O artigo Violência escolar é uma emergência, assinado por Alvaro Chrispino, e publicado no jornal O Globo nesta quinta-feira (26), segue uma tendência, a de apresentar o aumento da violência entre os jovens. Isso não acontece apenas no Brasil, onde já se quer proibir o uso de aparelhos celulares pelos estudantes. Na Austrália, há discussões e propostas em andamento sobre regulamentações mais rígidas para proteger crianças e adolescentes online.
Em maio de 2024, o governo australiano anunciou que está considerando medidas para banir redes sociais para menores de 16 anos, mas ainda não há lei aprovada. O país já tem leis como o Online Safety Act, que se diz combater “cyberbullying” e “conteúdo prejudicial”, mas não proíbe, ainda, o acesso.
Vale lembrar que na França, e alguns estados dos EUA, já aprovaram leis que exigem permissão dos pais para menores usarem redes sociais.
O texto de Chrispino começa dizendo que “a violência escolar, tal como a erva daninha que cresce num terreno negligenciado, prolifera em meio à falta de atenção e de estratégias eficazes e efetivas para contê-la. O problema se alastra sem que se conheçam alternativas consistentes para agir de forma inteligente na identificação e no enfrentamento de suas causas multifatoriais”.
Por “estratégias eficazes” devemos entender repressão, pois é a lógica, ainda que se dê voltas para questionar tal método.
O medo
É obrigatório nesse tipo de matéria que se instaure o medo. Lê-se, por exemplo, que “apesar de recorrente, a sociedade continua a se mostrar ‘surpresa’ com os dados. Segundo a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, os registros de violência escolar saltaram de 3.771 em 2013 para 13.117 em 2023”.
E ainda que “o caso do Ceará chama a atenção: embora seja destaque positivo no desempenho escolar, viu os registros de violência saltarem de 42 em 2014 para 438 em 2024 — um aumento de 943%”.
Não por acaso, o autor diz que “esses dados, infelizmente, não surpreendem quem estuda o tema. Retornam ao debate público apenas diante de tragédias ou sob forte comoção social, como no recente impacto provocado pela série ‘Adolescência’”. O imperialismo atua em diversas frentes. Financia pesquisas sobre violência; produz séries e filmes; os jornais divulgam prisões, etc. Sem que as pessoas mais despolitizadas se deem conta, toda essa campanha cria a “emergência” do tema.
Recentemente, a polícia de Hamburgo, na Alemanha, prendeu um jovem de 20 anos por supostamente liderar uma comunidade de ódio. A comunidade se chama 764, e reuniria integrantes de países como Estados Unidos, Canadá, Alemanha e teria influência sobre pelo menos dois grupos de “ódio online”. No Brasil também estão investigando dois grupos.
Como o próprio autor revela, “do ponto de vista acadêmico, a produção científica brasileira tem crescido de forma significativa. Já são centenas de teses, dissertações e artigos qualificados sobre violência escolar em seus múltiplos aspectos, desde análises teóricas até projetos de intervenção junto a secretarias de Educação”.
Perguntas para respostas óbvias
Alvaro Chrispino pergunta:
“Temos pesquisas, temos dados empíricos — e agora? Como transformá-los em políticas públicas efetivas? Como superar a lógica do ‘vigiar e punir’ predominante no Congresso, que quer tratar violência escolar com a truculência punitiva do Estado?”
Uma vez que as coisas “não podem ficar como estão”, e como nenhuma pergunta foi respondida, a resposta é óbvia: o Estado seguirá em frente com a “lógica do vigiar e punir”. Até porque a política é essa desde o início; e a ordem vem de cima: do imperialismo.
De quem é a culpa?
O texto não toca no assunto, mas a violência nas escolas não nasce do nada, ela é resultado da própria decomposição social que começa na economia, resultado direto da implementação do neoliberalismo.
No Brasil, durante os governos FHC, houve uma quase completa liquidação do parque industrial brasileiro. Um verdadeiro crime contra a economia nacional, com milhões e milhões de pessoas perdendo os empregos, sendo atiradas na miséria e no desespero.
É fácil de prever os resultados. Para quê um jovem vai estudar engenharia se mal existem vagas no mercado? Na Escola Politécnica da USP, por exemplo, inúmeros alunos são absorvidos pelo sistema financeiro, vão trabalhar em bancos e outras instituições para fazerem cálculos de projeção futura em investimentos ou coisas do gênero.
Um jovem que esteja no curso médio também não vê perspectiva, ou mesmo necessidade de estudar, acha aquilo inútil, “estudar para quê?”.
Solução
Como o artigo não toca nas causas, mas nos sintomas, não pode apresentar uma conclusão válida para a solução do problema da violência. Terá, portanto, que aceitar a violência maior do Estado. Terá que apoiar a censura: a proibição de celulares.
No entanto, a única solução possível seria atacar o neoliberalismo. Dar perspectiva à juventude e começar isso interrompendo o pagamento criminoso da dívida pública, que drena mais da metade do orçamento público para os cofres de meia dúzia de banqueiros nacionais e estrangeiros ficarem a cada dia mais ricos.
Estudo recente da Oxfarm, o relatório Do Lucro Privado ao Poder Público: Financiando o Desenvolvimento, Não a Oligarquia, demonstra que a fortuna do 1% mais rico poderia acabar com a pobreza 22 vezes.
É isso que provoca o aumento da violência, ela é proporcional ao aumento das desigualdades sociais. E ela aumenta não apenas entre os jovens.
A solução já se sabe, é preciso expropriar a burguesia, estatizar os bancos e desenvolver a economia. A classe trabalhadora tem essa tarefa, e é apenas ela que pode cumprir esse papel. Não adianta ficar dando voltas. Enquanto o mundo for organizado pelos vampiros decadentes do imperialismo, que nada produzem e tudo destroem, a violência será uma constante.