Após elogiar e agradar o presidente da Câmara Hugo Motta (Republicanos) e o presidente do Senado Davi Alcolumbre (União Brasil), o governo Lula recebeu uma facada nas costas. Eles todos combinaram a Medida Provisória que fecharia as contas do Arcabouço Fiscal, construíram em reuniões fechadas e no fim o governo foi derrotado no Congresso.
O que os deputados e senadores querem? Mais emendas parlamentares, mais dinheiro público para seus currais eleitorais e um governo ainda mais refém da direita e do Centrão, para livremente articularem uma candidatura da direita ou com o governo atual caso saia das cordas.
E, junto com o agro, os fundos de investimentos, a Faria Lima e boa parte do empresariado, querem também mais ataques aos direitos dos trabalhadores, mais privilégios para os super-ricos e mais submissão do governo aos ditames do mercado.
E qual é a reação e o aceno do governo? Vai liberar R$ 2 bilhões em emendas parlamentares para o centrão, que quer enfraquecer o governo. Eles querem aprovar algo que feche as contas, desde caiba as suas “emendas” que abocanham R$ 51 bilhões do orçamento e garanta o pagamento de R$ 1 trilhão de juros da dívida.
Lula não defende os trabalhadores
O governo Lula tenta posar de defensor dos trabalhadores contra os ricos. Contudo, as medidas apresentadas são insuficientes diante do tamanho do sofrimento dos trabalhadores. Na verdade, o governo corta as verbas das áreas sociais para seguir o Arcabouço Fiscal, aprovado em unidade com o centrão e a direita.
A medida de aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), costurada pelo governo e o centrão, não mudava nada de fundo. De acordo com o próprio governo, ia apenas “resolver distorções”, e retirar uma parte – bem pequenininha de subsídios indecentes ao mercado financeiro que não pagam impostos. Porém, o trabalhador tem 27% de Imposto de Renda (IR) retido na fonte.
Enquanto as verbas das universidades federais, da saúde e dos programas sociais são bloqueadas, o governo propõe um mísero imposto de 5% sobre títulos do agro e da especulação imobiliária.
Já os lucros dos capitalistas seguem em alta, enquanto os salários seguem baixos e as jornadas de trabalho extenuantes. Nem a redução do imposto de renda que Lula prometeu saiu do papel.
O governo fala em “supostos” bons índices econômicos, contudo, o povo não sente nenhuma melhoria no nível de vida. Nada empolga os trabalhadores neste governo. O que permite a ultradireita bolsonarista nadar de braçadas na disputa ideológica, fazendo uso da mentira ou inventando que o problema é que o Lula não faz o que o mercado quer. O que essa ultradireita deseja são mais medidas de ataques aos trabalhadores como faz o governo Milei na Argentina.
Congresso hipócrita
Por outro lado, temos um Congresso Nacional composto por deputados hipócritas. Eles derrubaram várias medidas do governo para impor uma derrota e colocar vários benefícios próprios. Aprovaram o aumento da energia elétrica para agradar o lobby empresarial do setor. E o governo ainda viu ser derrubado seu absurdo veto que dificultava o acesso ao Benefício de Prestação Continuada (BPC).
Com a maior hipocrisia do mundo, os deputados dizem ser a favor de corte de gastos, mas na verdade defendem corte para os trabalhadores, quando seguem aumentando os seus privilégios e dos bilionários capitalistas, que mamam na teta do Estado, pagam bem menos impostos que os trabalhadores e têm todas as benesses para seus negócios.
Lula governa para os capitalistas
São os capitalistas os beneficiados pela política econômica do governo Lula, que gerencia o capitalismo decadente e subalterno brasileiro e diz que o Brasil é país das maravilhas, onde pode haver um “ganha-ganha”. O que temos visto são os ricos ganharem bilhões e os pobres, migalhas.
Os 30 anos de neoliberalismo petista e tucano, de privatizações e submissão ao imperialismo, construíram a decadência que está aí e que não permite aquela ilusão dos primeiros governos do PT. Isso está relacionado ao próprio sistema. Se você não enfrenta o sistema, se você adere ao centrão, se seu governo se limita a tentar administrar o capitalismo brasileiro, o que recebe é isso: crise permanente, desigualdade social crescente, desnacionalização e privatizações, e mais e mais reclamações da própria burguesia, que não para de lucrar e de promover a pilhagem do país em unidade e de maneira subalterna aos diversos imperialismos.
Isso se expressa na política externa, onde Lula não rompe as relações do Brasil com Israel. Além do genocídio ao povo palestino promovido em Gaza, depois de atacar o Líbano e manter sufocada violentamente a Cisjordânia, lança um ataque sem precedentes ao Irã com o apoio do imperialismo dos Estados Unidos. O que mostra que Israel é na verdade um enclave militar das principais potências capitalistas do planeta.
Em meio aos bombardeios, 41 políticos brasileiros da extrema direita e do Centrão estavam em Telaviv, pagos pelo Estado pária e genocida de Netanyahu, ao que tudo indica para aumentar a capacidade de repressão e as chacinas ao povo pobre e negro das periferias do Brasil.
Derrotar o Arcabouço Fiscal e a política econômica do governo
Não podemos depositar confiança e esperança no governo Lula e no PT. Eles amam quem não os ama – o centrão, a direita e a burguesia.
Não estão dispostos a governar para os trabalhadores. Se fosse mesmo um governo dos trabalhadores, deveria acabar com a farra dos monopólios capitalistas que dilapidam as riquezas do país como vimos no recente leilão do petróleo promovido pelo próprio governo Lula. Acabaria com a escala 6×1, reduziria a jornada e atacaria o lucro dos 250 maiores monopólios capitalistas. Reverteria as privatizações. Colocaria o salário-mínimo no patamar indicado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e reduziria o salário dos deputados, senadores e políticos capitalistas. que passaria a ganha o mesmo que um professor ou um operário.
Mas Lula faz o oposto disso e ainda afaga o centrão e a direita com postos chaves no governo, que segue poderoso e mandando no país, fazendo tudo que quer a favor dos capitalistas. A ultradireita segue com força, mesmo em dois anos de governo do PT e com a comprovação da tentativa de golpe e possibilidade do Bolsonaro ser preso. O que demonstra a incapacidade deste governo não só para atender as reivindicações dos trabalhadores como também para minimamente diminuir o peso da ultradireita.
Neste momento de agravamento das disputas entre o governo e o Congresso, fica nítido que não há caminho por dentro desta institucionalidade e governabilidade burguesa e capitalista. Não interessa aos trabalhadores apoiar um governo que os ataca.
Por isso, temos que derrotar o arcabouço fiscal e toda a política econômica do governo Lula e do congresso. Os trabalhadores precisam se unir e enfrentar este governo caso queira que suas reivindicações sejam atendidas.
Oposição de esquerda ao governo e contra a ultradireita
Não ser oposição de esquerda a um governo capitalista que se alia ao centrão e a direita, mesmo quando toma pancada deles, é o cúmulo da capitulação aberta e de uma esquerda que se esconde quando os trabalhadores mais precisam dela. Isso mina a possibilidade de construção de uma alternativa socialista e revolucionária, deixando o povo refém do discurso dos bolsonaristas diante de um governo que só atende aos ricos.
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