Nesta segunda-feira (8), o presidente José Inácio Lula da Silva (PT) afirmou durante a reunião de cúpula do Mercosul, em Assunção, capital do Paraguai, que “não há atalhos para a democracia”. Ele mencionou os atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023 no Brasil e a tentativa de golpe na Bolívia.
“O Mercosul permaneceu mais uma vez unido em defesa da plena vigência do Estado de Direito consagrado no Protocolo de Ushuaia. A reação unânime ao 26 de junho na Bolívia e ao 8 de janeiro no Brasil demonstram que não há atalhos à democracia em nossa região, mas é preciso permanecer vigilantes. Falsos democratas tentam solapar as instituições e colocá-las à serviço de interesses reacionários”, disse Lula.
O presidente brasileiro também ressaltou a necessidade de vigilância contra o que chamou de “falsos democratas”. Ele atribuiu a defesa do Estado na Bolívia à firmeza do governo de Arce, à mobilização do povo e ao rechaço da comunidade internacional. “Democracia e desenvolvimento andam lado a lado. Os bons economistas sabem que o livre mercado não é uma panaceia para a humanidade”, prosseguiu.
“A reação unânime ao 26 de junho na Bolívia e ao 8 de janeiro no Brasil demonstra que não há atalhos à democracia em nossa região, mas é preciso permanecer vigilantes”, diz Lula na Cúpula do Mercosul.
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O bloco sul-americano, composto por Brasil, Uruguai, Argentina e Paraguai, deve formalizar a entrada da Bolívia. No final da reunião, o Uruguai assumirá o comando semestral do grupo. A cúpula ocorreu sem a presença do presidente da Argentina, Javier Milei, o que causou desconforto nos demais integrantes do Mercosul, já que os presidentes geralmente não faltam aos encontros semestrais do bloco. A chanceler argentina, Diana Mondino, representou o político de extrema-direita na cúpula de chefes de Estado.
Na véspera da cúpula, Milei esteve em Santa Catarina para um encontro de conservadores, onde se encontrou com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Foi a primeira viagem de Milei ao Brasil, sem uma agenda de trabalho com Lula.
O presidente brasileiro defendeu novamente a conclusão das negociações de revisão do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia, atribuindo a responsabilidade pela demora aos europeus. “Só não concluímos o acordo com a União Europeia porque os europeus ainda não conseguiram resolver suas próprias contradições internas”, afirmou.
Lula também mencionou o acordo de livre comércio com a Palestina e criticou as ações do exército de Israel na Faixa de Gaza. “Nos orgulhamos de ser o primeiro país do bloco a ratificar o Acordo de Livre Comércio com a Palestina, mas não posso deixar de lamentar que isso ocorra no contexto em que o povo palestino sofre com as consequências de uma guerra totalmente irracional”, disse.
O presidente do Paraguai, Santiago Peña, anfitrião do encontro, afirmou que o Mercosul “é um exemplo exitoso de integração e que não há outro caminho” para o sucesso dos países do bloco. Peña defendeu uma “democracia com conteúdo” e “com resultados” para as populações do Mercosul, reconhecendo as diferenças de visões políticas e ideológicas entre os governantes do bloco como uma força, e não uma fraqueza.
Peña também se solidarizou com as vítimas das enchentes de maio no Rio Grande do Sul, destacando a necessidade de políticas públicas sustentáveis e respostas rápidas para atender as vítimas.
Lula seguirá de Assunção para Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, onde terá uma reunião de trabalho com Arce na terça-feira (9). O encontro foi mantido mesmo após a tentativa de golpe, como forma de demonstrar apoio ao governo boliviano.