Em discurso na abertura do 60º Congresso da União Nacional dos Estudantes, presidente rejeita pressões externas e critica Bolsonaro.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursou na abertura do 60º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), realizado na Universidade Federal de Goiás (UFG), em Goiânia, na quinta-feira (17). Vestido de vermelho e com o boné da UNE, Lula falou por meia hora diante de cerca de 10 mil estudantes.
Relações com os Estados Unidos
Lula destacou o histórico das relações diplomáticas entre os países: “Temos duzentos e um anos de relações diplomáticas com os Estados Unidos. Não é 200 dias, é 201 anos. O Brasil tem um déficit comercial de serviço e de comércio de 410 bilhões em 15 anos. Portanto, os Estados Unidos é muito superavitário com relação ao Brasil.”
O presidente criticou as pressões americanas: “É por isso que a gente não aceita a ideia do presidente mandar uma carta via o e-mail dele dizendo que a partir do dia 1º, se não libertar o Bolsonaro, sabe, que vai taxar em 50%. Nós vamos responder da forma mais civilizada possível e da forma que um democrata responde.”
Defesa da soberania nacional
Lula foi enfático sobre a não interferência externa: “A primeira coisa é que nós não aceitamos que ninguém, ninguém de nenhum país fora do Brasil se meta nos nossos problemas inteiros que é dos brasileiros.”
O presidente fez uma declaração direta: “Não é um gringo que vai dar ordem a esse Presidente da República. Não é.”
Situação de Bolsonaro e tentativa de golpe
Lula explicou a situação judicial: “É a primeira vez na história desse país que nós temos três generais de quatro estrelas presos. É a primeira vez na história desse país. E não estão presos à toa, estão presos porque tentaram dar um golpe, inclusive com insinuações de que era preciso matar o Lula, matar o Alexandre Moraes e matar o meu vice.”
Sobre o julgamento, declarou: “Essa gente vai ser julgada. Não vai ser julgada porque o Lula quer que ele seja julgado. Eu não estou juiz. Vai ser julgada porque eles mesmos se autodelataram e quem está julgando eles são os ministros da Suprema Corte com base nos autos do processo.”
Lula fez uma comparação com os Estados Unidos: “E eu disse ontem para a imprensa, se o Trump morasse no Brasil, e ele tentar fazer aqui no Brasil o que ele fez no Capitólio, certamente ele também estava julgado e poderia ser preso. Certamente.”
Críticas a Bolsonaro
O presidente criticou duramente o ex-presidente: “Agora, manda o filho dele para os Estados Unidos, vai lá, vai lá pedir para o Trump me absorver, vai lá, vai lá pedir, vai. E fica abraçado na bandeira americana esse patriota falso.”
Lula defendeu a retomada dos símbolos nacionais: “Nós vamos tomar a bandeira verde e amarela. A bandeira verde e amarela vai voltar até o povo brasileiro. O Bolsonaro que se abraça a bandeira americana, transfira seu título para lá e vai voltar lá, porque aqui quem manda, aqui quem manda somos nós, brasileiros.”
Sobre o comportamento de Bolsonaro, disse: “Ele que não veja mais falar da bandeira verde e amarela, ele que tenha vergonha, se esconde da sua covardia e deixe esse país viver em paz.”
Regulamentação das plataformas digitais
Lula anunciou medidas sobre empresas americanas: “E eu queria dizer para vocês que a gente vai julgar e vai cobrar imposto das empresas americanas digitais.”
O presidente justificou a regulamentação: “Nós não aceitamos que, em nome da liberdade de expressão, você fica utilizando para fazer agressão, para fazer mentira, para prejudicar. Violência contra a criança, violência contra as mulheres, violência contra os negros, violência contra LBGTQIA+, ou seja, tudo que é tipo de violência.”
Defendeu a proteção das crianças: “Aqui a gente não vai permitir, porque o dono do Brasil é o povo brasileiro e nós não vamos permitir que as nossas crianças sejam vítimas de coisas que não estão sob o nosso controle.”
Experiência em negociação
Lula destacou sua trajetória: “Todo mundo aqui sabe que eu nasci, eu nasci na política fazendo greve. E quando a gente faz greve, a gente faz acordo. Eu nasci aprendendo a fazer negociação. Eu tenho certeza que o presidente americano jamais negociou 10% do que eu negociei na minha vida. Jamais.”
Sobre sua agenda diplomática, declarou: “Nesses dois anos, eu já tive reunião com 54 países da União Africana, eu já tive reunião com todos os países da União Europeia, eu já tive reunião com a China, com o Japão, com o Vietnã, já me reuni com toda a América Latina, já me reuni com todo o Caribe.”
Convocação à juventude
Lula alertou sobre a representação política: “A esquerda toda que está aqui não tem mais que 140 deputados no Congresso Nacional, de um total de 513. E no Senado, temos só doze. Para aprovar qualquer coisa, precisamos de maioria.”
Fez questionamentos estratégicos: “Como é que o PT é capaz de eleger um presidente da República cinco vezes e só faz setenta deputados federais? Será que o povo está nos compreendendo? Por que o povo não vota nos deputados e senadores de esquerda? Esse é um desafio para a juventude pensar.”
Alertou sobre as fake news: “A juventude é muito vulnerável à máquina das empresas de tecnologia. É importante que aprenda a distinguir a mentira da verdade, senão vamos fazer uma eleição com base numa guerra de inteligência artificial.”
Propôs uma alternativa: “Não quero uma sociedade de algoritmos, quero uma sociedade de humanistas. Construir companheiros de verdade, de carne e osso.”
Origem pessoal e soberania
Lula encerrou com uma declaração pessoal: “Um cara que nasceu em Caítes, saiu de São Paulo, chegou em São Paulo com sete anos de idade, comeu pão pela primeira vez com sete anos, sobreviveu criado por uma mãe com oito filhos, sabe? Chegou a Presidenta da República, não é um gringo que vai dar ordem a esse Presidente da República.”
Definiu sua lealdade: “Eu tenho um patrono nesse país. Eu sei a que eu devo respeitar nesse país. Eu sei quem é que manda nesse país. Eu sei quem faz esse país ser o que é. O nome dessa pessoa só tem quatro letras, chama-se povo brasileiro.”
Sanção de projeto educacional
Durante o evento, Lula sancionou o Projeto de Lei 3.118/2024, que amplia o uso dos recursos do Fundo Social para financiar políticas de assistência estudantil em instituições públicas.
O 60º Congresso da UNE acontece de 16 a 20 de julho de 2025, em Goiânia, com o tema “O Brasil se une pela soberania”.