As tarifas de 50% impostas por Donald Trump às exportações brasileiras estão provocando reações intensas nos Estados Unidos e no Brasil. O economista Paul Krugman, vencedor do Nobel de Economia, classificou a medida como “diabólica e megalomaníaca” e afirmou que, em uma democracia funcional, seria motivo suficiente para um processo de impeachment contra o presidente dos EUA.
A decisão de Trump foi anunciada em um documento publicado em suas redes sociais, endereçado diretamente ao presidente Lula (PT). No texto, o republicano critica o julgamento de Jair Bolsonaro (PL) no Supremo Tribunal Federal (STF), chamando-o de “vergonha internacional”, e exige que o processo contra o ex-presidente brasileiro “acabe imediatamente”.
“É uma Caça às Bruxas que deve acabar IMEDIATAMENTE!”, escreveu Trump, defendendo seu aliado político, a quem chamou de “líder altamente respeitado”.
“Trump tenta proteger aspirante a ditador”
A resposta de Krugman veio em forma de um artigo publicado em seu blog pessoal, sob o título “Programa de Proteção a Ditadores de Trump”. Para o economista e colunista do The New York Times, a taxação não tem qualquer fundamento econômico. “Trump mal finge que há uma justificativa econômica para sua ação. É sobre punir o Brasil por julgar Jair Bolsonaro”, declarou.
Em tom crítico, Krugman descreveu Bolsonaro como um “aspirante a ditador” que tentou “se manter no poder por meio de um golpe” após perder as eleições, em uma referência direta à tentativa de subverter o resultado das urnas em 2022. “Claro que soa familiar”, ironizou o economista, comparando o caso brasileiro à invasão do Capitólio nos EUA, em 2021.
Krugman ainda destacou que Trump está tentando usar tarifas comerciais como arma política para intimidar um país soberano, com mais de 200 milhões de habitantes. “O Brasil tem na China seu principal parceiro comercial. As exportações para os EUA representam apenas 11,4% do total. Trump realmente imagina que pode intimidar uma nação que sequer depende tanto do mercado americano, para que abandone a democracia?”, questionou.
Histórico de manipulação política via comércio
O economista relembrou que os EUA já usaram políticas comerciais com fins políticos no passado. “O sistema de comércio internacional criado após a Segunda Guerra foi pensado para fortalecer a paz e a democracia no mundo. Era um objetivo nobre. Trump inverte completamente esse princípio”, afirmou Krugman.
Segundo ele, a nova investida de Trump visa instrumentalizar tarifas para ajudar outro “projeto de ditador”, colocando os Estados Unidos em oposição aos valores democráticos. “Se você ainda pensa nos EUA como um dos mocinhos do mundo, isso deve te mostrar de qual lado nós estamos atualmente”, sentenciou.
Crise diplomática à vista
A ofensiva de Trump, em um contexto de pré-campanha eleitoral nos EUA, expõe uma tentativa explícita de usar relações exteriores para fins ideológicos e pessoais. Para Paul Krugman, a medida agride os fundamentos democráticos e econômicos dos dois países e escancara o risco de governos autoritários utilizarem a política comercial como ferramenta de chantagem internacional.