Este texto não é sobre amor
Lula tentou dar amor a Hugo Motta. Amor mesmo, com a paciência dos convertidos, os cargos dos generosos e a camisa de linho branco que até o mês passado, lá no campo, ainda era flor. Quis vê-lo brotar como aliado, vestir o uniforme simbólico do governo, encarnar a promessa de uma coalizão possível. E Hugo até encenou, posou ao lado, sorriu no Palácio, fez a coreografia do bom moço institucional. Mas bastou o vento do Centrão soprar para que ele voltasse correndo ao colo certo.
Foi acolhido pela guarda compartilhada de Arthur Lira e Eduardo Cunha, dois pais experientes em criar filhos políticos à base de chantagem, relatoria e orçamento. Com eles, Hugo não precisa fingir fidelidade, nem decorar discursos. Basta votar contra quando for conveniente, escalar bolsonaristas para relatorias sensíveis e, se questionado, lembrar que está dialogando.
Lula, acostumado a atravessar traições com pragmatismo, talvez tenha acreditado que um gesto de confiança valesse mais que um histórico. Ofereceu palco, prestígio e paciência. Hugo respondeu com emboscada. Nas entrelinhas, sua atuação revela uma escolha clara, entre um governo que ainda insiste em amor político e um sistema que só reconhece o interesse como linguagem, ele ficou com o segundo.
A bolha governista reagiu com frustração. Parte das redes vibrou com a derrota do governo, outra mal percebeu. O Congresso, cada vez mais impermeável à opinião pública, seguiu seu roteiro. E Lula subirá ao STF, não apenas para reverter o decreto, mas para mostrar que a institucionalidade também se protege. Não é impulso, é método. O presidente não bate na mesa, ele assina. Não esbraveja, age. E no silêncio entre uma foto e uma votação, deixa claro que quem se opõe ao governo se opõe ao povo.
Lula sabe que o amor oferecido é uma moldura. Dentro dela, desenha uma lição: quem joga contra o Brasil que trabalha e come, contra o Brasil que sonha e luta, não ganha. Nem a curto, nem a longo prazo. Hugo é jovem. E Lula aposta que ele ainda não quer virar cinza antes do tempo.
