Os jornais das corporações repetem com o irmão de Lula o que já fazem há muito tempo com ‘o ministro de Lula’, quando um dos integrantes do primeiro escalão, sempre das cotas da direita, fica sob suspeita de ter cometido algum delito.
Todos os que estiverem perto de Lula, por ocupação de cargos ou parentesco ou amizade, serão sempre os primeiros alvos dos jornalões. Como acontece com Janja.
José Ferreira da Silva, o Frei Chico, é vice-presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi). E o sindicato aparece nas listas dos jornalões com as entidades que descontam mensalidades de aposentados.
O irmão de Lula é a pessoa mais citada em todas as manchetes (mais até do que Antônio Carlos Camilo Antunes, o Careca do INSS, o chefe da quadrilha dos descontos ilegais), desde que descobriram que Chico é dirigente do Sindnapi. E mesmo que nada exista de concreto contra ele, porque nem investigado é.
Só que agora não tem quem tire Frei Chico das manchetes. Não adianta dizer, como todos os jornais dizem, mas só nos cantinhos, que as fraudes cresceram em 2019, logo depois que Bolsonaro assumiu.
Até porque os jornais dão essa informação, de que a estrutura dos descontos se aperfeiçoou a partir do governo de Bolsonaro, mas o nome do chefe do golpe não aparece. O que aparece é o irmão de Lula.
A Folha deu essa manchete na capa da versão online durante toda a tarde de quarta-feira: “Ex-ministro citado pela PF no caso foi assessor de deputados de PL e MDB e filiado ao PSD”.
Se tivesse seguido o padrão das manchetes contra Lula, deveria ter escrito: “Ex-ministro de Bolsonaro, citado pela PF no caso, foi assessor de deputados de PL e MDB e filiado ao PSD”. O bolsonarista enrolado é José Carlos Oliveira, ex-ministro do Trabalho e Previdência de março a dezembro de 2022.
O problema é que, para tirar o irmão de Lula das manchetes, não adianta encontrar um similar da extrema direita que possa dividir as chamadas nos jornalões. Não resolve encontrar um irmão de Bolsonaro. Não adianta nada.
A repórter Juliana Dal Piva mostrou no UOL, com provas, em agosto de 2022, que Bolsonaro e os filhos dele compraram 51 imóveis com dinheiro vivo. Não uma Fiat Elba, mas 51 imóveis. E não aconteceu nada. Nada.
A fortuna imobiliária dos Bolsonaros foi provada por Juliana com 1.105 páginas de 270 documentos de cartórios de 16 municípios. As compras com dinheiro vivo totalizaram R$ 25,6 milhões em valores corrigidos até 2022.
Logo depois, o próprio Bolsonaro afirmou em live que havia alertado seus irmãos de possível busca e apreensão em imóveis da família. Porque os irmãos tiveram os nomes usados como donos de imóveis comprados com dinheiro vivo. Não houve busca nenhuma.
Um irmão de Bolsonaro, sem a fama de Frei Chico como militante sindical e comunista, não vale manchete. Nem os nomes dos irmãos do sujeito, citados como donos de imóveis comprados com pacotes de dinheiro da família, foram mencionados.
Por isso não vai ser fácil tirar o nome do irmão de Lula das manchetes. Porque essa é a conexão que os jornais esperavam, de Lula com alguém que tenha relação com um sindicato considerado suspeito. Um irmão é o troféu que as corporações de mídia não irão largar facilmente.
Nem se a Polícia Federal descobrir que o irmão de Lula foi o primeiro a denunciar as fraudes, nada impedirá que ele continue nas manchetes. Frei Chico é o que eles têm para manter Lula sob pressão, agora com ameaça de CPI.
Chico só poderá sair das manchetes se algo mais espetacular aparecer nos próximos dias, e somente será espetacular, pelo ponto de vista dos jornalões e da direita, se for contra Lula.
Hoje, não há como tirar o irmão de Lula das capas, mesmo que seja declarado inocente. E pode vir aí a CPI do INSS, onde as palavras mais repetidas serão o irmão de Lula.
Defender-se é pouco. Há o que fazer? Numa situação normal, haveria. Mas já não há normalidade nem dentro das UTIs.
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