Opinião Socialista – Qual a avaliação do 3º Dia Nacional de Luta pelo Fim da Escala 6×1?
Renata França – Aconteceram atividades, como atos e panfletagens, em mais de 50 cidades, sendo 16 capitais e o Distrito Federal. Foi um dia de luta mais forte que o anterior. Isso mostra que a pauta segue viva, o que ficou demonstrado também pelo apoio popular aos atos.
Os atos exigiram um posicionamento do governo Lula. Ano passado, o ministro Luís Marinho defendeu a negociação entre patrão e trabalhador como saída, sendo que as negociações têm imposto escalas como a 10×1 praticada na rede Zaffari. O que Lula poderia de fato fazer para pôr fim à escala 6×1?
Lula poderia sancionar uma Medida Provisória que proibisse a escala 6×1 e chamar todo movimento social às ruas, construir uma greve geral, para que, assim, baseado na força do movimento, revogasse a reforma trabalhista e empalmasse a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) pela redução da jornada de trabalho, sem redução de salários e direitos. Mas o PT, que tanto critica a correlação de forças desfavorável no Congresso, preferiu apostar na frente ampla com o Centrão e setores da direita bolsonarista, do que se apoiar no movimento de massas. Vários canais de mídia ligados ao PT questionaram os rumos do movimento, alertando o perigo de transbordar, sair do controle deles e atacaram os que criticavam pela esquerda o governo. O fantasma da volta da ultradireita tem sido usado para blindar um governo que tem atendido apenas à pauta dos banqueiros, dos grandes empresários e do agronegócio.
E como derrotaremos a ultradireita?
O fim da escala 6×1 é uma pauta que nos permite desmascarar os representantes da ultradireita. Nas redes sociais, o deputado Nikolas Ferreira (PL) foi pressionado pelos seus próprios seguidores e tenta se desviar do debate. O falso argumento de que a redução da jornada geraria crise econômica e inflação não se sustenta. O que esses ultraliberais querem é aumentar o patamar de exploração com a desregulamentação total da jornada, sem direitos. Mas a postura do governo Lula só fortalece a ultradireita. Sua política fiscal, de favorecimento do agro, tem levado a inflação dos alimentos às alturas. Não é à toa que essa situação tem gerado insatisfação popular.
O que esperar da tramitação da PEC no Congresso Nacional?
A tramitação da PEC não é um fim em si, é apenas um meio para concretizar, na forma da lei, essa luta que só será vitoriosa se ultrapassar a via institucional. A redução da jornada, sem redução de salários, só virá com pressão popular. Ainda que tentem convencer os trabalhadores de que o Congresso é a casa do povo, o Congresso e o Senado são balcões de negócios dos capitalistas e não devemos subordinar nossa luta aos seus tempos e trâmites.
Sentimos a falta do Movimento Vida Além do Trabalho (VAT) nos atos. Por que eles não participaram?
O VAT foi convidado para a plenária nacional que deliberou o dia 16 como dia nacional de luta. Também foi convidado para as reuniões regionais e a todos os atos que temos construído. Contudo, tem uma estrutura cada vez mais centralizada, onde seus membros não têm espaço para crítica e construção coletiva. Está perdendo seu caráter de movimento social, se limitando às ações do mandato de Rick Azevedo. Mas muitos ativistas do VAT seguem construindo as mobilizações e alguns estiveram nas manifestações desse dia 16, ainda que a coordenação do VAT não tenha se posicionado e convocado as mobilizações. As centrais sindicais também sequer convocaram os atos, apenas a está jogando suas forças na construção do movimento. Todos os ativistas do VAT e demais organizações são bem-vindos para somar através dos espaços democráticos e abertos que temos fomentado.
Por fim, quais serão os próximos passos da campanha?
Como aprovado na Plenária Nacional, realizaremos reuniões e plenárias por região, buscando atrair mais trabalhadores da escala 6×1 e seguir construindo um calendário de luta e ações nos locais de trabalho. Estaremos novamente nas ruas no próximo dia 8 de março, vamos gritar bem alto que as mulheres trabalhadoras não são escravas, que a redução da jornada é urgente para nós que fazemos uma dupla jornada e recebemos os piores salários. Assim como levantaremos a bandeira do fim da escala 6×1 também no 1º de Maio, dia que teve origem na luta dos operários norte-americanos pela redução da jornada. Não daremos um segundo de descanso para os capitalistas, para este Congresso reacionário e para todos os governos, até que seja proibida essa escala desumana.