A cena da música Funk, a produção de podcast em favelas, a construção de uma produtora do gênero, jovens aspirantes a artistas, dançarinas, cantoras, cantores, MCs e DJs, produtores e empresários: Funk Favela, de Kenya Zanatta, apresenta esses personagens e processos sob a perspectiva deles mesmos, desde as dificuldades à prosperidade do gênero. O filme de 71 minutos rompe com o formalismo no tratamento da cena.
O lançamento inédito do In-Edit Brasil – Festival Internacional do Documentário Musical, que ocorre até 23 de junho em São Paulo, pode ser visto também gratuitamente na plataforma de streaming Itaú Cultural Play nos fins de semana.
A ambientação é na periferia de São Paulo. Jovens buscam o sonho de serem artistas de sucesso, apesar do grande preconceito fora de seu universo social. Thiagson, professor de música e pesquisador, fornece no filme uma explicação a partir do olhar de quem está no movimento.
“A música incomoda porque mexe com as estruturas políticas. A maneira como se canta o crime, a maneira como se canta a sexualidade”, avalia. “A gente sabe que as pessoas não gostam não é da música em si, mas de onde ela vem.”
“A música representa grupos sociais. Quando a gente ouve rock, quando a gente ouve sertanejo, quando a gente ouve funk no Brasil, a gente já sabe qual é o grupo social que faz aquela música – e existem tensões entre os diversos grupos. No fundo, é o preconceito contra pobres favelados pretos de baixa renda.”
O filme destaca a diversidade de personagens abordados, o tratamento dos contrates do gênero e o desencadeamento do negócio do funk, algo ainda pouco aprofundado, mas já visível pela forma como ocupa espaço nas periferias dos grandes centros urbanos.
O que se observa neste bom documentário é como uma parcela de jovens da periferia já não resiste mais a buscar a inserção dentro de seu próprio grupo social. Antes, a ideia de inclusão focava em ocupar um terreno na estrutura social e econômica dominante no País.
Funk Favela é mais um filme que revela como o gênero musical tem sido elemento de transformação da periferia, a despeito de muitos preferirem fechar os olhos para isso.