Nos últimos dias, denúncias sobre um suposto esquema de corrupção no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), que supostamente vêm acontecendo desde 1991 e se intensificaram em 2021, no governo Bolsonaro, levaram à demissão do ministro da Previdência, Carlos Lupi, e a ruptura da bancada do Partido Democrático Trabalhista (PDT) da Câmara dos Deputados com o governo. O caso se soma a uma série de outros acontecimentos que mostram o aumento do cerco ao governo Lula, na medida em que se aproximam as eleições de 2026.
Cresce também a sabotagem interna. Além de Carlos Lupi, ex-ministro e presidente do PDT que “tirou o corpo fora” e não defendeu o governo, destacam-se os casos da ministra Marina Silva e seu aliado, o presidente do Ibama, que continua sabotando a exploração de petróleo na Margem Equatorial, defendida pelo governo e capaz de gerar recursos para investimentos e geração de empregos, principalmente nas regiões Norte e Nordeste, maiores bases eleitorais do governo. No Banco Central, o indicado por Fernando Haddad e aplaudido pelos banqueiros, Gabriel Galípolo, continua comandando a política de elevação dos juros para doar mais algumas dezenas de bilhões para o “bolsa banqueiro”, enquanto dezenas de milhões sobrevivem com o mísero Bolsa Família, sem reajuste há quase três anos.
A direita se fortalece em todas as frentes, enquanto o governo segue desnorteado, apostando na mesma política que fracassou de forma retumbante até o momento: a conciliação e a capitulação diante do imperialismo e de seus lacaios no Brasil. Assim, caminha na direção de fortalecer as alianças suicidas com a direita (disfarçada de “centro”), que ameaça “roer a corda” e dá claros sinais de que pode fazê-lo, uma política que ameaça, inclusive, com um enorme retrocesso eleitoral da esquerda e com retrocessos cada vez maiores para o povo brasileiro.
Além das ações lavajatistas, da sabotagem interna e das rupturas, a direita “tradicional”, há anos sem apoio popular e que se sustenta no controle do aparato do Estado e nas manipulações no Judiciário, Congresso, imprensa capitalista etc. para manter seu controle do Estado, realizam articulações para “dar o bote” e impor seus interesses contra a polarização política (não querem Lula nem Bolsonaro), buscando impor uma alternativa própria ou o controle do governo de Lula, com uma presença menor da esquerda, ou do bolsonarismo, sem Bolsonaro e sem uma maior influência dos setores a ele vinculados.
Mesmo com enormes atritos internos, resultado do avanço da crise, o “centrão” busca se fortalecer. Foi anunciada a criação de uma federação reunindo o União Brasil e o PP, agrupando 109 deputados federais e 14 senadores, além de contarem com 6 governadores e 1.343 prefeitos. Por sua vez, os presidentes do MDB, Baleia Rossi, e do Republicanos, Marcos Pereira, anunciaram conversas sobre a possibilidade de formar uma federação partidária que, se efetivada, reuniria 88 deputados federais e 15 senadores, 4 governadores (incluindo o de SP) e mais de 1.300 prefeitos. Ainda que com divisões internas, os dois blocos e outros setores – como o liderado pelo secretário de governo de SP, Gilberto Kassab, também presidente do PSD – debatem a possibilidade de uma candidatura comum, da chamada “terceira via”.
Mesmo diante da campanha externa e dentro do governo pela sua liquidação, o governo não reage. Não lança mão da sua maior arma, que seria mobilizar as forças populares que apoiaram a eleição de Lula, para o que seria preciso tomar as medidas necessárias efetivas de atendimento de necessidades do povo trabalhador (e não “perfumarias”), e uma política de enfrentamento com a direita que o ataca, o que o governo procura evitar a todo custo, inclusive, o do risco de sua liquidação.
A esquerda se limita a apoiar a campanha reacionária da direita golpista de perseguir politicamente seus adversários (como fizeram no passado com Lula), reforçando o poder mais reacionário e conservador da República. Uma gravíssima ameaça – cada vez mais presente – contra os trabalhadores e suas organizações.
A sabotagem ao 1º de Maio, a falta de iniciativa diante da alta de juros e a total submissão da esquerda parlamentar e da burocracia sindical à política de capitulação do governo, pavimentam o caminho para uma grande derrota, com consequências ainda mais graves que aquelas do golpe de 2016 (derrubada de Dilma Rousseff) e 2018 (prisão de Lula).
A hora de reagir está passando, não há tempo a perder.
Mais do que nunca, é preciso debater entre os trabalhadores, a juventude e nas suas organizações, uma política de enfrentamento, um programa próprio, para armar explorados para a intensa luta política da próxima etapa, com uma perspectiva própria diante da situação.