A região do Rif, no norte do Marrocos, foi palco de uma das mais intensas ondas de protestos populares da última década, conhecida como o “Hirak do Rif”. Nasser Zefzafi foi a figura mais proeminente desse movimento. O Hirak teve início na cidade de Al Hoceima e rapidamente se espalhou por outras áreas do Rif, reivindicando justiça social, dignidade e responsabilização dos responsáveis pela corrupção e marginalização histórica da região.

Causas do Hirak do Rif

As raízes do Hirak estão no sentimento de exclusão econômica e social vivido há décadas pela população do Rif, apesar da riqueza natural da região. A situação foi agravada pelo alto desemprego, infraestrutura precária e falta de serviços de saúde e educação adequados. O estopim foi a trágica morte do jovem Mohcine Fikri, em outubro de 2016, triturado por um caminhão de lixo ao tentar recuperar sua mercadoria confiscada — uma cena chocante que abalou a opinião pública marroquina.

Liderança de Nasser Zefzafi

Nasser Zefzafi, natural de Al Hoceima, destacou-se como um líder popular carismático e destemido. Enfrentando o poder sem medo, liderou manifestações e discursos contundentes denunciando a corrupção e exigindo liberdade, dignidade e justiça. Ele não representava nenhum partido político, mas sim “o povo marginalizado”, o que lhe rendeu grande apoio dentro e fora do Rif.

Prisão e julgamento

Em 29 de maio de 2017, Zefzafi foi preso após a polícia invadir sua casa. Dias antes, ele havia interrompido um sermão de sexta-feira em uma mesquita, protestando contra o uso da religião para atacar o movimento. Esse ato foi usado como justificativa para acusá-lo de “ofensa às instituições do Estado e ameaça à segurança nacional”.

Ele foi julgado em um processo coletivo com dezenas de outros ativistas e, em junho de 2018, recebeu uma pena severa de 20 anos de prisão por supostos crimes como “atentar contra a segurança do Estado”. Organizações como a Human Rights Watch e a Anistia Internacional condenaram o julgamento, qualificando-o como político e injusto.

Tortura e maus-tratos

Durante sua detenção, Zefzafi e seus advogados denunciaram tortura e maus-tratos por parte das autoridades. Ele afirmou ter sido despido, agredido fisicamente e humilhado psicologicamente durante os interrogatórios. As denúncias foram formalizadas junto ao Conselho Nacional de Direitos Humanos, mas o Estado marroquino negou qualquer irregularidade, o que aumentou a desconfiança da população nas instituições judiciais e de direitos humanos.

Conclusão

Nasser Zefzafi foi a voz de uma região que clamava por dignidade e justiça — e, por isso, acabou atrás das grades. De ativista de rua, tornou-se um símbolo da luta popular no Marrocos contra a repressão estatal. Enquanto permanece encarcerado, sua causa continua viva no coração de todos os que acreditam na liberdade de expressão e no direito dos povos de decidirem seu destino.

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Last Update: 14/05/2025