O grupo islamista enviou uma delegação ao Cairo, embora não participe das negociações que buscam uma trégua com Israel em Gaza e a libertação dos reféns detidos após dez meses de guerra.
“A delegação se reunirá com responsáveis dos serviços de inteligência egípcios para ser informada sobre a evolução da rodada de negociações sobre o cessar-fogo em Gaza (…)”, disse um funcionário do grupo islamista.
“Mas isso não significa que participarei das negociações” para uma trégua em Gaza, acrescentou à AFP sob condição de anonimato.
A guerra, desencadeada pelo ataque do grupo islamista em 7 de outubro em território israelense, devastou o estreito território palestino e causou o deslocamento em massa da população, que enfrenta uma dura crise humanitária.
Os mediadores Estados Unidos, Egito e Catar tentam há meses acabar com o conflito. A Casa Branca disse na sexta-feira que houve progressos, mas persiste o desacordo sobre a presença permanente de tropas israelenses na fronteira Gaza-Egito.
O funcionário do grupo islamista indicou que o grupo insistirá na necessidade de retirar todas as tropas israelenses de Gaza, inclusive da área fronteiriça com o Egito.
O movimento islamista, classificado como organização “terrorista” por Israel, Estados Unidos e União Europeia, rejeita novas negociações e exige a implementação do “plano Biden”, apresentado pelo presidente americano em 31 de maio.
“Um passo fundamental”
Uma autoridade do grupo islamista reiterou que o movimento quer a “implementação e não a renegociação” do plano, que foi aceito em julho.
O “plano Biden”, que Washington apresentou como proposta de Israel, contempla uma trégua de seis semanas, a retirada das forças israelenses das áreas densamente povoadas de Gaza e a libertação de reféns.
Em uma segunda fase, prevê a retirada total das tropas do território palestino.
Mas o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, considera o controle do corredor na fronteira egípcia necessário para evitar o rearmamento do grupo islamista.
A Casa Branca indicou que o chefe da CIA, William Burns, participa das negociações no Cairo, com os chefes dos serviços de inteligência israelenses.
“As negociações que ocorrem no Cairo (…) preparam uma rodada mais ampla de discussões que começará no domingo”, disse uma fonte egípcia próxima.
“Washington analisa novas propostas com mediadores para reduzir a distância entre Israel e o grupo islamista, e mecanismos para implementar” o plano.
A fonte egípcia afirmou que as negociações de domingo serão “um passo fundamental na formulação de um acordo que será anunciado se Washington conseguir pressionar Netanyahu”.
A guerra eclodiu em 7 de outubro, quando combatentes islamistas mataram 1.199 pessoas no sul de Israel, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em números oficiais.
Também fizeram 251 reféns, dos quais 105 permanecem em Gaza, incluindo 34 que o Exército declarou mortos.
Em resposta, Israel prometeu destruir o grupo islamista e lançou uma ofensiva que já deixou pelo menos 40.334 mortos em Gaza, segundo o Ministério da Saúde do território, governado pelo grupo islamista desde 2007, que não detalha quantos são civis ou combatentes.
Evitar uma escalada
O Exército israelense anunciou que três reservistas foram mortos no centro da Faixa de Gaza na sexta-feira, dois deles pela “explosão de uma bomba” e outro em combate.
Essas mortes elevam para 338 o número de militares israelenses mortos em Gaza desde o início da operação terrestre israelense em 27 de outubro.
A Defesa Civil de Gaza disse que 35 palestinos foram mortos em bombardeios israelenses na sexta-feira.
“Encontramos pessoas mortas na rua, alvejadas por atiradores de elite. A situação é inimaginável”, disse à AFP Hamed al-Dali, morador de Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, cuja casa foi ‘destruída’.
O Exército israelense disse que “dezenas de terroristas” haviam sido “eliminados em combates corpo a corpo e bombardeios em Rafah”, no sul do território, desde sexta-feira, e que suas forças também haviam matado outros “terroristas” na Cidade de Gaza, no norte.
Washington acredita que um cessar-fogo também ajudaria a evitar uma conflagração regional, incluindo um possível ataque a Israel pelo Irã e seus aliados em retaliação ao assassinato do chefe do grupo islamista em 31 de julho em Teerã, atribuído a Israel.
O conflito alimentou as tensões entre Israel e o movimento libanês pró-iraniano Hezbollah, que abriu uma frente na fronteira entre os dois países.
Neste sábado, o movimento xiita reivindicou mais de 10 ataques contra tropas e posições israelenses, a maioria com drones explosivos.
A agência de notícias libanesa ANI relatou bombardeios israelenses no sul do Líbano.