A Fundação Nacional para a Democracia (NED, na sigla inglesa) é uma organização sem fins lucrativos financiada pelos Estados Unidos para influenciar políticas domésticas em países ao redor do mundo.

Financiada pelo Congresso norte-americano e controlado pelo Departamento de Estado norte-americano, a NED tem apoiado ativistas e grupos da sociedade civil na Europa, Ásia, Oriente Médio e África.

Um exemplo recente da atuação da NED é demonstrado em seu relatório, no qual argumenta que “aumentar a transparência” é vital para a confiança nas “instituições” e na “governança democrática” e pede a adoção de novas leis de divulgação de informações para os países dos Bálcãs. Na prática, o órgão atua como um impulsionador de golpes de Estado, revoluções coloridas e ações imperialistas no cenário internacional.

Antes com uma política mais aberta com relação aos seus financiados, a NED adota agora uma política de manipulação silenciosa. Em uma nova política de “dever de cuidado” publicada esta semana pelo órgão, a NED sorrateiramente anunciou uma regra para ocultar do público os nomes dos beneficiários de seu programa.

Sua lista de subsídios para 2024 apresenta valores em dólares e resumos de uma frase para mais de 1.700 subsídios. Todos os nomes e identidades dos beneficiários externos foram apagados.

A nova medida da NED representa uma mudança significativa na atuação do imperialismo norte-americano. Por décadas, o órgão, de acordo com suas exigências públicas de transparência, publicou listas anuais divulgando seus beneficiários de subsídios.

A Fundação Nacional para a Democracia foi criada nos primeiros anos do governo Ronald Reagan em resposta ao aumento de denúncias relacionadas às atividades da CIA. O papel da NED era de participar em inciativas pró-Estados Unidos em países estrangeiros, algo antes limitado a operações secretas da CIA.

Falando sobre o programa em 1983, Ronald Reagan afirmou que “esse programa não ficará escondido nas sombras. Ele ficará orgulhosamente sob os holofotes, e é aí que ele pertence”.

“Muito do que fazemos hoje foi feito clandestinamente há 25 anos pela CIA”, declarou o ex-presidente interino da NED, Allen Weinstein, em uma entrevista amplamente citada em 1991 com o colunista do Washington Post, David Ignatius. “A maior diferença é que, quando essas atividades são realizadas abertamente, o potencial de fuga é próximo de zero. A abertura é sua própria proteção”, continuou ele.

A NED, um grupo quase privado originalmente liderado por Carl Gershman e controlado pelo Congresso dos EUA, tem sido o principal financiador de operações ostensivas dos Estados Unidos.

No início dos anos 1980, o órgão atuou abertamente em operações então secretas, como o financiamento de forças anticomunistas atrás da Cortina de Ferro e da imprensa dissidente conhecida como “samizdat”.

O apoio dado pela NED ocorria, inicialmente, dentro da União Soviética. Financiando sindicatos soviéticos, para uma fundação dirigida pelo ativista russo Ilya Zaslavsky, para um projeto de história oral dirigido pelo historiador soviético Yuri Afanasyev, para o movimento de independência ucraniano conhecido como Rukh e para muitos outros projetos.

Mais recentemente, a NED tem sido muito ativa nas provocações contra a China, especialmente destacando suas “violações de direitos humanos” – com destaque para a região de Xinjiang Uygur, predominantemente muçulmana. Além disto, tem financiado grupos ucranianos para combater a influência russa no país.

Em um relatório intitulado Long-Term Investments Pay Dividends in Ukraine (Investimentos de longo prazo pagam dividendos na Ucrânia), a NED divulgou seu trabalho de financiamento de grupos de pensadores e ativistas locais que pressionaram por reformas na sociedade civil ucraniana, incluindo a lei de registro de imprensa em 2023, usada para fechar veículos de comunicação acusados de divulgar propaganda pró-Rússia.

A NED é um braço do governo dos Estados Unidos e atua como uma importante arma de influência do imperialismo norte-americano. Sua liderança inclui ex-formuladores de políticas governamentais e funcionários eleitos. Seu financiamento é majoritariamente composto por dotações reservadas pelo Congresso. Em 2024, 99,3% da receita de US$ 356,5 milhões da organização veio do governo dos EUA.

A desculpa dada pelo NED para mudar sua política transparência é a de que a nova política serviria como uma medida de segurança para seus beneficiários. Em um comunicado, o grupo observou que o Talibã tinha como alvo afegãos associados à NED e que os beneficiários da NED estavam nas listas russas de “matar e capturar”.

Em 2022, a NED supostamente excluiu suas listas de doações relacionadas à Ucrânia. Registros arquivados na Internet mostram que mais de US$22 milhões em doações a grupos e ativistas no país parecem ter sido apagados.

Porém, a súbita reversão da transparência do órgão vem em meio a uma ampla pressão pelo sigilo. Em março, o grupo jornalístico financiado pelos EUA, Projeto de Reportagem sobre Crime Organizado e Corrupção (OCCRP, na sigla inglesa), aconselhou seus parceiros a “lavar dinheiro legalmente” como parte da ocultação de doadores sensíveis, em resposta ao que o OCCRP descreveu como um “futuro tóxico” para jornalistas “pró-democracia”.

Conjuntamente, o Departamento de Estado dos Estados Unidos exclui retroativamente dos registros públicos os detalhes da grande maioria dos prestadores de serviços pessoais da USAID.

“Em vez de listar nomes que poderiam servir de roteiro para aqueles que buscam silenciar os defensores da liberdade, fornecemos informações descritivas que refletem a natureza de seu trabalho sem comprometer sua segurança”, escreveu o presidente da NED, Damon Wilson, no anúncio da política de segunda-feira. A nova política, acrescentou ele, ainda mantém “o espírito de transparência”.

Na prática, a nova política de transparência da NED irá transforma-la na CIA do século XXI, atuando por debaixo dos panos para financiar agentes imperialistas ao redor do globo. Esta transformação da política da NED é uma resposta à crise que o imperialismo vem sofrendo. Não sendo mais forte o suficiente para atuar às claras, os Estados Unidos retornam a trabalhar nas sombras.

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Last Update: 09/05/2025