Estamos em 2050 e o céu, que outrora cintilava azul no firmamento, agora carrega um tom permanente de cinza. Não é neblina, é fumaça. A fuligem das queimadas que encobre nossos campos e cidades se tornou rotina desde que o Congresso aprovou o PL da Devastação, há 25 anos atrás. Naquele momento, o licenciamento ambiental, que fora a principal barreira contra crimes ambientais e desastres socioambientais, estava sendo desmontado e com ele ruíram as garantias mínimas de proteção à vida.
Hoje não existem mais rios, apenas esgotos industriais. A água, o ar e o solo envenenados são agora as principais causas de doenças em zonas urbanas e rurais. Diversos tipos de câncer, má-formação fetal e problemas neurológicos se tornaram banais. Agora as crianças respiram agrotóxicos e as mulheres dão à luz em áreas contaminadas. Os idosos? Quando passam dos 60 anos morrem sufocados por um ar irrespirável.
O campo virou território de lucro para alguns e morte para a maioria. Sem fiscalização, empreendimentos de toda sorte se multiplicaram em áreas de conservação e territórios indígenas, expulsando comunidades tradicionais e devastando biomas. Povos e inteiros foram massacrados por grileiros, mineradores, pecuaristas e empresas amparadas pela tragédia legislativa. Indígenas e quilombolas sobreviventes vieram adensar ainda mais as periferias das cidades, onde agora convivem com a violência, a fome e o desemprego.
Como no campo, nas cidades também reina o caos. Moradores vivem à sombra de barragens instáveis, verdadeiras feridas abertas no relevo onde antes havia montanhas e o que os nossos antepassados chamavam de mata atlântica, cerrado, pampas, caatinga, Pantanal ou Amazônia, dependendo da região do País. Tragédias como Mariana e Brumadinho deixaram de ser exceção. A cada chuva o medo toma conta de absolutamente todos. A cada sol forte, o flagelo da seca. O clima é o nosso grande inimigo.
Esse é o país que emergiu quando disseram que licenciamento ambiental era uma “burocracia” que deveria ser suprimida em nome do desenvolvimento. A desregulamentação aumentou o lucro de quem já era rico aos custos do sofrimento de milhões. O Brasil poderia ter se tornado uma potência ambiental, mas virou o laboratório do Apocalipse. Se ao menos pudéssemos voltar no passado e dizer que outro futuro é possível….quem sabe a sociedade pressionasse os parlamentares para derrotar o PL da Devastação, que deu início a esta tragédia. Quem sabe a vida ainda pudesse vencer.
Deputado Nilto Tatto (PT-SP)