O economista da consultoria conhecida concedeu entrevista a O Globo, afirmando que nem aumento de Selic derrubará o dólar. Segundo ele, o problema é o déficit fiscal.

Décadas atrás, essa mesma consultoria foi incumbida de questionar um estudo do IPEA. O reestudo mostrou que, com o aumento do salário mínimo, 55% dos lares que possuíam aposentados e pensionistas, passaram a ser arrimo de família.

Isso significa que crianças entrariam mais tarde no mercado de trabalho, passando mais tempo na escola, com ganhos para educação. Redução da fome e, por consequência, das doenças, com ganhos para saúde. Redução das crianças cooptadas pelo crime.

Em suma, uma série de vantagens, pois significa legitimar o aumento do salário mínimo sob a ótica do gasto público: mais salário mínimo, menos gastos em saúde e segurança e maior eficiência na educação.

Houve um pânico geral no mercado, que contratou a mesma consultoria para tentar provar que o aumento do salário mínimo aumentava a propensão dos jovens à vagabundagem. O autor dessa tentativa foi o economista João Batista Camargo.

Para dar algum verniz de seriedade a essa tese, Camargo convidou o técnico do IPEA para co-autor. O trabalho entregue ao mercado, no entanto, confirmava todas as hipóteses do primeiro trabalho e deixava, como consolo, a possibilidade teórica – e não comprovada no trabalho – que poderia aumentar a propensão à vagabundagem.

Na época, foi o maior exemplo – dentre inúmeras – que o trabalho dessas consultorias, voltadas para o mercado financeiro, é apenas o de tentar dar legitimidade acadêmica a teses antissociais – geralmente falsas.

É o que acontece com essa inacreditável teoria das metas inflacionárias. Sua única função é preservar o capital do rentista e tratar, cada vez mais, de se apossar do orçamento – tal qual fazem seus irmãos-gêmeos do Centrão.

Temos que fazer tudo para equilibrar o orçamento, pois ele produz inflação que prejudica especialmente os pobres. Para tanto, nada de tributação sobre lucros e dividendos, nem alíquotas maiores para as camadas superiores de renda. Vamos reduzir o Bolsa Família, os Benefícios de Prestação Continuada, a geração de empregos (pois aumento de emprego provoca inflação), os investimentos em educação. Tudo em nome da proteção aos mais pobres.

Mais que isso, faz parte dessa lógica a total desregulamentação do mercado de câmbio e de seus derivativos. Permite-se a formação de cartéis – dos quais essas consultorias são os braços explícitos de montagem de movimentos de overshooting. E pretendem reescrever a Constituição a golpes de manipulação.

Não se pode aceitar uma taxa básica de juros de 6, 7, 8% acima da inflação. Não é natural. É humilhante para todo o país, diploma de subdesenvolvimento. São os grandes investidores do mundo todo que aparecem por aqui, literalmente tirando leite das crianças, educação dos jovens, saúde dos adultos.

A imensa dívida pública não foi criada com gastos em infraestrutura, em saúde, educação. É fruto exclusivamente dessa dependência colonial ao capital gafanhoto externo. Volta-se aos temos do Encilhamento, da República Velha.

Não se exige atos heróicos de um governo acuado pelo Centrão do Congresso e pelo cartel do mercado. Mas tem que mostrar, ao menos, que está estudando alternativas para defender o país do saque dos bárbaros.

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Last Update: 13/12/2024