Nicola Ziadeh foi um dos mais destacados intelectuais da história árabe moderna. Nascido em Damasco, em 1907, quando a Palestina ainda se encontrava sob domínio otomano, Ziadeh se notabilizou como historiador, professor e defensor da herança cultural da civilização árabe-islâmica, mesmo sendo cristão. Seu trabalho representa uma importante contribuição à luta do povo palestino pela preservação de sua identidade diante da ocupação e da opressão colonial.

Filho de Abduh Ziadeh, engenheiro assistente na ferrovia de Hijaz, e Leah Aline Shurrush Rihani, Nicola passou a infância entre Damasco, Tulkarm e Jenin. Seu percurso educacional foi marcado por dificuldades provocadas pelas guerras e deslocamentos forçados. Ainda assim, ingressou no Colégio de Formação de Professores em Jerusalém e, em 1924, iniciou sua carreira como professor, lecionando em Nazaré, Tarshiha e Acre, onde ajudou a fundar o Clube Ortodoxo.

Mesmo atuando como professor, Ziadeh manteve seus estudos de forma autodidata, obtendo certificações que o habilitavam a lecionar em universidades. Suas primeiras publicações surgiram na revista al-Muqtataf, marcando o início de uma vasta produção intelectual.

Em 1935, com apoio do Departamento de Educação da Palestina, viajou para Londres e ingressou na University College London, aprofundando seus estudos em história antiga. Nesse período, estudou também na Alemanha e na França, demonstrando uma dedicação rara ao domínio de línguas e à pesquisa histórica. Retornou à Palestina em 1939, onde lecionou até a Nakba de 1948, momento que marcou a expulsão de centenas de milhares de palestinos pela criação artificial do Estado de “Israel”.

Entre 1939 e 1947, destacou-se como educador e divulgador cultural, produzindo programas para o rádio e publicando livros didáticos e obras de divulgação histórica, como Suwar min al-tarikh al-arabi (1946). Seu envolvimento com a formação dos trabalhadores e estudantes árabes o inseria diretamente na resistência cultural à dominação imperialista.

Em 1947, voltou a Londres para um doutorado em história islâmica. Atuou como professor na Universidade de Cambridge e colaborador da BBC em árabe. Após breve passagem pela Líbia, fixou-se em Beirute, onde foi professor da Universidade Americana (AUB) até 1973, ocupando cargos de destaque e formando uma geração de intelectuais árabes. Após sua aposentadoria, continuou lecionando na Universidade de São José, Universidade Libanesa e Universidade da Jordânia, além de participar de congressos e dar aulas em dezenas de países.

Ziadeh escreveu mais de quarenta livros em árabe, seis em inglês, traduziu obras e publicou centenas de artigos e estudos. Falava inglês, francês e alemão fluentemente, além de conhecer grego e latim. Em 2002, teve suas obras completas publicadas em vinte e três volumes pela editora al-Dar al-Ahliyya, em Beirute.

Recebeu diversas condecorações, como a Ordem Nacional do Cedro do Líbano (1973), a Ordem do Mérito da Síria (2002) e a comenda da Igreja Ortodoxa de Antioquia (1993). Foi membro de várias instituições científicas, como a Sociedade Oriental Alemã e a Sociedade Oriental Americana.

Mesmo sendo cristão, Nicola Ziadeh via a civilização árabe-islâmica como parte de sua identidade nacional e cultural. Era um defensor da unidade do mundo árabe e da resistência contra o colonialismo. Amava as cidades árabes, em especial Jerusalém, e foi reconhecido por sua gentileza, memória prodigiosa, produção incansável e compromisso com a causa de seu povo.

Faleceu em Beirute em 2006.

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Last Update: 10/06/2025