A TVPT exibiu mais uma edição do programa “PT Conexões Brasil”. O tema central foi a nova economia dos cuidados no país, com foco nas eleições municipais e nas desigualdades de gênero.
A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, conduziu a discussão ao lado da pesquisadora do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e doutora em Sociologia pela UERJ, Daléa Soares Antunes, e da deputada federal e candidata à prefeitura de Natal, Natália Bonavides (PT-RN).
As três destacaram a importância do tema, que toca diretamente em questões relacionadas ao cuidado, ao papel das mulheres na economia, às desigualdades de gênero e à necessidade de políticas públicas que atendam novas demandas da sociedade.
Economia dos cuidados
Gleisi Hoffmann abriu o programa destacando que o PT, com 44 anos de história, foi fundado em uma realidade brasileira muito diferente da atual. “As coisas mudaram muito, e precisamos nos atualizar para continuar defendendo os trabalhadores e as trabalhadoras, seus direitos e continuar promovendo um país com mais desenvolvimento e justiça social”, afirmou.
Para ela, essa contextualização foi fundamental para introduzir uma nova economia dos cuidados, um conceito que visa dar visibilidade e valor econômico às atividades de cuidado, tradicionalmente exercidas pelas mulheres, tanto no ambiente doméstico quanto no mercado de trabalho.
Daléa Soares Antunes explicou que a nova economia dos cuidados surge como uma nova percepção sobre o que as mulheres já fazem há muito tempo. “Historicamente, temos uma divisão sexual do trabalho que foi naturalizada. Nos últimos anos, essa ideia começou a ser desconstruída, confirmando-se a importância econômica dessas atividades”, disse.
Mulheres no mercado
A pesquisadora do IBGE ressaltou que as mulheres desempenham essas funções de forma não remunerada em casa, além de ocuparem funções importantes no mercado de trabalho, como cuidadoras e empregadas domésticas.
Segundo Daléa, estudos apontam que a contribuição do trabalho doméstico para o Produto Interno Bruto (PIB) poderia ser de 11% a 13% se fosse contabilizado. Ela disse que o IBGE vem realizando pesquisas de uso do tempo desde 2000 para identificar quanto trabalho doméstico não remunerado é realizado no Brasil, o que tem contribuído para debates e formulações políticas.
“A nova economia do cuidado exige uma mudança cultural, onde a responsabilidade pelo cuidado deve ser compartilhada e não atribuída apenas às mulheres”, concluiu.
Tecnologia e dados econômicos
Durante o programa, Gleisi Hoffmann questionou como a tecnologia poderia ser utilizada para melhorar a prestação de serviços de cuidado no Brasil. Daléa Soares Antunes reconheceu que a tecnologia é uma aliada importante, destacando aplicativos que podem acompanhar idosos, lembrar horários de medicamentos e até enviar alertas em casos de emergência.
“A tecnologia pode ser uma fronteira a ser explorada e canalizada para a economia de cuidados”, afirmou a pesquisadora.
Natália Bonavides acrescentou que a produção e utilização de dados são fundamentais para a formulação de políticas públicas eficazes. Ela destacou que muitos cuidadores informais vivem em grande invisibilidade, e que o georreferenciamento poderia ajudar a identificar onde há maior necessidade de serviços de cuidado, facilitando a tomada de decisões sobre onde alocar recursos e implantar serviços.
Impacto econômico e desigualdades de gênero
Outro assunto de destaque no debate foi quando Gleisi Hoffmann falou sobre o impacto econômico do trabalho doméstico remunerado e não remunerado no Brasil.
Daléa Soares Antunes explicou que, embora o IBGE ainda esteja desenvolvendo metodologias para mensurar com precisão esse impacto, estudos indicam que o PIB poderia aumentar em até 13% se o trabalho doméstico fosse contabilizado. Ela destacou que essa nova economia do cuidado pode trazer avanços avançados em termos de regulamentação e valorização dessas atividades, tradicionalmente exercidas pelas mulheres.
Natália Bonavides ressaltou que a desigualdade de gênero está intrinsecamente ligada ao tema do cuidado. “Não tem como falar desse tema sem falar da sobrecarga das mulheres”, afirmou. Ela enfatizou ainda que o governo Lula trouxe o tema da desigualdade de gênero como pauta prioritária, apresentando um projeto de lei que cria uma política nacional do cuidado.