Kamal Boullata nasceu em Jerusalém, cidade onde sua família vivia há gerações e que, após a ocupação sionista da parte ocidental em 1948, ficou dividida entre o domínio israelense e o jordaniano. Ele cresceu no Bairro Cristão da Cidade Velha, sob jurisdição da Jordânia, enquanto a porção ocidental da cidade era transformada pela colonização sionista.
Era o caçula de seis filhos do casal Burbara Ibrahim Atalla e Yusuf Isa Boullata, ambos também nascidos em Jerusalém. Casou-se com Lily Farhoud, com quem viveu seus últimos anos.
Ainda na infância, estudou no Collège des Frères, escola dirigida por uma congregação católica francesa, e depois na St. George’s School, uma das instituições anglicanas tradicionais da cidade, concluindo o ensino médio em 1960. Em um ambiente marcado pela ocupação e pela ausência de instituições voltadas às artes plásticas, Boullata iniciou seu percurso artístico de maneira autônoma, orientado pela prática da iconografia cristã, tradição viva na Cidade Velha.
Durante as férias escolares, seus pais o enviavam ao ateliê de Khalil al-Halabi (1889–1964), pintor de ícones que residia nas proximidades. Foi nesse espaço que o jovem Boullata aprendeu as técnicas tradicionais de pintura religiosa, baseadas na simetria, no uso do dourado e na geometria, elementos que mais tarde seriam reapropriados em sua obra com um caráter moderno. Paralelamente, desenvolvia interesse por cenas urbanas e do cotidiano, que registrava em aquarelas.
Seu talento foi reconhecido ainda na juventude: diplomatas jordanianos e outros visitantes começaram a adquirir suas obras, pintadas diante deles. Com os recursos obtidos nas exposições realizadas em Jerusalém e Amã, conseguiu financiar seus estudos na Itália, onde frequentou a Accademia di Belle Arti de Roma entre 1961 e 1965. Posteriormente, estudou na Corcoran School of Art, em Washington, entre 1968 e 1971.
Em 1974, deixou temporariamente os Estados Unidos para trabalhar como diretor de arte na editora Dar al-Fata al-‘Arabi, em Beirute. A editora, ligada ao Centro de Planejamento Palestino, tinha como objetivo produzir literatura voltada à juventude palestina. Boullata foi responsável pelos modelos gráficos utilizados nas publicações da instituição.
Viveu por longos períodos nos Estados Unidos (1968–1992), no Marrocos (1993–1996) e na França (1997–2012). Em 2012, foi eleito bolsista do Wissenschaftskolleg, em Berlim, onde permaneceu até sua morte, em 6 de agosto de 2019. Foi sepultado no cemitério do Patriarcado Ortodoxo Grego no Monte Sião, ao lado de seus antepassados.
Boullata realizou pesquisas de campo sobre arte islâmica no Marrocos e na Espanha, com bolsa da Fulbright (1993–1994), e sobre pintura pós-bizantina na Palestina, com financiamento da Fundação Ford (2001). Suas obras incorporam elementos geométricos, caligrafia árabe e referências religiosas, muitas vezes extraídas do Alcorão ou de fontes sufi. Essa combinação foi objeto de análise por críticos literários e especialistas em arte árabe contemporânea.
Suas obras fazem parte de coleções em instituições como o Museu Britânico, o Instituto do Mundo Árabe (Paris), a Biblioteca Pública de Nova Iorque, a Jordan National Gallery of Fine Arts (Amã), o Museu da Alhambra (Granada) e o Zimmerli Art Museum (Nova Jérsei).
Além da produção artística, publicou textos em árabe e inglês em revistas acadêmicas e catálogos de exposições, como Journal of Palestine Studies, The Muslim World, Third Text, Cuadernos de Arte e Mundus Artium. Seus textos foram traduzidos para o francês, alemão, italiano, hebraico e espanhol.