Publicado na golpista Folha de S. Paulo, o artigo O 13 de maio é dia de festa?, de autoria da jornalista identitária Ana Cristina Rosa é uma pérola e ao mesmo tempo, uma obra reveladora dos interesses reais do identitarismo na despolitização dos povos que seus adeptos juram defender. Com a proximidade da data histórica, que marca a vitória da mobilização pelo fim da escravidão, a jornalista simplesmente passa uma borracha em fenômenos marcantes como o movimento dos caifazes, responsável por enfrentamentos muito radicalizados contra os latifundiários.

No auge da mobilização liderada pelos caifazes, tropas do Exército foram mobilizados para derrotar a ala mais radical da campanha abolicionista, mas se recusaram a atender os oficiais, matando um major em apoio aos negros. Indiferente à história real, Rosa traz a seguinte consideração sobre a data:

“O 13 de maio de 1888 foi um dia de festa para milhares de pessoas à época mantidas sob o jugo da escravização no Brasil, mas o dia seguinte à promulgação da Lei Áurea (com seus apenas dois artigos) institucionalizou o abismo étnico-racial entre negros e não negros no país. Não é preciso ser negro para saber (ou ao menos intuir) os motivos que levaram à substituição da comemoração da abolição pela reflexão atual sobre o impacto pernicioso dos termos da libertação.”

O texto de Rosa parte de uma premissa equivocada, ao destacar que o 13 de maio de 1888 foi uma festa para os escravos, mas que a promulgação da Lei Áurea institucionalizou o abismo étnico-racial entre negros e não negros no país. Ora, como se a escravidão não fosse, ela mesma, a expressão máxima desse abismo? A autora claramente não se deu ao trabalho de refletir sobre o que defende.

Concretamente, a abolição da escravidão representou um enfraquecimento desse “abismo étnico-racial institucionalizado”, e não sua consolidação. A própria escravidão poderia ser considerada a forma mais extrema desse abismo, e sob qualquer ponto de vista possível, sua derrota foi, acima de tudo, um passo decisivo para a igualdade entre negros e brancos, algo até lógico.

Rosa, no entanto, não enxerga dessa forma. Como identitária, a luta real dos escravos pela própria liberdade parece interessar menos à autora, o que fica evidente no parágrafo seguinte:

“Apesar disso, Brasil afora o dia 13 de maio ainda é motivo de muita festa. Mas não tem nada a ver com a princesa Isabel, é bom ressaltar. Entre adeptos de religiões de matriz africana, a data é dedicada à celebração dos Pretos Velhos, entidades que representam a sabedoria ancestral dos anciões negros que sofreram os horrores da escravização.”

Esperta, Rosa não fala abertamente, mas sua manobra para criticar e evitar críticas é evidente. O que a jornalista da Folha faz no seu texto é desmerecer a luta contra o fim da escravidão e, pior, colocando em contraponto o fato de que o 13 de Maio seria celebrado não por motivos políticos, mas por causa de religiões de matriz africana. Trata-se de uma loucura. Segundo o Censo de 2010 do IBGE, menos de 600 mil pessoas no Brasil, ou cerca de 2% da população, seguem religiões como umbanda, candomblé e outras de matriz africana. Isso torna a declaração de que o 13 de Maio é amplamente celebrado por causa dos Pretos Velhos uma fantasia identitária.

Na realidade, o 13 de maio é celebrado em todo o País pela conquista histórica de reconhecimento social. A data marca um dos movimentos mais revolucionários da história brasileira: o momento em que a luta dos caifazes, que, de forma literal, incendiou a nação, abalou decisivamente a disciplina do Exército para conquistar o fim da escravidão, tendo o apoio das tropas e mesmo de oficiais de patente elevada, como o futuro Ministro da Guerra do Brasil Benjamin Constant. Essa luta, porém, não parece interessar aos identitários.

Em vez disso, eles focam em questões secundárias, como substituir “escravos” por “escravizados” ou criticar a onda de imigração europeia — um fator de progresso para o País — como se tivesse relação com uma suposta institucionalidade racista. Essas ideias, embora proclamadas, não são comprovadas, sendo úteis para vender livros, ganhar espaço em museus e acima de tudo, para despolitizar os alvos dos identitários, que no caso em questão, é a população negra.

O que a agitação identitária tenta esconder, mas não consegue, é que existiu escravidão no Brasil até 1888 e isso só mudou com luta real, com mobilização popular e um intenso trabalho de agitação política voltada aos interesses concretos dos escravos, não a debates estéreis sobre datas e suposta ancestralidade do que quer que seja. Da mesma forma, com luta revolucionária, os “escravos modernos” — a classe trabalhadora, negra e não negra — conquistará a libertação, não apenas para si, mas para todo o povo brasileiro.

Essa é a única forma de alcançar direitos, melhorar o padrão de vida e pôr fim a toda forma de opressão, uma consequência direta da luta resoluta pela emancipação do povo. Isso, porém, é tudo o que o imperialismo não quer ver prosperar. Daí a preocupação em alugar penas de pessoas com mais autoridade para defender a política dos banqueiros junto à população negra do que os Frias, donos da Folha, estes sim, interessados nas sandices defendidas por Rosa.

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Last Update: 12/05/2025