Apesar de muitas pessoas acreditarem que realizar várias tarefas ao mesmo tempo é eficiente, a neurocientista Ana Carolina Souza, sócia da Nêmesis, empresa especializada em Neurociência Organizacional, afirma que o comportamento multitarefa pode trazer prejuízos significativos. Segundo ela, a prática não só reduz a qualidade do trabalho, mas também aumenta o estresse e a frustração.

A rotina moderna, repleta de notificações, mensagens e demandas urgentes, dificulta a manutenção do foco. Souza explica que a atenção é um recurso limitado e que tentar dividi-la entre múltiplas atividades pode sobrecarregar o cérebro. “Quando tentamos ser multitarefa, na verdade, estamos alternando rapidamente o foco entre estímulos, o que gera um custo cognitivo alto”, diz.

Como o cérebro processa a atenção

A atenção funciona como uma lanterna em um ambiente escuro: direcionamos a luz para o que consideramos mais importante. No entanto, o cérebro não consegue processar com a mesma eficiência todos os estímulos ao mesmo tempo. Por isso, focar em uma única atividade permite um processamento cerebral mais eficaz, melhorando a qualidade do trabalho.

A falta de foco, por outro lado, pode levar ao acúmulo de tarefas e, consequentemente, à sobrecarga. Isso gera frustração e estresse, impactando o bem-estar. Segundo a neurocientista, uma das soluções para combater o languishing — estado de apatia e perda de propósito — é justamente priorizar atividades realizadas com atenção plena.

Impactos na comunicação e no trabalho em equipe

A especialista também destaca os problemas causados pela falta de atenção durante a comunicação. Em ambientes corporativos, é comum que funcionários tentem realizar múltiplas tarefas enquanto conversam, o que pode levar a mal-entendidos e erros. “A falta de atenção de qualidade durante as interações é um dos principais desafios nas empresas hoje”, afirma Souza.

Para melhorar a concentração, algumas organizações têm investido em práticas como meditação, autogestão e a criação de ambientes que favorecem o estado de Flow — quando a pessoa está completamente imersa em uma atividade. Essas estratégias visam aumentar a performance e o bem-estar dos trabalhadores.

Quando a alternância de foco é vantajosa

Embora o foco seja importante, há situações em que a capacidade de alternar rapidamente a atenção entre diferentes estímulos pode ser útil. A chamada Seletividade é um recurso atencional valioso para profissionais que precisam monitorar múltiplos ambientes ou circuitos, como em operações de controle e segurança.

No entanto, Souza ressalta que é essencial entender quando utilizar cada tipo de atenção. “O contexto e a natureza do trabalho determinam qual recurso atencional é mais adequado. Saber quando focar e quando alternar o foco é fundamental para uma boa performance”, explica.

Desafios do mundo moderno

O excesso de estímulos e a cultura da urgência tornam cada vez mais difícil manter a concentração. A neurocientista sugere que, para navegar nesse cenário complexo, é preciso aprender a distinguir entre momentos que exigem foco intenso e aqueles em que uma atenção mais difusa pode ser estratégica.

O equilíbrio entre esses dois modos de atenção não só melhora a produtividade, mas também ajuda a preservar a saúde mental. “O objetivo é alcançar uma boa performance sem descuidar do bem-estar”, conclui Ana Carolina Souza.

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 06/02/2025