Jones Manoel, do PCBR, e Breno Altman, do PT, no dia 21 de março, fizeram um debate para discutir a seguinte pergunta: o governo Lula é neoliberal? 

Manoel defendeu que sim: o governo Lula, na sua visão, seria neoliberal “de cabo a rabo”. Altman, por sua vez, fez o contraponto: o governo Lula teria um caráter híbrido, sendo marcado por uma disputa entre tendências neoliberais e tendências “desenvolvimentistas”. 

Nesta coluna não abordaremos o tema central do debate, mas uma questão marginal que apareceu surpreendentemente ali. 

Altman e Manoel debateram um dia após o jogo entre Brasil e Colômbia pelas Eliminatórias da Copa do Mundo, jogo vencido, no sufoco, pela seleção brasileira por 2 a 1. Antes do embate propriamente dito começar entre os debatedores, eles se arriscaram nos comentários ao jogo. E as divergências começaram a surgir já aí. 

Lá pelas tantas, Altman lançou a afirmação de que a seleção brasileira atualmente é composta por “jogadores medianos” e que o único grande craque surgido no Brasil nos últimos 15 anos teria sido Neymar. Ao ouvir tal afirmação, Jones Manoel fez uma cara de assombro. 

O mediador do debate, funcionário de Jones de Manoel, não deixou passar e levantou a bola para o “webcomunista” cortar. “Jones, quer dizer então que Neymar é o grande craque do Brasil?”, perguntou o mediador. “Breno não entende nada de futebol e política”, respondeu Manoel. “Individualmente o Neymar, evidentemente, é melhor que o Vini Jr., mas em termos de carreira e de conquistas, o Vini Jr. já superou o Neymar há muito tempo”, concluiu o influenciador digital.

O debate entre os dois foi repleto de provocações. Logo na primeira pergunta, os debatedores deveriam responder se o governo Lula seria neoliberal ou não. Jones aproveitou o final de seu tempo de 5 minutos para dar mais uma espetada em Breno Altman: “A política econômica do governo Lula é neoliberal de cabo a rabo… e Neymar é um aposentado”.

É realmente interessante como as ideias dos indivíduos guardam uma certa lógica. Formam uma espécie de “sistema”. Não que seja um sistema perfeito, isento de contradições e confusões. Mas, sem dúvida, as ideias de cada pessoa sobre os mais variados temas, assuntos e campos de interesses (política, economia, cultura, esportes, etc.) mantêm uma dada sintonia entre si. 

Jones Manoel pertence ao que chamamos de “esquerda pró-imperialista”. É uma esquerda que se adapta com muita facilidade, muitas vezes quase automaticamente, às posições fundamentais do imperialismo. O PSTU é talvez o representante mais acabado dessa esquerda. Em política internacional, basta saber a posição do imperialismo para saber desde logo a posição do PSTU. 

Neymar, há vários anos, é objeto de uma campanha sistemática de ataques. “Cai-cai”, “sonegador de impostos”, “infidelidades matrimoniais” e assim por diante. O fato de ter voltado em Bolsonaro nas eleições seria mais um dos graves crimes de Neymar para figuras como Jones Manoel. 

Temos repetido insistentemente. A campanha contra Neymar não é gratuita. Movida sobretudo pelos grandes monopólios capitalistas da comunicação, ela responde a interesses de forças bem poderosas. Altman tem razão quando diz que Neymar é o grande craque do Brasil nas últimas décadas. E esse é justamente o fator decisivo de toda a questão.

O ataque a Neymar é um ataque ao melhor jogador brasileiro dos últimos tempos. Trata-se, como é óbvio, de um ataque àquilo que o futebol brasileiro produziu de melhor. É um ataque, portanto, ao futebol brasileiro de conjunto. 

Uma boa parte da esquerda nega, mas o futebol é, sim, objeto da luta política. A luta de classes também atravessa o futebol. Expressão das potencialidades do povo explorado brasileiro, o futebol nacional e sua expressão condensada, a seleção nacional, consistem numa preocupação permanente para as forças que dominam e oprimem o Brasil e a maioria do planeta — o imperialismo.

Jones, como um papagaio, repete aquilo que alguns dos mais venais comentaristas esportivos da imprensa pró-imperialista dizem sistematicamente. Jones Manoel realmente gosta de ser parte ativa nas campanhas que o imperialismo promove. Sempre pelo flanco esquerdo, mas também sempre na linha que o imperialismo determina.

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Last Update: 09/06/2025