O texto Governo vive aliança tóxica com partidos que sabotam sua própria base, assinado por Aquiles Lins, e publicado nesta segunda-feira (23) no Brasil 247, é mais uma daquelas matérias com título estranho que a esquerda costuma utilizar. Isso de “aliança tóxica”, é preciso que se diga, não cabe em política, ainda se possa utilizar analogias da vida cotidiana para descrever eventos políticos.

Os identitários costumam utilizar esse jargão, especialmente quando há interesse de se cancelar alguém. Em uma relação “tóxica”, alegadamente, existe um lado frágil, ou que sofre abuso. Há, em suma, um desequilíbrio entre as partes.

De um governo, no entanto, não se deve afirmar que exista tal tipo de relação, pois seria uma espécie de assentimento de sua fraqueza. Mesmo assim, Lins afirma que “o governo Lula 3 é alvo de uma relação abusiva com partidos da direita e centro-direita que compõem, mas não compõem a base do governo”.

Como este Diário afirmou desde a formação da chapa de Lula, a aliança com setores da burguesia e o distanciamento com a base trabalhadora, redundariam em um enfraquecimento do governo, conforme se pode verificar.

Lins utiliza como exemplo dessa relação abusiva “o caso do União Brasil, que ocupa nada menos que três ministérios e possui forte presença na máquina pública federal, mas tem se revelado o parceiro mais infiel do bloco governista”. E exemplifica dizendo que “reportagem da Folha de S. Paulo escancara o descompasso entre os cargos entregues e os votos negados por essa legenda, que, mesmo com assento no governo, atua frequentemente como linha auxiliar da oposição”.

Qualquer pessoa deve se perguntar: por que o governo continua nessa “relação tóxica”. Outros mais cínicos dirão “casou porque quis”, e assim por diante.

Aquiles Lins ainda faz uma observação importante: o “União Brasil, que tem um candidato declarado a presidente – Ronaldo Caiado, tem liderado ataques públicos ao Palácio do Planalto. Em abril, uniu-se ao PP — outro partido fisiológico e de viés oposicionista — em uma federação que simboliza a ruptura com qualquer compromisso real com o governo”.

E mais “dirigentes da sigla como Antonio Rueda e ACM Neto não apenas atacaram a política fiscal do ministro Fernando Haddad, como descartaram qualquer possibilidade de estarem ao lado de Lula em 2026”. Como não existe nada tão ruim que não possa piorar, “ACM Neto foi direto: ‘não faz sentido ocupar cargos e não estar com o governo em 2026’”.

Voltando à questão do título, uma pessoa só permanece em uma relação “tóxica” se não percebe o que está acontecendo – o que é inadmissível para políticos –, ou não tem para onde ir. Qual é a situação do governo Lula? O único lugar para onde deveria ter ido, desde o início, era para junto da classe trabalhadora, que nunca traiu Lula.

Para o jornalista, “a frase do ex-prefeito de Salvador, que deveria ser vocalizada por um agente do governo, sintetiza a disfunção da aliança: se não há compromisso político com o governo, o que justifica a permanência do União Brasil em postos estratégicos do Executivo?”.

Acertadamente, Aquiles Lins diz que “a resposta talvez esteja na velha aposta do presidencialismo de coalizão, que parte do pressuposto de que distribuir ministérios garante governabilidade”. Apenas não mencionou que quem buscou essas coalizões desde o início foi o próprio Lula.

A escolha de Geraldo Alckmin para vice na chapa foi feita à revelia da vontade da massa trabalhadora. E, com apontou Lins, “essa fórmula tem se mostrado falida”.

O que fazer?

O governo deveria, obviamente, tomar a iniciativa de procurar a classe trabalhadora, o que não vai cair do céu. Se teve iniciativa de buscar apoios por cima, deve ter também para com sua base social.

Isso tampouco deve ser algo abstrato, mas começar com a troca de toda a equipe econômica, por exemplo. O governo poderia fazer uso da palavra, e os políticos estão aí para isso, e denunciar o aumento criminoso dos juros. Lula poderia alegar que nem mesmo indicando um presidente do Banco Central as coisas mudaram, poderia mostrar que eles vão sempre estar no bolso dos banqueiros e que se faz necessário o retorno do BC para o controle do governo.

Lula poderia demonstrar que está sendo barrado pelo Congresso. O PT, ao mesmo tempo, poderia mobilizar os sindicatos para fazer o povo se manifestar contra o aumento de juros. Os sindicatos e o PT poderiam fazer campanha pelo não pagamento da dívida e por uma auditoria de uma dívida pública que asfixia a economia nacional.

Lula tem que se livrar dos sabotadores que colocou nos ministérios, pois não é só o União Brasil. Ministras como Marina Silva e Sônica Guajajara estão agindo abertamente contra a exploração de riquezas e geração de novos empregos.

O governo não pode ficar refém de um simples órgão burocrático como o Ibama, é inadmissível. Todos sabem que o impedimento da exploração de petróleo não tem nada a ver com a preservação de biomas ou das terras dos “povos originários”. Tem a ver com a defesa de interesses abertamente imperialistas, que querem que o País deixe suas riquezas no subsolo, preservados para serem drenados em um momento mais oportuno pelo grande capital internacional.

Comunicação direta

Lula tem que falar diretamente com o povo, não pode ficar à mercê da grande imprensa, que mais de uma vez já o sabotou, que pediu sua prisão e até mesmo sua cabeça, como fez a criminosa revista Veja.

Até mesmo Jair Bolsonaro consegue apresentar uma imagem (demagógica) de anti sistema.

As eleições estão chegando, o que significa que a burguesia vai aumentar o cerco e a pressão sobre Lula, pois o quer fora do próximo mandato.

Aos poucos, muito aos poucos, alguns dirigentes petistas estão falando em retomar as bases; alguns ensaiam críticas ao Supremo Tribunal Federal, mas tudo é muito tímido e inócuo.

O cenário à frente não é nada promissor. Ou Lula e o PT dão uma guinada, ou podem amargar uma derrota política muito em breve. A direita está agindo e é preciso agir, ficar esperando por um milagre, uma medida salvadora, é pedir para perder.

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Last Update: 24/06/2025