O governo iraniano elevou o tom nessa quarta-feira (11) e deixou claro que responderá com firmeza caso a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) aprove uma nova resolução criminosa contra o país. A cínica proposta — elaborada por França, Reino Unido e Alemanha, e apoiada diretamente pelos Estados Unidos — acusa a República Islâmica do Irã de não cooperar com inspeções nucleares e sugere violações do acordo nuclear de 2015, o Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA).

A medida foi apresentada durante a reunião do Conselho de Governadores da AIEA, iniciada no dia 9 de junho, em Viena, capital da Áustria. Ela deverá ser votada até a próxima sexta-feira (13), quando a reunião será encerrada.

O ministro das Relações Exteriores iraniano, Saied Abás Araqchi, classificou a resolução como “um erro estratégico grave” e afirmou que a responsabilidade por qualquer deterioração recairá totalmente sobre os autores da proposta. “Esses três países falharam completamente em cumprir seus compromissos. Agora alimentam a confrontação”, disse, acusando o trio europeu de agir sob influência direta do imperialismo norte-americano.

Araqchi também defendeu o avanço do programa nuclear iraniano como resposta legítima à retirada unilateral dos Estados Unidos do acordo em 2018. Para ele, punir o Irã por tentar exercer seu direito dentro do JCPOA é “absurdo”.

A Organização de Energia Atômica do Irã (OEAI) confirmou que uma lista de medidas de retaliação está pronta, incluindo a redução da cooperação técnica com a AIEA. Parte das ações será operacional — restringindo acesso a instalações — e outra parte, diplomática.

O Irã denuncia que as acusações da AIEA se baseiam em documentos falsos, fornecidos pelo Estado de “Israel”, chamado por Araqchi de “inimigo declarado”. O governo iraniano afirma que se trata de uma tentativa orquestrada para sabotar seu programa nuclear civil.

A AIEA é o órgão da Organização das Nações Unidas (ONU) responsável por monitorar o uso pacífico da energia nuclear. A nova resolução — se aprovada — pode acionar o mecanismo de “snapback”, previsto no próprio JCPOA, que permite a reativação imediata de todas as sanções internacionais suspensas desde 2015.

Isso incluiria bloqueios à exportação de petróleo, restrições bancárias, barreiras comerciais e tecnológicas — afetando setores essenciais como saúde, transporte e energia. As sanções resultariam na perda de bilhões de dólares para a economia iraniana.

Além do impacto econômico, a resolução representaria o colapso do esforço diplomático iniciado com o acordo nuclear. “Não é uma resolução técnica. É uma arma política”, afirmou um diplomata iraniano em Viena. “É uma estratégia para deslegitimar o Irã, isolar o país e justificar novas sanções.

A proposta recebeu fortes críticas da Rússia. Para Mikhail Ulyanov, representante russo na AIEA, a resolução é “muito ruim, injusta” e “não traz nada de novo”. Segundo ele, a resolução apenas intensifica o confronto entre a República Islâmica do Irã e as potências imperialistas.

Ulyanov destacou que os países imperialistas cobram o cumprimento do acordo por parte do Irã, mas não demonstram qualquer intenção de cumprir suas próprias obrigações — sobretudo no que diz respeito ao levantamento de sanções. A Rússia é signatária original do JCPOA, e sustenta que a resolução compromete qualquer chance de retomada das negociações.

O mesmo trio europeu que se prepara para aumentar sua lista de crimes contra o país mais independente do Oriente Próximo também ameaça a Rússia de um ataque nuclear. Em março deste ano, o presidente francês Emmanuel Macron surpreendeu o mundo ao dizer que estaria disposto a utilizar armas nucleares para proteger seus “aliados” da Rússia. O trio também tem sabotado as tentativas de um acordo de cessar-fogo na Guerra da Ucrânia, o que pode levar o conflito para uma fase atômica.

Apesar do clima tenso, uma nova rodada de negociações indiretas entre Estados Unidos e Irã está prevista para o próximo domingo (15), em Omã. A aprovação da resolução, no entanto, poderá implodir qualquer tentativa de negociação.

Enquanto ocorria a reunião em Viena, os Estados Unidos intensificaram as acusações públicas. O secretário de Defesa Pete Hegseth declarou ao Congresso que o Irã estaria se aproximando de capacidades militares nucleares. “Há indícios claros de que o Irã caminha para algo que se parece com uma arma nuclear”, afirmou, sem apresentar prova alguma.

Ao mesmo tempo, os EUA iniciaram movimentações militares na região. Tropas foram colocadas em estado de alerta no Barém e no Iraque. Familiares de militares começaram a ser evacuados e a embaixada norte-americana em Bagdá recebeu sinal verde para uma retirada parcial. O Reino Unido emitiu alertas para embarcações comerciais que cruzam o Golfo Pérsico, prevendo risco de “atividade militar escalada”.

Essas ameaças, no entanto, não passam de uma provocação contra a República Islâmica. Elas visam forçar o Irã a tomar alguma medida que seja utilizada de pretexto para endurecer as sanções contra a nação persa.

O porta-voz da chancelaria iraniana, Esmaeil Baghaei, confirmou que o país tem “medidas proporcionais” prontas para executar caso a resolução seja aprovada. Ele também criticou o diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, por alinhar a agência aos interesses de “Israel” e dos Estados Unidos. “Esse relatório serve apenas à guerra psicológica sionista”, declarou.

O chefe da Organização de Energia Atômica do Irã (OEAI), Mohammad Eslami, afirmou que o Irã vai “avançar poderosamente” em seu programa nuclear em resposta às “mentiras do Ocidente”. Autoridades iranianas reafirmaram que o país não busca armas nucleares por motivos morais e religiosos, mas alertam que, se provocados, romperão protocolos de transparência e cooperação.

No campo militar, o recado é ainda mais claro. O ministro da Defesa, Aziz Nasirzadeh, confirmou o teste de um míssil com ogiva de duas toneladas e avisou: “se formos atacados, os EUA sofrerão perdas pesadas”. O comandante da Guarda Revolucionária completou: “estamos prontos para todos os cenários. Se houver conflito, o inimigo será forçado a deixar a região”.

Apesar das provocações vindas do governo norte-americano, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, indica querer evitar a escalada. Em conversa com o primeiro-ministro israelense Benjamin Netaniahu, Trump teria sido enfático: “vocês não têm sinal verde para atacar o Irã. Um acordo será fechado. Um ataque precisa ser retirado da pauta agora”, disse, segundo a emissora israelense Canal 12.

A mesma emissora afirma que Netaniahu queria que os Estados Unidos abandonassem as negociações e apoiassem uma ofensiva militar. Trump não apenas rejeitou essa operação, como também teria pedido que “Israel” reduzisse a escalada genocida na Faixa de Gaza. A entidade sionista, no entanto, ameaça realizar um ataque contra as instalações nucleares do Irã.

Há meses o governo Trump vem tentando fazer o país persa capitular através de um acordo sobre seu programa nuclear. Enquanto os EUA exigem o fim do enriquecimento de urânio, o Irã já afirmou reiteradamente que esta é uma linha vermelha, e que o enriquecimento do mineral não será abandonado. O governo Trump também já expressou que deseja o fim do programa de mísseis balísticos iraniano, o que o Irã descartou sumariamente.

Além disso, Trump declarou, em entrevista que foi ao ar na segunda-feira (9), no podcast Pod Force One, que está cada vez “menos confiante” de que conseguirá alcançar um acordo com o Irã, sobre o programa nuclear.

Achei que haveria, mas estou cada vez menos confiante nisso. Eles parecem estar procrastinando e acho que isso é uma pena, mas estou menos confiante agora do que há duas semanas. Algo aconteceu com eles e agora estou muito menos confiante de que um acordo possa ser alcançado”, declarou Trump.

No mesmo programa, ele afirmou que “se houver um acordo, o Irã também não terá armas nucleares”, ao mesmo tempo em que enfatizou que “seria melhor chegar a um acordo sem guerra, sem a morte de pessoas”, uma ameaça ao país persa.

Deve ser destacado que em maio, Abbas Araghchi, ministro das Relações Exteriores do Irã, que lidera as negociações, publicou em sua página da rede X que o país persa aceitaria um acordo em que abrisse mão de construir armas nucleares, deixando claro que a linha vermelha diz respeito tão somente ao enriquecimento de urânio para fins civis.

A ameaça de sanções contra o Irã é uma demonstração de que o imperialismo se prepara para uma guerra de grandes proporções contra a nação persa. O pretexto para punir o país já revela, em si, o motivo da guerra: o imperialismo não suporta que um país como o Irã seja soberano militar e energicamente.

A incompatibilidade entre a República Islâmica e a dominação imperialista sobre o Oriente Próximo ficou comprovada nas duas espetaculares operações iranianas em retaliação às provocações realizadas por “Israel” — Promessa Cumprida I e Promessa Cumprida II. Em ambos os casos, o Irã demonstrou não apenas ser uma potência bélica e estabeleceu um novo poder de dissuasão na região, como também provocou um enorme prejuízo aos cofres norte-americanos e israelenses.

Esta é a política do imperialismo para a atual etapa: guerra total aos países que se rebelarem contra a sua dominação. Guerra contra a Rússia, que decidiu dar um basta na expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Guerra contra o povo palestino, que decidiu dar um basta nos quase 80 anos de Nakba.

A defesa da República Islâmica do Irã é um dever de todos os povos oprimidos. É preciso apoiar incondicionalmente a luta de todos os que hoje enfrentam o imperialismo, para que a sua ofensiva contrarrevolucionária seja derrotada e, assim, abrir o caminho para uma nova etapa de revoluções.

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Last Update: 12/06/2025