O ataque ao PIX e a geopolítica dos Sistemas de Pagamento
por Gustavo Tapioca
Nos últimos dias, voltou a circular uma denúncia preocupante. A de que há uma articulação em curso para taxar o uso do PIX no Brasil. Mas, ao contrário de boatos anteriores, desta vez os sinais são concretos e o contexto é muito mais amplo do que parece. Por trás da tentativa de minar o PIX, esconde-se uma teia de interesses internacionais, pressões corporativas e uma aliança política com potencial de afetar a soberania brasileira e até mesmo a estabilidade democrática em países como Brasil e Estados Unidos.
O PIX como símbolo de soberania tecnológica
Criado por servidores públicos do Banco Central, o PIX é um dos sistemas de pagamento mais eficientes do mundo: gratuito, instantâneo, seguro e acessível. Em pouco tempo, revolucionou o sistema bancário brasileiro, diminuindo drasticamente o uso de cartões de crédito e transferências tarifadas. Enquanto os Estados Unidos ainda utilizam cheques e a Europa não possui nada similar em escala e eficiência, o Brasil deu um passo à frente com uma solução moderna e estatal.
Mas esse avanço também acendeu um sinal de alerta em setores poderosos. O sucesso do PIX impactou diretamente empresas como Visa e Mastercard, gigantes americanas que lucram bilhões com taxas em transações financeiras. Também contrariou os planos de big techs como Apple, Google e Meta, que apostam em seus próprios sistemas de pagamento — todos com taxas embutidas e, claro, altos lucros.

A ofensiva das big techs e a aliança político-empresarial
O desconforto dessas empresas não é apenas comercial. É também geopolítico. Há um projeto de poder — sobretudo impulsionado pela ala trumpista nos Estados Unidos — que visa manter a hegemonia da tecnologia americana sobre o resto do mundo. Nessa lógica, a existência de soluções soberanas como o PIX representa uma ameaça.
É aí que entra a política. Figuras como Donald Trump e Jair Bolsonaro compartilham interesses com essas corporações. Ambos enfrentam acusações sérias em seus respectivos países e enxergam na criação de inimigos externos uma estratégia eficaz de sobrevivência política. Ao apontar o Brasil como “ameaça à liberdade”, Trump distrai a opinião pública de seus próprios escândalos. Bolsonaro, por sua vez, se oferece como aliado incondicional, desde que isso lhe permita escapar da Justiça e manter alguma relevância política.
Eduardo Bolsonaro, por exemplo, tem atuado ativamente nos Estados Unidos, em articulações com setores conservadores e empresariais. Coincidentemente, ou não, surgem ameaças reais ao PIX e nenhum protesto por parte dos influencers bolsonaristas. O silêncio é revelador. Eles não estão de fora, estão dentro da trama.
A tentativa de enfraquecer o Brasil para favorecer lucros estrangeiros
A taxação do PIX não é um ato isolado. É parte de uma ofensiva maior contra a soberania brasileira. Já atacaram nossas exportações, tentaram desestabilizar nossa democracia e agora ameaçam uma das principais inovações públicas do país. Tudo isso serve aos interesses de empresas que não querem ser reguladas, que lucram com a desinformação, com o discurso de ódio, com fraudes e até com práticas ilegais. Responsabilidade não gera lucro — e elas sabem disso.
O custo da submissão
É fundamental entender que essa guerra não é entre povos, mas entre interesses. O povo brasileiro e o povo americano são as maiores vítimas desse jogo. Somos usados como peões em uma disputa por poder, lucros e controle tecnológico. Mas não podemos ser inocentes úteis. Precisamos enxergar a trama por trás dos discursos e identificar quem realmente se beneficia com a divisão, o medo e a mentira.

O Brasil não pode se calar
O ataque ao PIX é mais do que uma questão técnica ou financeira. É um ataque direto à autonomia do país, à sua capacidade de inovar e decidir seu próprio futuro. E como tal, exige resposta firme, unida e consciente. O Brasil precisa mostrar que não está dividido, que é capaz de se defender, não com ódio, mas com soberania, inteligência e união.
A luta agora é por informação, por clareza, por mobilização. É hora de compartilhar esse entendimento, de conversar com quem ainda não viu o que está em jogo. E de deixar claro para o mundo que aqui tem um povo que escolhe seu caminho. E que não vai aceitar ser manipulado por interesses estrangeiros, seja por Trump, Bolsonaro ou qualquer corporação que aposte na nossa submissão.
Gustavo Tapioca é jornalista formado pela UFBa e MA pela Universidade de Wisconsin. Ex-diretor de Redação do Jornal da Bahia. Assessor de Comunicação da Telebrás, Oficial de Comunicação do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e do IICA/OEA. Autor de Meninos do Rio Vermelho, publicado pela Fundação Jorge Amado.
O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected]. O artigo será publicado se atender aos critérios do Jornal GGN.
“Democracia é coisa frágil. Defendê-la requer um jornalismo corajoso e contundente. Junte-se a nós: https://www.catarse.me/JORNALGGN “