Benjamin Netanyahu sobreviveu ao maior teste político desde o início da guerra em Gaza. Com 61 votos contrários e 53 favoráveis, o Knesset rejeitou, na madrugada desta quinta-feira (12), a moção de dissolução do Parlamento apresentada pela oposição. Por diferença de apenas 8 votos, a iniciativa abriria caminho para eleições antecipadas que, segundo pesquisas, levariam à derrota do atual premiê de ultradireita.
Apesar da vitória parlamentar, o resultado escancarou a instabilidade da coalizão governista, especialmente em meio à crescente insatisfação dos partidos ultraortodoxos — pilares essenciais do bloco que sustenta Netanyahu no poder. A crise foi deflagrada pela pressão para resolver a questão das isenções do serviço militar obrigatório, um tema explosivo no contexto do genocídio prolongado em Gaza.
Coalizão à beira do colapso: o alistamento militar
O impasse que quase levou à queda do governo girou em torno da tentativa de atualizar a legislação sobre o recrutamento militar. Os partidos ultraortodoxos Judaísmo Unido da Torá (JUT) e Shas, que tradicionalmente garantem isenções a estudantes de seminários religiosos, ameaçaram romper com o governo caso não houvesse um acordo formal sobre o tema.
Com a decisão da Suprema Corte israelense de obrigar o alistamento de membros da comunidade haredi, após o vencimento de uma disposição temporária em junho de 2024, Netanyahu foi forçado a agir. Nas vésperas da votação, articulou-se intensamente com os aliados religiosos, oferecendo uma proposta genérica de projeto de lei, ainda sem parecer jurídico, para adiar penalidades e permitir um “período de transição”.
Apesar da falta de detalhes, o gesto foi suficiente para que Shas e JUT recuassem, embora dois parlamentares do JUT tenham rompido a disciplina partidária e votado pela dissolução. A oposição, liderada por Yair Lapid, ironizou o acordo, apontando que os partidos religiosos acabaram por “perder a isenção para não perder os cargos”.
Genocídio em Gaza pressiona política e desgasta Netanyahu
O massacre de palestinos na Faixa de Gaza — que já deixou quase 55 mil palestinos mortos, segundo autoridades locais — criou uma conjuntura insustentável para a tradicional política de isenções aos ultraortodoxos. Com mais de 400 soldados israelenses mortos e o serviço militar estendido, cresce o clamor público por equidade no alistamento.
Uma pesquisa de março publicada pelo jornal conservador Israel Hayom apontou que 85% dos judeus israelenses desejam mudanças na lei, sendo 41% favoráveis à obrigatoriedade universal do serviço militar. O contraste entre o esforço de guerra e os privilégios dos estudantes religiosos alimenta o ressentimento interno, inclusive entre setores moderados da direita.
Além disso, o prolongamento do massacre impacta duramente a imagem internacional de Israel. Ministros do governo Netanyahu enfrentam sanções e há pressões diplomáticas crescentes, com acusações de crimes de guerra e apelos globais pelo fim do “regime de apartheid”.
“Começo do fim”: oposição vê erosão política como irreversível
Embora tenha garantido a permanência no poder por ora, Netanyahu enfrenta um cenário político hostil e uma base volátil. A próxima moção para dissolver o Parlamento só poderá ser apresentada em seis meses, o que, na prática, dá um fôlego ao premiê. Ainda assim, líderes da oposição consideram a erosão de sua coalizão inevitável.
“Quando as coalizões começam a se desintegrar, elas se desintegram. Isso já começou”, disse Lapid. Merav Michaeli, do Partido Trabalhista, foi mais enfática: “É mais urgente do que nunca substituir o governo de Netanyahu. É urgente acabar com a guerra em Gaza. É urgente curar o Estado de Israel”.
A leitura de bastidores é clara: a sobrevivência de Netanyahu é cada vez mais dependente de negociações opacas, concessões instáveis e uma base parlamentar que o tolera mais por conveniência do que por convicção.
Um round, mas não a luta
O recuo dos ultraortodoxos impediu, por ora, a queda de Benjamin Netanyahu. Mas o custo político da crise, aliado ao desgaste da guerra e à pressão por mudanças estruturais, fragiliza a continuidade de um governo que já enfrenta desconfiança popular e deslegitimação internacional.
Em vez de uma vitória consolidada, o que se viu foi um adiamento do colapso. A batalha pela sobrevivência política de Netanyahu continua — e os sinais indicam que será cada vez mais difícil sustentá-la.