O jornalista Paulo Moreira Leite, publicou, no portal Brasil 247, uma coluna intitulada Sempre estarei aqui, sobre o filme Ainda estou aqui, que venceu o Oscar de melhor filme estrangeiro.

Moreira Leite é mais um que acredita numa importância política do filme, dirigido por Walter Salles, contra a extrema direita.

“Pelo tratamento ao mesmo tempo corajoso e delicado a respeito de uma tragédia que marca a história do país – a tortura e assassinato do empresário e deputado Rubens Paiva pela ditadura de 64 –, ‘Ainda Estou Aqui’ constitui um filme corajoso e sempre oportuno, num universo onde a preservação da memória histórica constitui uma luta nem sempre vitoriosa.”

Não haveria problema achar interessante um filme que denuncia, ainda que muito superficialmente, os horrores da ditadura militar. Mas o problema central não é esse. Não há nenhuma “coragem” por parte de Walter Salles e dos produtores do filme. O que há, aqui, é uma peça de propaganda muito bem pensada pelos grandes capitalistas que promoveram o filme.

É muito ingenuidade falar em coragem. O tema foi muito bem escolhido não para denunciar a ditadura militar e seus horrores, não para denunciar aqueles que financiaram esse regime de horror e que estão ainda hoje mandando no País. E não foi justamente porque quem promoveu o filme são essas mesmas pessoas.

Paulo Moreira Leite acredita mesmo que a rede Globo – é bom sempre lembrar que o filme é uma produção da Globo Filmes – e o banco Itaú – é bom sempre lembrar que Salles é herdeiro dos banqueiros – têm interesse em denunciar a fundo o que foi a ditadura militar que eles mesmos financiaram e apoiaram? É claro que não. Por isso a opção por retratar os efeitos superficiais da ditadura, ou seja, os efeitos sobre a família de classe média alta cujo pai, deputado, foi covardemente sequestrado e assassinado.

Antes que os histéricos gritem, não se trata aqui de negar, nem mesmo de diminuir o que aconteceu com Rubens Paiva. O debate é o ângulo escolhido para o filme. A crítica mais leve e de senso comum que se pode fazer contra o regime militar é a de que ele era antidemocrático. Uma denúncia mais profunda da ditadura obrigatoriamente revala em posições mais radicais e revolucionárias, mostrando que os que financiaram aquele golpe são os que ainda hoje mandam no País. É claro que a rede Globo, os grandes capitalistas e o imperialismo não querem isso de jeito nenhum!

A ditadura militar aqui foi usada com um objetivo bem pontual: a propaganda ideológica atual da falsa luta entre “democracia” e “ditadura”. Distorcendo uma interpretação mais profunda do regime militar, os capitalistas que financiam e promovem o filme estão interessados na propaganda contra seus inimigos políticos que eles chamam de “ditadores”. Aqui pode entrar a Rússia, a China, o Irã, Cuba, a Venezuela e também Donald Trump e Bolsonaro.

No entanto, a ditadura militar que ocorreu no Brasil entre 1964 e 1985 não foi feita nem por Trump, nem por Bolsonaro, menos ainda pela China, pela Rússia ou o Irã. Ela foi arquitetada, financiada, promovida e sustentada pelos que hoje se dizem “democratas”, pelos que hoje promovem o filme como o grande bastião pela democracia.

Naturalmente, os capitalistas, ao levarem adiante sua luta contra seus inimigos políticos, acabam sendo obrigados a revelar coisas que não são bonitas e que eles mesmos defendiam no passado. É uma contradição típica do capitalismo, quando dois poderosos brigam, o povo se beneficia. Portanto, pode ser, como defende Paulo Moreira Leite, que o filme sirva para despertar em alguns setores o que realmente foi aquele período. Mas isso seria apenas numa parte ínfima da população, o que, posto na balança, não muda em nada a situação política. Pelo contrário, a propaganda cínica da rede Globo de que ela é a grande democrata do Brasil, isso sim é prejudicial para o povo, já que permite que a Globo se regenere para continuar atacando o povo com cada vez mais brutalidade.

O filme é peça de propaganda dos falsos democratas que precisam manter seu domínio sobre o mundo. É a peça de propaganda dos verdadeiros fascistas, o imperialismo, que promoveu o golpe no País em 1964 – e em 2016 também – para roubar o Brasil. E para isso, sustentou um regime de perseguições, torturas e assassinatos, que agora quer fingir que não tem nada a ver com ele.

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Last Update: 05/03/2025