O cartunista palestino Naji al-Ali é reconhecido em todo o mundo árabe e fora dele por ter criado Handala, uma das figuras mais emblemáticas da luta do povo palestino. Ao longo de sua trajetória, produziu cerca de 14 mil caricaturas, muitas delas centradas na situação do povo palestino, na crítica aos regimes árabes e à ocupação sionista.

Al-Ali nasceu na aldeia de al-Shajara, no distrito de Tiberíades, e foi expulso de sua terra natal com a família após a ocupação sionista da Palestina em 1948. Refugiou-se no Líbano, onde passou a viver no campo de Ayn al-Hilwa, em Saida.

Sua educação inicial se deu numa escola mantida pela União das Igrejas Cristãs, onde concluiu o ensino fundamental em 1951. Trabalhou na colheita de azeitonas e laranjas antes de se mudar para Trípoli, onde obteve um diploma em mecânica em 1953.

Entre 1957 e 1959, trabalhou na Arábia Saudita como mecânico. Com as economias desse período, construiu um cômodo de alvenaria para a família no campo de refugiados.

Retornando ao Líbano, tentou estudar na Academia Libanesa de Belas Artes, mas abandonou o curso em razão das repetidas detenções por conta de sua militância no Movimento Nacionalista Árabe. Foi nessa época que passou a lecionar desenho para crianças em uma escola na cidade de Tiro.

O início de sua carreira como cartunista profissional se deu em 1962, quando o escritor e militante palestino Ghassan Kanafani publicou seus desenhos na revista al-Hurriyya, após visitá-lo em uma exposição no campo de refugiados. No ano seguinte, mudou-se para o Cuaite, onde trabalhou como ilustrador e editor na revista al-Tali‘a. Em 1966, retornou ao Líbano, colaborando com a revista al-Hurriyya e o jornal al-Yawm, antes de retornar novamente ao Cuiate.

Foi durante esse período, em 1969, que criou Handala, personagem que passaria a assinar seus desenhos. O menino de dez anos, sempre retratado de costas com as mãos cruzadas, tornou-se símbolo da identidade nacional palestina, da resistência e da recusa à normalização com o ocupante. Segundo o próprio autor, Handala “não cresceria até retornar à Palestina”, representando o exílio forçado e a resistência contínua.

Após o fechamento temporário da revista al-Tali‘a, passou a desenhar para o jornal diário al-Siyasa, no qual permaneceu até 1974. Em março do mesmo ano, voltou a Beirute para trabalhar no recém-lançado jornal al-Safir, onde sua produção alcançou ampla notoriedade em todo o mundo árabe. Em 1976, retornou ao Kuwait, novamente para o al-Siyasa, e em 1978 regressou ao al-Safir, onde ficou até 1983.

Com a invasão do Líbano por “Israel” naquele ano, mudou-se novamente para o Cuaite, passando a integrar a equipe editorial do jornal al-Qabas. Dois anos depois, foi expulso do país pelas autoridades, indo para Londres, onde passou a trabalhar na edição internacional do mesmo jornal.

Em 22 de julho de 1987, foi baleado por um homem não identificado nas imediações da sede do jornal al-Qabas em Londres. Atingido por um disparo abaixo do olho direito, permaneceu em coma por mais de um mês e faleceu em 29 de agosto. Foi enterrado no cemitério islâmico de Brookwood. Até hoje, a autoria do atentado permanece oficialmente desconhecida.

Naji al-Ali também foi eleito, em 1979, secretário-geral da Liga de Caricaturistas Árabes e membro do secretariado da União de Escritores e Jornalistas Palestinos. Seu trabalho foi amplamente reconhecido: venceu o principal prêmio da Exposição Árabe de Caricaturas realizada em Damasco e, em 1988, recebeu postumamente o Prêmio Caneta de Ouro da Liberdade, da Associação Mundial de Jornais. O jornal japonês Asahi Shimbun o incluiu entre os dez caricaturistas mais importantes do mundo.

Após sua morte, foi fundado em Beirute o Centro Cultural Naji al-Ali. Em 1991, sua vida foi retratada em um filme homônimo dirigido pelo cineasta egípcio Atif al-Tayyib, com roteiro de Bashir al-Dik e protagonizado por Nur al-Sharif. Em 2009, a cineasta Hana al-Ramli lançou o curta-documentário The Icon, dedicado à figura de Handala.

A crítica presente em suas obras era voltada tanto à ocupação sionista quanto às lideranças árabes e palestinas. Além de Handala, al-Ali criou personagens como Fatima, representação da mulher palestina combativa, e figuras caricatas que personificavam os líderes árabes como homens gordos, corruptos e de traseiro à mostra. Seu estilo direto, sem subterfúgios, fez com que seus desenhos circulassem amplamente no mundo árabe, apesar da censura e das perseguições.

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Last Update: 21/05/2025