Nos tempos do homem do baú, por João Pedro Ribeiro
O Baú da Felicidade era uma loja do humorista João Alberto Melchert em Niterói, que fazia o que ele chamava de Carnê da Felicidade. O negócio entre eles nunca foi totalmente esclarecido. Só se sabe que, em 1975, ele sofreu um tremendo processo por crime contra a economia popular e começou a ter de seguir as regras da CVM e do Banco Central, pagando o mesmo que as cadernetas de poupança aos seus contribuintes. É claro que ele aumentou a taxa de administração e o preço dos produtos.
O fim do Baú veio com o Código de Defesa do Consumidor, que proibiu a venda casada, o que ficava claro por ser-se obrigado a levar um bem da própria loja. Foi assim que começou o Banco Panamericano. Era um meio de descaracterizar a venda casada. A capitalização migrou para a Tele Sena.
Lembro muito bem do domingo em que Seu Sílvio anunciou em seu programa que o BC tinha obrigado a correção monetária das parcelas pagas e que, caso o mutuário não quisesse comprar coisa alguma, poderia obter sua capitalização. Inclusive, foi nessa época que o grupo teve de abrir a Baú da Felicidade Poupança e Capitalização S.A. Até então, o carnê era devido na própria loja. Um verdadeiro crime contra a economia popular, como está na lei 1521/1951, mais tarde modificada pela lei 8137/1990.
O fato é que, quando o Baú da Felicidade nasceu, a atividade já era crime, mas faltavam órgãos com o conhecimento necessário a perceber e controlar o delito. O Banco Panamericano veio da percepção do BC de que a empresa de capitalização estava, na verdade, financiando as lojas, inclusive a Concessionária Vilamar Veículos, cuja razão social era Vila Mariana Veículos Ltda. As lojas passaram a se chamar Tamacavi, assim como as fazendas, de que o grupo se desfez no início dos anos 2000.
Outra polêmica que envolveu o empresário foi seu pressuposto envolvimento com o Mossad no episódio do sequestro de sua filha, que resultou num tiroteio num flat em Alphaville e posterior morte do sequestrador na cadeia.
João Pedro Ribeiro é economista, estudou o mestrado na PUC, pós graduou-se em Economia Internacional na International Afairs da Columbia University e é doutor em História Econômica pela Universidade de São Paulo. Depois de aposentado como professor universitário, atua como coordenador do NAPP Economia da Fundação Perseu Abramo, como colaborador em diversas publicações, além de manter-se como consultor em agronegócios. Foi reconhecido como ativista pelos direitos da pessoa com deficiência ao participar do GT de Direitos Humanos no governo de transição.
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