O Vaticano anunciou, nesta quinta-feira (8), a eleição do cardeal norte-americano Robert Francis Prevost como novo chefe da Igreja Católica. Ele adotará o nome pontifício de Leão XIV, tornando-se o 267º papa da história e o primeiro nascido nos Estados Unidos a ocupar o cargo. A decisão foi comunicada oficialmente após a fumaça branca surgir da chaminé da Capela Sistina, por volta das 13 horas (horário de Brasília).
O anúncio do “Habemus Papam” foi feito pelo cardeal protodiácono Dominique Mamberti, da sacada central da Basílica de São Pedro. Em seguida, Leão XIV apareceu diante da multidão reunida na Praça de São Pedro, concedeu a bênção Urbi et Orbi e proferiu seu primeiro discurso como pontífice.
“Esta é a paz do Cristo ressuscitado — desarmado e desarmador, humilde e duradouro. Uma paz que vem de Deus, que ama todos nós incondicionalmente”, afirmou. O novo papa leu sua mensagem em latim, italiano e espanhol, idioma no qual se dirigiu diretamente aos fiéis da América Latina, em especial do Peru, onde atuou como missionário.
Primeira eleição de um papa dos Estados Unidos
Robert Francis Prevost nasceu em Chicago, em 14 de setembro de 1955. Ingressou na Ordem de Santo Agostinho em 1977 e fez seus votos perpétuos em 1981. É formado em Matemática pela Universidade Villanova, mestre em Teologia pela Catholic Theological Union e doutor em Direito Canônico pelo Colégio Pontifício de Santo Tomás de Aquino, em Roma.
Viveu por mais de duas décadas no Peru, onde chegou nos anos 1980. Foi provincial da ordem agostiniana no país e, em 2015, foi nomeado bispo de Chiclayo, no norte peruano, pelo papa Francisco. Atuou na Conferência Episcopal Peruana até 2023.
Apesar de os Estados Unidos possuírem a quarta maior população católica do mundo — com 85,3 milhões de fiéis —, nunca haviam tido um papa. A eleição de Leão XIV quebra uma longa tradição e surpreendeu parte dos analistas, que esperavam a escolha de um europeu. O cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano, era apontado como um dos favoritos.
Processo de escolha
O conclave teve início na quarta-feira (7), com a participação dos cardeais com menos de 80 anos. Reunidos sob sigilo absoluto na Capela Sistina, os eleitores participaram de rodadas de votação em cédulas com a inscrição Eligo in Summum Pontificem, seguida do nome escolhido. Para ser eleito, um cardeal precisa obter dois terços dos votos.
O processo contou com a atuação de três comissões: os escrutinadores, responsáveis pela contagem dos votos; os infirmarii, que atendem aos eleitores doentes; e os revisores, que verificam a regularidade dos sufrágios.
Durante a chamada Sé Vacante, o governo da Igreja foi conduzido pelo Colégio dos Cardeais. O camerlengo confirmou a morte de Francisco, supervisionou o funeral e organizou o conclave.
Discurso e primeiras declarações
Ao se apresentar ao público, Leão XIV agradeceu aos cardeais pela confiança e afirmou: “somos todos discípulos de Cristo. O mundo precisa de sua luz”. Em espanhol, recordou sua atuação missionária no Peru: “foi uma grande alegria trabalhar em terras peruanas. Envio uma saudação afetiva aos meus compatriotas de fé”.
“Sou filho de Santo Agostinho”, disse, evocando a célebre frase do santo: “com vocês, sou cristão. Para vocês, sou bispo”.
Ao final da saudação, convidou os fiéis a rezarem pela nova missão, encerrando com a oração da Ave Maria.
Reações internacionais
A eleição de Leão XIV teve repercussão imediata em diversos países. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou: “que grande honra para o nosso país”. O ex-presidente Barack Obama classificou o dia como “histórico” e disse que rezará pelo novo papa.
Líderes latino-americanos também se manifestaram. O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, disse esperar que o novo pontífice seja uma referência para os migrantes. O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, pediu a continuidade das ações de Francisco em defesa da paz e da justiça social. A ditadora do Peru, Dina Boluarte, destacou os vínculos do papa com o país: “em nossas terras, ele semeou esperança, caminhando ao lado dos mais necessitados”.
Na Europa, o presidente francês Emmanuel Macron desejou “um pontificado de paz e esperança”. O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, expressou apoio ao “diálogo e à defesa dos direitos humanos”. A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, declarou que as palavras do papa representaram um “apelo moral em tempos difíceis”.
O chanceler alemão Friedrich Merz destacou o papel global do pontífice, enquanto o presidente da Polônia, Andrzej Duda, afirmou estar pronto para aprofundar a cooperação com o Vaticano. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, desejou “sabedoria e força” ao novo papa.
Chefes de Estado do Reino Unido, da Ucrânia, da Rússia, do Líbano, da África do Sul e o secretário-geral da ONU, António Guterres, também enviaram cumprimentos.
O Hamas também parabenizou a decisão, emitindo nota oficial:
“Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso
Comunicado à imprensa
Parabenizamos o Papa Leão XIV por sua eleição como chefe da Igreja Católica e expressamos nossa expectativa de que ele dê continuidade à postura do falecido Papa de defesa dos oprimidos e de rejeição ao genocídio em Gaza.
O Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) estende suas sinceras congratulações ao Papa Leão XIV por sua eleição como líder da Igreja Católica, desejando-lhe êxito no cumprimento de sua missão espiritual e humanitária em meio às tragédias e desastres que o mundo presencia — à frente dos quais está a contínua e brutal agressão sionista contra nosso povo palestino na Faixa de Gaza.
Ao mesmo tempo em que valorizamos as corajosas posições humanitárias expressas pelo falecido Papa Francisco, sua repetida solidariedade com o povo palestino e sua rejeição à ocupação e às suas políticas repressivas, depositamos nossa esperança de que o Papa Leão XIV dê continuidade a essa postura moral de apoio aos oprimidos e de atuação efetiva nos fóruns internacionais para deter o crime de genocídio e limpeza étnica perpetrado pela ocupação sionista contra crianças, mulheres e civis indefesos em Gaza, bem como para interromper as violações sistemáticas aos locais sagrados islâmicos e cristãos na terra da Palestina.
Movimento de Resistência Islâmica – Hamas
Quinta-feira, 10 de Dhu al-Qa’dah de 1446 H
Correspondente a: 8 de maio de 2025″
Histórico de atuação e episódios controversos
Apesar do reconhecimento por sua experiência pastoral, Leão XIV já esteve envolvido em episódios controversos. Em 2000, permitiu que um sacerdote acusado de abuso sexual vivesse em um priorado da ordem agostiniana, próximo a uma escola em Chicago, sem notificação à comunidade. O caso ocorreu antes do endurecimento das normas da conferência episcopal norte-americana, em 2002.
Posteriormente, já como bispo no Peru, foi citado em reportagens da imprensa local por ter arquivado denúncias contra dois padres acusados de abuso sexual contra três meninas. O canal TV América afirmou que os casos ocorreram em uma casa paroquial, mas não resultaram em punições formais.
Início do pontificado
O lema escolhido por Leão XIV é In Illo uno unum (“No único Cristo, somos um”). O Vaticano informou que os primeiros compromissos do novo papa incluem reuniões com os dicastérios da Cúria Romana e uma possível viagem à América do Sul ainda neste ano.