Com um cortejo de frevo no tapete vermelho e aplausos que duraram 15 minutos após a sessão, O Agente Secreto, novo longa de Kleber Mendonça Filho, fez sua estreia mundial no último domingo (18), no 78º Festival de Cannes, e já desponta como um dos favoritos à Palma de Ouro. O filme, protagonizado por Wagner Moura, mistura suspense, política e memória em um Brasil dos anos 1970 ainda marcado pelos traumas da ditadura militar.
A recepção calorosa, que incluiu elogios da crítica internacional e comparações com obras como Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, reforça o peso da produção. Com filmagens em Recife, Brasília e São Paulo, e pós-produção na Europa, o longa é uma coprodução entre Brasil, Alemanha, França e Holanda. O financiamento contou com apoio do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) e do Ministério da Cultura.
Antes da exibição no Grand Théâtre Lumière, o elenco e a equipe técnica — entre eles Maria Fernanda Cândido, Gabriel Leone, Alice Carvalho, Carlos Francisco e a produtora Emilie Lesclaux — atravessaram o tapete vermelho ao som de uma orquestra de frevo. O grupo pernambucano Guerreiros do Passo transformou a entrada no festival em uma celebração da cultura brasileira. A ministra da Cultura, Margareth Menezes, também dançou junto com o elenco. Veja abaixo:
“O Guerreiros do Passo foi uma das coisas mais lindas que aconteceram na minha vida nos últimos anos”, declarou Kleber Mendonça Filho. “É uma real transposição de música e de energia para uma outra cultura, que é a da França. A gente fazer isso em Cannes fala muito da força da música, da dança e do cinema”, disse ao g1.
Um thriller em meio à repressão
Ambientado na Recife de 1977, O Agente Secreto segue Marcelo (Wagner Moura), um engenheiro de tecnologia que retorna à cidade natal tentando fugir de um passado nebuloso. Ao invés de paz, ele encontra um país sufocado pelo regime militar. A história mistura ficção com o peso da história recente, revelando como a repressão política se infiltra nas esferas mais íntimas da vida.
A tensão domina as cenas reveladas até agora: em uma delas, Marcelo encara um cadáver à luz crua de um posto de gasolina. Em outra, é confundido com um policial infiltrado. A atmosfera densa e o roteiro afiado costuram uma crítica ao autoritarismo com um retrato amargo da memória nacional.
Críticos como David Ehrlich, do IndieWire, classificaram o filme como “monumental” e destacaram sua abordagem sensível e provocadora da violência de Estado. “Se ‘Ainda Estou Aqui’ denuncia o desaparecimento de Rubens Paiva, O Agente Secreto mostra como a memória resiste, mesmo quando tentam apagá-la”, escreveu.
Kleber Mendonça Filho, que já esteve na disputa pela Palma de Ouro com Aquarius (2016) e Bacurau (2019), volta ao festival em grande estilo. Ainda sem data de estreia no Brasil, O Agente Secreto já é apontado como potencial candidato ao Oscar.
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com agências