“Subir juros não é o caminho para o crescimento do país”, disse recentemente Décio Lima, presidente do Sebrae. A declaração ocorreu após a divulgação da mais recente ata de reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que não apenas manteve a taxa Selic em 10,5%, como também sinalizou um possível aumento nos próximos meses. “A alta está na mesa, sim, e a gente quer ver como isso vai se desdobrar”, afirmou o diretor de política monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo.
A preocupação de Lima é justificada. Um eventual aumento nos juros impactaria profundamente os micro e pequenos empreendedores, um dos alicerces da economia brasileira, e consequentemente a geração de empregos e a distribuição de renda. Segundo ele, o país está no rumo certo, os salários aumentaram e a qualidade de vida melhorou, por isso “a manutenção de uma taxa tão elevada prejudica diretamente aqueles que mais precisam de apoio para crescer”.
As consequências da política do Banco Central são sentidas especialmente por empresários localizados em regiões economicamente mais vulneráveis. No Nordeste, por exemplo, a taxa média de crédito para microempreendedores individuais (MEIs) já ultrapassa 50%, o que cria grandes dificuldades para o desenvolvimento desses negócios.
É preciso então questionar se há fundamento para tal medida, uma vez que a inflação está sob controle, sempre mantida dentro da meta. É bom também lembrar que a Selic, atualmente já em um patamar elevado, exerce forte pressão sobre o orçamento federal e a economia. Um novo aumento pode agravar a situação fiscal do país, pois os juros fazem subir de forma significativa o custo da dívida pública.
Quase R$ 1 trilhão pagos em juros
No acumulado de 12 meses até junho de 2024, o Brasil já gastou R$ 835,7 bilhões apenas no pagamento de juros da dívida pública. Em 2023, o valor chegou a R$ 1,89 trilhão. Esse montante teria sido melhor utilizado em áreas como saúde, educação e infraestrutura, a favor do povo brasileiro. Mas está indo para o mercado financeiro, que não cansa de celebrar o mandato de Roberto Campos Neto, indicado por Bolsonaro, à frente do Banco Central.
Em audiência recente no Senado, o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, enfatizou a necessidade de um equilíbrio entre a política monetária e as condições fiscais do país, e reforçou o alerta sobre o impacto da Selic na dívida pública. Segundo ele, a taxa alta “gera uma contaminação relevante” na economia, dificultando o crescimento e a expansão do crédito.
O que o Brasil necessita é de um Banco Central que vá na mesma direção do governo, pensando em uma política monetária que equilibre o controle inflacionário e a necessidade de promover o crescimento, reduzir as desigualdades e garantir a inclusão de brasileiros que dependem do apoio estatal para desenvolverem seus negócios. A queda na taxa de juros é um passo fundamental para isso.
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