Novo presidente da Polônia tem passado obscuro

Quando, em 25 de novembro de 2024, o partido ultraconservador Lei e Justiça (PiS) anunciou o nome de seu candidato à Presidência da Polônia, não foram apenas os meios de comunicação que ficaram surpresos. Muitos dentro do próprio PiS também não conheciam Karol Nawrocki. Suas primeiras aparições geraram apreensão – ele parecia duro, tinha pouca habilidade retórica, lia seus discursos no papel e ostentava um sorriso forçado.

Seu adversário, o prefeito de Varsóvia e centrista pró-UE Rafal Trzaskowski, parecia já estar com a vitória garantida antes mesmo de a campanha começar para valer. De início, Trzaskowski aparecia nas pesquisas com vantagem de dez pontos percentuais ou até mais.

Mas, com o tempo, a aposta do presidente do PiS, Jaroslaw Kaczynski, se revelou acertada. O próprio Nawrocki admitiu ser uma “criação de Kaczynski”. Ele foi apresentado ao eleitorado como um “candidato cidadão” que a sigla apenas “apoiava”, mas sem filiação partidária e independente. O truque visava enganar os eleitores que não se esqueceram das violações do Estado de direito e do caos no sistema tributário durante os oito anos de governo do PiS (2015–2023).

“Nawrocki evoluiu enormemente em termos retóricos. Ele aprende rápido com os próprios erros. Por isso é tão perigoso”, afirma o cientista político Antoni Dudek.

Um homem de origem humilde

Natural de Gdansk, Nawrocki, 42 anos, tem origem humilde. Formado em história, ele obteve o doutorado com uma tese sobre a oposição anticomunista no nordeste da Polônia. Em 2017, foi encarregado de reformular o Museu da Segunda Guerra Mundial em Gdansk – instituição criada por especialistas ligados ao atual primeiro-ministro polonês, Donald Tusk – para adequá-la aos moldes ideológicos do PiS. A reforma foi caracterizada por demissões e pela “polonização” da exposição permanente, considerada pouco patriótica.

Em 2021, o PiS conseguiu fazer de Nawrocki chefe do Instituto da Memória Nacional (IPN), órgão dedicado à história moderna da Polônia e que investiga crimes cometidos desde a Revolução Russa de 1917 até o fim da era comunista, em 1990.

O influente instituto tem um papel importante na disputa pela memória nacional e foi utilizado pela ultradireita polonesa como instrumento de propaganda. Nawrocki chefiou o IPN até recentemente.

Trump como modelo: Polônia em primeiro lugar

Nawrocki fez campanha sob o lema “Primeiro a Polônia, primeiro os poloneses”. Aos eleitores, apresentava-se como um homem “de carne e osso” que ascendeu por mérito próprio. “Eu sou um de vocês, sou a sua voz”, repetia com frequência em comícios. Fã assumido do presidente americano Donald Trump, ele viajou a Washington no início de maio para tirar uma foto ao lado dele no Salão Oval.

Karol Nawrocki e Donald Trump se encontram no Salão Oval da Casa Branca.
Foto: Joyce N. Boghosian/Divulgação/Casa Branca

Assim como seu mentor Kaczynski, Nawrocki vê a União Europeia como uma ameaça à soberania da Polônia e é crítico ferrenho do acordo verde e do pacto migratório da UE – mas evita usar a palavra “Polexit”. Durante a campanha eleitoral, por vezes recorreu a um discurso hostil à Alemanha e até acusou Tusk de ser um “criado” do país vizinho. E, diferentemente de Tusk, Nawrocki vê a ajuda internacional à Ucrânia com ceticismo.

Passado hooligan

Nawrocki tem no boxe amador uma de suas paixões. Na juventude, conquistou alguns sucessos na categoria peso-pesado. A mídia polonesa o acusa de ter mantido, no passado, contatos com a cena dos hooligans e com o submundo do crime. Ele próprio admitiu ter participado de pelo menos uma pancadaria entre torcedores de dois times de futebol, pela qual vários participantes foram condenados – Nawrocki, no entanto, não foi identificado à época.

O político, que na juventude chegou a trabalhar como segurança particular, foi acusado ainda de ter acompanhado prostitutas até o luxuoso Grand Hotel em Sopot, segundo o portal de notícias ONET. Ele também teria se apropriado indevidamente de um apartamento municipal. O futuro presidente rejeita as acusações, classificando-as como difamação.

“Nawrocki não tem nem os pré-requisitos morais, nem a competência técnica para se tornar chefe de Estado”, afirma Dudek, que presidiu o Conselho do IPN entre 2010 e 2016, antes da chegada do PiS ao poder.

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