O ‘antirracismo’ neoliberal e pró-imperialista — parte 1

No dia 15 de dezembro, o portal do Sindicato dos Professores no Distrito Federal (Sinpro-DF) publicou um texto de autoria do professor Adeir Alves, no qual apresenta uma crítica ao que supostamente foi dito pelo presidente nacional do Partido da Causa Operária (PCO), Rui Costa Pimenta. Dizemos “supostamente”, pois o autor não diz nem se dá ao trabalho de citar diretamente o que teria sido dito pelo dirigente.

Essa é uma característica presente ao longo de todo o texto. Em vez de realizar um debate honesto, em vez de procurar explicar por que as posições de Rui Pimenta estariam erradas, o autor, em um surto histérico, procura apenas desqualificar a posição do PCO, reproduzindo um método típico da imprensa capitalista.

Os sete primeiros parágrafos não fazem referência a qualquer ideia defendida por Rui Costa Pimenta. São um conjunto de definições prévias presentes na cabeça do próprio autor. O próprio modelo do texto já expressa, portanto, a sua motivação: Adeir Alves está incomodado porque o que o presidente do PCO falou não se enquadra no esqueminha mental que ele criou para si.

Alves inicia o texto se queixando de que “é muito comum em alguns discursos a presença do ‘racismo não racista’”. Segundo ele, isso seria um tipo de discurso” que “procura diminuir a gravidade do racismo enaltecendo outro fator como sendo mais relevante, ou também quando elege uma pseudo solução generalista para uma infinidade de problemas que não são diretamente raciais”.

Para ele, portanto, o racismo seria um problema de “discurso”. Ou, poderíamos dizer, um problema de ideias. Aquele que tem ideias “certas” de acordo com a cartilha antirracista de Alves seria antirracista, aquele que não as tem, seria racista.

Se esta fosse a verdade, precisaríamos, em primeiro lugar, perguntar: quem elegeu Alves como o juiz do antirracismo? Por que ele é quem define o que é racismo ou não? Alves considera que só ele sabe o que é racista e o que não é porque vê o mundo a partir de seus interesses, e não a partir da realidade objetiva.

Esse raciocínio conduz à barbárie. A defesa de que “apenas a minha ideia é pura” é a defesa de que quem pensa diferente deve ser forçado a mudar de ideia. Em último caso, conduz às fogueiras da Santa Inquisição.

Ocorre que o racismo não é discurso, não é uma ideia em si mesmo. Ela é mero reflexo das condições materiais do desenvolvimento social. O racismo existe porque, historicamente, o negro vive em condições econômicas e sociais inferiores ao restante da população. Existe o racismo porque, em um determinado momento, o negro foi dominado.

O negro não foi dominado porque surgiu a ideia do racismo, o que seria, em si, absurdo. Se fosse assim, o autor teria que demonstrar quem teve essa ideia e como ele fez para convencer os brancos e os negros a aceitarem…

Uma vez estabelecida a origem do problema do negro, que é a sua opressão econômica, passemos a analisar a ideia em si do “racismo não racista”. Seria um procurar “diminuir a gravidade do racismo enaltecendo outro fator como sendo mais relevante”. Aqui, fica claro o uso que o autor faz do racismo. Para ele, trata-se de uma competição para determinar quem seria o mais “oprimido”.

Afinal, aquele que detiver esse “título” poderá melhor censurar os seus opositores, rotulando-os como menos “oprimidos”.

Para um acadêmico e um identitário como Adeir Alves, pode ser que importe a discussão sobre a “gravidade” e a “relevância” do racismo. Para a luta política — isto é, para a defesa real dos negros —, não é isso o que importa. O que importa é a compreensão dos motivos que levam à opressão do negro — e, portanto, ao racismo.

No final das contas, a acusação do autor serve, acima de tudo, para fugir deste debate. Não há uma crítica séria sobre o programa do PCO. Não há um debate sério sobre a luta contra a sociedade capitalista, contra a política neoliberal, contra o aparato de repressão estatal.

O que nos leva a concluir que o verdadeiro objetivo do autor em seu texto é interditar o debate em torno do programa revolucionário. É não defender o fim da polícia, é não defender a Venezuela, é não defender o fim da ditadura do Supremo Tribunal Federal (STF), é não defender o fim do monopólio da imprensa capitalista, é não criticar a política de Fernando Haddad frente ao Ministério da Fazenda.

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