É inegável a crescente preocupação da população mundial com as questões ambientais nos últimos 30 anos. Se no início da década de 90 a preservação e recuperação do meio ambiente eram papo de “ecochato”, hoje elas estão presentes em quase todos noticiários, nas redes sociais, nos debates acalorados nos bares, pontos de ônibus e até nas campanhas políticas. Causa estranheza, portanto, que essa preocupação não se reflita em investimentos significativos, públicos ou privados para enfrentar a crise climática.
O Brasil, como outras raras exceções no mundo, tem se esforçado para fazer a lição de casa, com a redução das queimadas e do desmatamento, investimentos na transição energética e outras medidas efetivas, mas de médio e longo prazo. O governo Federal também tem apostado em pesquisa e projetos de sustentabilidade, mas de forma quase isolada em um cenário internacional totalmente fragmentado no que diz respeito à pauta ambiental.
Durante décadas os Estados Unidos, por exemplo, investiram trilhões de dólares (e continuam investindo) na sua indústria bélica, temendo as consequências de uma terceira guerra mundial, ou uma guerra atômica, que nunca aconteceu. A justificativa para a destinação de um montante tão elevado era que mesmo que uma guerra nuclear fosse improvável, seria muito grave caso acontecesse. Porque então não aplicam a mesma lógica para as questões socioambientais, já que a crise climática deixou de ser uma ameaça e já é uma realidade que coloca a vida de todos em risco?
Chama atenção que, neste momento de intensificação de eventos climáticos extremos, não apenas a maior economia do ocidente tenha retomado a corrida espacial, como abandonou os principais acordos multilaterais de mitigação dos efeitos da crise climática. Ou seja: chegamos ao ponto de um país como os Estados Unidos darem maior importância à busca por condições de vida no espaço do que com a preservação da vida na Terra. Se esta visão expansionista e colonialista não mudar, traduzindo os anseios da população em mudanças efetivas na nossa forma de ser e existir no Planeta, nada mais fará sentido.
* Nilto Tatto é deputado federal (PT-SP)