O presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, apresentou aos senadores da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) nesta terça-feira (22/4) as diretrizes, a estratégia de implementação e as perspectivas da política monetária. Essa é a primeira audiência pública da Galípolo após ser aprovado pelo Senado, em outubro do ano passado, para assumir a presidência do BC no quadriênio 2025-2028.
Durante sua apresentação, Gabriel Galípolo afirmou que a normalização da política monetária vai demandar uma série de reformas contínuas, entre elas a ampliação do acesso da população a um crédito de menor custo.
Ele também destacou o que chamou de “crescimento excepcional” do Brasil, com a resiliência econômica, apesar da elevada taxa de juros e das incertezas com o cenário internacional após o anúncio da política de tarifas adotada pelo presidente dos Estados Unidos.
Além disso, o presidente do BC concordou com o apelo dos senadores do PT sobre a necessidade de ampliação do debate para buscar soluções que permitam a redução da taxa de juros praticada no país.
“A maneira que se aprendeu a conviver é que foi se criando vacinas para alguns setores para eles poderem conviver com o juro mais elevado. O problema é que quando se cria essas vacinas você protege um setor específico e cria uma exceção. Algo que acontece também no regime tributário. Só que alguém não tem vacina, como o Tesouro Nacional. Então a normalização da política monetária é essencial para que possa fornecer um horizonte para quem vai investir aqui, produzir ganho de produtividade, crescimento sustentável ao longo do tempo”, explicou.
“Às vezes uma empresa consegue pagar um juro abaixo do juro do título soberano. E de outro lado, existem famílias que pagam taxas que são muitas e muitas vezes a taxa Selic. Acabou se incorporando [o crédito rotativo] como uma fatia da renda da população. Daí pensar em instrumentos que você possa oferecer mais garantias para que o custo de capital possa cair de uma maneira estrutural é bem-vindo. Porque consigo sair daquele crédito usado de maneira equivocada, e as famílias têm uma percepção de redução de custo, além de quem concede o crédito tem uma redução de percepção de risco. Pensar numa alternativa é importante”, emendou Galípolo.
Oposição recorre ao complexo de vira-lata para mentir para a população
O líder do PT no Senado, Rogério Carvalho (SE), fez uma dura crítica aos parlamentares de oposição ao governo Lula que fazem malabarismos para distorcer a realidade e tentar fazer a população crer que o governo Lula tem piorado o cenário econômico do país.
“Estamos falando de um país que saiu da 13ª posição para um país que está entre as 10 maiores economias do mundo, e é a 6ª maior economia mundial em transação comercial. Não estamos falando de uma catástrofe, do fim do mundo. Esse sentimento que passam para o povo para fazer política, de que estamos sempre no fim do mundo, é sempre o velho complexo de vira-latas que vão buscar para quebrar a autoestima do brasileiro”, criticou Rogério.
“Eu me recuso a abater a autoestima do nosso país no momento em que a gente tem menor desemprego, crescimento a uma taxa de aproximadamente 3% ao ano”, emendou.

O senador Rogério Carvalho também criticou o silêncio cúmplice dos parlamentares bolsonaristas que apoiaram publicamente a eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos e se calaram após a implementação da política de tarifas que podem impactar a economia nacional.
“Aqueles que nos acusam não conseguem falar nada sobre o que acontece no mundo, mas colocaram o boné do Maga. Essa tragédia traz instabilidade para todos. E nada está sendo dito sobre isso. Esse que era o farol desses ideólogos, está querendo acabar com a autonomia do Federal Reserve – o equivalente ao Banco Central nos Estados Unidos. O trumpismo era a outra face do bolsonarismo no Brasil. Como que convive com tanta contradição?”, questionou o líder do PT.
O presidente do BC, Gabriel Galípolo, apontou que a política implementada por Donald Trump vai “bagunçar” o trabalho do Federal Reserve (FED). Segundo ele, o cenário internacional, conturbado pelo tarifaço aplicado Trump, tem sido o “principal vetor” da dinâmica dos preços de mercado.
Sobre a guerra tarifária, Galípolo avaliou que, em comparação com os outros países emergentes, “pode ser que o Brasil sofra menos, pela sua diversificação, e pela relevância do mercado doméstico por seu dinamismo”.
Solução para juros elevados aumentará competitividade do país
O líder do governo Lula no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), indagou se o Brasil está utilizando inteligentemente a busca de competitividade. O senador utilizou uma afirmação feito pelo próprio presidente do BC, Gabriel Galípolo, para provocar os colegas senadores a enfrentarem um debate mais amplo na busca de caminhos que permitam ao país conviver, no longo prazo, com menores taxas de juros e, consequentemente, ampliar a competitividade do Brasil.
“Esse é um problema para todo mundo, independente se o cidadão é liberal, conservador, progressista. O problema dos juros foi relatado por um empresário e é relatado como um agente no endividamento das famílias. Acho que estamos deixando os juros altos no Brasil virarem quase um vício. Queria lançar e aprofundar esse debate”, sugeriu o senador.

O presidente da CAE, senador Renan Calheiros (MDB-AL), utilizou o exemplo do debate que culminou na rápida aprovação da proposta de reciprocidade econômica, aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo presidente Lula, para concordar com o senador Jaques Wagner acerca da necessidade de o Parlamento se debruçar sobre a política de juros.
“Em temas econômicos poderemos produzir consensos. Como essa comissão tem uma previsão constitucional, ela pode garantir celeridade na discussão e apreciação de alguns temas. O que aconteceu com a lei da reciprocidade demonstra que poderemos obter os mesmos resultados em outros temas de interesse público que podem se colocar acima dos interesses partidários”, apontou.