Foto: kátia Marko/ Setor de Comunicação MST no RS

Da Campanha Permanente contra os agrotóxicos e pela vida

Durante os dias 20 a 22 de fevereiro, aconteceu no Instituto de Educação Josué de Castro, no Assentamento Filhos de Sepé, em Viamão-RS, o IV Seminário de Formação em Direitos Humanos Região Sul. A atividade contou com a participação de militantes de movimentos sociais do campo e da cidade, incluindo quilombolas e indígenas.

A reflexão coletiva sobre direitos humanos caminhou pela análise deste como um elemento que compõe a luta de classes. E portanto, é fundamental compreender como o capital e seu projeto impactam a vida dos povos em diversas esferas. Nesse sentido, o primeiro dia de debate vinculou o tema com a questão das mudanças climáticas e contou com a participação da antropóloga Joziléia Kaingang e do professor Carlos Marés da PUC-PR, que apontou os impactos desse cenário para a sociedade civil como um todo. 

“A emergência climática é um produto do capital, do seu avanço de destruição e o processo de reversão só se dará pelo coletivo, pela defesa dos direitos coletivos e da natureza”, apontou.

Outro debate que pautou a formação foi como funciona o sistema de justiça no que se refere ao acesso à terra e território, mecanismos, a participação e os seus impactos. Durante o espaço foi apresentado o trabalho a ser desenvolvido pela Comissão de Soluções Fundiárias criada pela Corregedoria-Geral da Justiça Federal que busca fortalecer a regularização e mediação de conflitos fundiários. 

A Dra. Catarina Volkart, do TRF4, comentou sobre a importância da construção de diálogos nesse cenário de participação e acesso aos direitos por terra e território pela Comissão. “Os pressupostos da Comissão de Conflitos Fundiários são o da escuta do diferente, pisar na realidade e a articulação interinstitucional”. 

Essa iniciativa gerou debates em grupos durante a formação e aprofundou a discussão a partir da realidade dos territórios. Buscando compreender como esses temas são fundamentais para organização e mobilização do campo popular, na defesa dos povos e territórios e na garantia do acesso à terra e produção da vida. Também contribuíram com esse debate a Defensora Pública, Alessandra Quines e a Professora Daniele Pontes, da Universidade Federal do Paraná.   

Foto: kátia Marko/ Setor de Comunicação MST – RS

 Tribunal Popular dos Agrotóxicos 

A Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida definiu, como uma de suas principais diretrizes para este ano, a construção de Tribunais Populares Contra os Agrotóxicos em estados e municípios de todo o país. O objetivo desta iniciativa é ampliar o debate sobre os impactos dos agrotóxicos no Brasil e avançar na responsabilização das empresas produtoras, do agronegócio e do Estado pelas violações cometidas contra a saúde humana, o meio ambiente e os direitos das comunidades.

Considerando essa diretriz, no último dia da formação o foco foi direcionado para o debate sobre a formação comunitária em direitos humanos e os impactos dos agrotóxicos nos territórios indígenas, quilombolas e camponeses, além dos impactos à saúde humana em geral. 

Prof. Dr. José Geraldo de Sousa Júnior (UnB). Foto: Comunicação MST/Norte Paraná

O Prof. Dr. José Geraldo de Sousa Júnior, da Universidade de Brasília (UnB) esteve presente e ministrou uma aula sobre conflitos agrários, direitos humanos e o papel da justiça nessa mediação. Ele também trouxe importantes referências de tribunais populares realizados no mundo, para ajudar e pensar a organização do tribunal no RS, previsto para ser realizado em abril.

“Para que essa campanha tenha uma dimensão de visibilidade, de engajamento e de conscientização do social sobre a letalidade do que representa no país hoje é uma ligação que se possa fazer com o instrumento de apresentação dos casos mais dramáticos. E na história social a técnica do tribunal popular tem sido uma forma pela qual as situações são demonstradas Construir um tribunal para coroar uma campanha contra o uso de agrotóxicos e contra a estratégia gravíssima de atuação do agronegócio sobre o uso do veneno em escala indecente, é uma possibilidade de discutir questões contra esse crimes graves”, ressaltou. 

Além dele, também esteve presente o Engenheiro Ambiental Eduardo Raguse, do núcleo Amigas da Terra; Karen Friedrich da Fiocruz; Ana Inês Algorta da AJD (Associação Juízas e Juízes para a Democracia) e Ney Strozake, Leonardo Melgarejo, Iara Sanchéz e Emiliano Maldonado (professor da UFGRS), integrantes do setor de Direitos humanos do MST e do Coletivo Jurídico da Zé Maria do Tomé, da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida.

Esse debate no Rio Grande do Sul foi importante para fortalecer a Luta e acumular força, questionando o modelo de agricultura com base na monocultura e no uso indiscriminado de agrotóxicos que tem vitimado a saúde das pessoas, a produção da vida nos territórios e o futuro do planeta.  

A formação em direitos humanos foi resultado de uma construção coletiva entre aa UnB, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Conselho Nacional dos Direitos Humanos (CNDH) e da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida, além da importante parceria com a Associação dos Juízes pela Democracia (AJD). 

*Edição: Campanha Permanente contra os agrotóxicos e pela vida e Solange Engelmann

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Last Update: 27/02/2025