurdos de juros, financeirizam tudo, impõem um enorme custo ao país, abarrotando-se com os juros da dívida pública, ou com os altos salários da elite do funcionalismo, desviando recursos dos verdadeiros fundamentos do desenvolvimento: educação, saúde, infraestrutura.
Depois, como esse inacreditável Luis Stuhlberger, um dos gurus do mercado, garantindo que nenhum país prosperará com a “gastança”. E gastança são gastos com saúde, educação e infraestrutura.
Criou-se uma nação de chupins, cujo comportamento chegou à classe média, que todo dia vai conferir o valor das cotas de seu fundo de investimento, reclamando quando a remuneração diminui.
Em um ambiente saudável, haveria juros baixos, a atividade produtiva se apresentaria como alternativa e a massa de recursos financeiros seria canalizada para empurrar o crescimento do setor produtivo.
Mas de onde virá essa força motriz, capaz de eliminar décadas de pensamento viciado? Tão viciado que, mesmo vítimas desse processo – como a indústria – através de suas lideranças, deblateram contra o juro alto, mas atribuindo a um déficit público praticamente inexistente.
Esse é o desafio brasileiro. E uma geração não parece ser tempo suficiente para acordar o gigante que, em um dia qualquer do início dos anos 90, parecia fadado a ser um dos líderes mundiais.
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