O artigo Réus do golpe: patética tentativa de tapar o sol com peneira, escrito por Teresa Cruvinel, e publicado nesta quarta-feira (11), encerra uma grande contradição. Diz que “Quando isso terminar, a democracia brasileira terá alcançado um novo patamar de maturidade. Pela primeira vez terá punido os que atentaram contra ela”. Ocorre que quando mais essa farsa judiciária terminar, o Brasil estará muito menos democrático.
A autora do artigo deveria se perguntar, já que fala em democracia, como pode um juiz julgar um caso no qual figura como vítima? É uma aberração. Não se trata de um julgamento, mas de uma farsa.
Em seu primeiro parágrafo, Cruvinel faz um comentário seguido de uma pergunta: “O interrogatório dos réus do golpe, encerrado na terça-feira, deve ter causado em todos que o assistiram a sensação que eu tive. Encontrei pessoas que me disseram ter sentido o mesmo: como pode o Brasil ter sido governado por estas pessoas tão despreparadas, toscas, limitadas na própria capacidade de expressão, desprovidas do equipamento intelectual e mesmo cognitivo exigido pelas funções que ocuparam? Como pudemos ter um presidente como Jair Bolsonaro?”.
A resposta é simples: o imperialismo e a burguesia nacional decidiram que qualquer um deveria governar o País, menos o PT.
Bolsonaro subiu ao poder porque Lula foi preso e impedido de concorrer. Mas quem foi que negou habeas corpus a Lula? Foi o Supremo Tribunal Federal (STF), com voto do senhor Alexandre de Moraes, esse que está à frente desse teatro.
Todos sabiam que Bolsonaro era essa figura que ela descreve. Portanto, ela deveria se perguntar: Como puderam eleger um presidente como esse?
Cruvinel disse que Bolsonaro, em seu depoimento, passou do ponto nas brincadeiras “tentou fazer com o ministro Alexandre de Moraes: a promessa de enviar vídeos de sua próxima viagem ao Rio Grande do Norte e o convite para que o ministro seja seu vice em 2026”. Talvez seja gratidão, quem sabe? Afinal, os votos de ministros, como Moraes, que colocaram Lula na cadeia foram fundamentais para sua eleição.
Por alguma razão, Teresa Cruvinel acredita que o clima “amistoso” de Bolsonaro no depoimento é uma admissão aos seus “que será preso e pede que continuem lutando por ele”.
Não se sabe o porquê da tentativa de “descontrair” de Bolsonaro. Se, por algum motivo, ele se sente confiante porque o STF não tem nada de concreto contra ele, é preciso lembrá-lo que no Brasil se prende sem provas, basta que a “literatura” permita.
Depoimento
Os réus, como diz o artigo, “admitiram que fizeram tudo o que foi contado por Mauro Cid”; no entanto, negam que tenha sido uma tentativa de golpe. Segundo Bolsonaro teria explicado, eram “desabafos” e a tal “minuta do golpe” passou a ser chamada de “considerandos”. E que termos como “Estado de sítio, de defesa e GLO foram mencionados como ‘meras hipóteses’ examinadas, ‘dentro das quatro linhas da Constituição’”. Além disso, o ex-presidente teria repetido algumas vezes: “Não assinei nada”.
Ainda que a Cruvinel diga que “o resultado é que confirmaram a delação de Mauro Cid, legitimaram as provas colhidas e fortaleceram os indícios que sustentam a denúncia do procurador-geral e vão orientar o julgamento”, não existe nada de concreto para condenar Bolsonaro e os demais.
Maturidade?
Fechando seu artigo, depois de dizer que com o fim desse julgamento a democracia brasileira mais madura, Teresa Cruvinel diz que “Pela primeira vez terá punido os que atentaram contra ela, e terá mostrado aos militares que eles não são tutores da República. Sou otimista. Acredito no efeito pedagógico do que estamos assistindo”. De quais militares ela está falando?
Em 3 de abril de 2018, a Rede Globo, no Jornal Nacional, ao vivo, levou uma ameaça real de golpe. William Bonner, leu o seguinte: “Sem citar o julgamento do Habeas Corpus de Lula pelo Supremo amanhã, o comandante do Exército, general Villas-Bôas, fez um comentário em repúdio à impunidade numa rede social. Ele escreveu, abre aspas; Assegura à Nação que o Exército Brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade, e de respeito à Constituição, à paz social, e à Democracia. Bem como se mantém atento às suas missões institucionais. Nessa situação que vive o Brasil – segue ainda o tuíte do general – resta perguntar às instituições, e ao povo, quem realmente está pensando no bem do País e das gerações futuras, e quem está preocupado apenas com interesses pessoais. – fecha aspas”.

Após essa ameaça, do comandante do Exército, o Supremo enfrentou os generais e tentou salvar a democracia? Não!
O STF consentiu – contra a Constituição, aquela que Villas-Bôas dizia respeitar – que Lula fosse preso. Com isso, como se sabe, Bolsonaro foi eleito.
É impossível concordar que os mesmos personagens que participaram do golpe contra Dilma Rousseff; que participaram da segunda fase do golpe em 2018, com Lula na cadeia, estejam agora lutando pela democracia. Não faz sentido.
O que está em marcha no Brasil é uma terceira fase do golpe, querem tirar Bolsonaro e Lula do caminho para colocarem no poder um Milei brasileiro, alguém que possa levar adiante a política de destruição necessária do País para dar fôlego ao imperialismo.
Infelizmente, parte da esquerda, ainda que não saiba, está participando de mais uma farsa judiciária, cujo objetivo é esmagar quaisquer resquícios de direitos no Brasil e atacar como nunca a classe trabalhadora.