A posição de Lula sobre a Venezuela está criando um grande problema para o governo. Ele tenta conciliar o inconciliável, a oposição fascista imperialista e o governo nacionalista de Maduro. Assim, todos criticam Lula, a esquerda porque ele abandonou sua posição tradicional de união da América Latina, e a direita, pois ele não é abertamente golpista contra Maduro. Os que tentam defender Lula caem em teses que não condizem com a realidade.
A sua tese é que Lula não precisa se alinhar aos BRICS ou ao imperialismo. Ele começa afirmando “nosso papel de mediador é muito elogiado por diversos países e até mesmo pela oposição venezuelana”. Ser elogiado não é algo necessariamente bom. Ser elogiado por Biden certamente não é bom. O mesmo vale para o elogio da oposição venezuelana. Essa oposição é um grupo de fascistas que está à direita de Jair Bolsonaro. Um elogia deles é muito mais uma crítica do que qualquer fator positivo.
Ele segue: “no plano interno, não obstante, às velhas críticas da direita se somam, agora, críticas de alguns setores da esquerda. Esses setores consideram que o Brasil deveria ser mais assertivo na luta contra o ‘imperialismo’, o que implicaria escolher alinhar-se ao ‘polo oposto’, na luta pelo poder mundial”. Aqui está o erro primordial do autor. Pelas aspas fica claro que ele não acredita que existe o imperialismo. E, ao mesmo tempo, ele acha que os países oprimidos querem o poder mundial e não que luta por sua soberania.
Ele afirma: “é preciso considerar que o que se chama de nova ‘Guerra Fria’ é uma invenção e uma imposição do EUA e aliados. Os EUA e aliados pressionam o denominado Sul Global para que ‘escolha’ entre o lado das ‘democracias’ e o lado das ‘autocracias’”. Aqui fica evidente sua incompreensão total do imperialismo. Os EUA não querem definir com que lado um país está alinhado, querem dominar a economia dos países oprimidos.
O autor então defende os BRICS, afirma que eles têm uma política que não é agressiva, que quer parcerias econômicas entre os países e que é muito positivo para o Brasil. Uma certa. Depois dessa diferenciação, ele tenta justificar a política de Lula e assim começa a errar novamente: “a questão essencial, contudo, tange ao fato de que quaisquer alinhamentos desse tipo limitariam, a priori, o protagonismo do Brasil. Uma política externa realista, racional, profícua e realmente soberana tem de ser sustentada essencialmente com base nos interesses nacionais, não com base em interesses de terceiros países, por mais ‘amigáveis’ que possam ser”.
Aqui os erros são dois. É de interesse do Brasil ser alinhado com os BRICS. Quando Lula se afasta da Venezuela de Maduro, ele não está seguindo o interesse nacional brasileiro, mas sim está cedendo a pressão dos interesses dos EUA. Quanto mais forte a Rússia, a China, o Irã, e os demais países atrasados, melhor a situação do Brasil. Segundo, atualmente os dois países que aparecem como grandes lideranças internacionais são Rússia e China. A realidade mostra que a tese de Marcelo Zero está errada.
Então aparece a grande incompreensão: “isso não significa, porém, investir em uma política externa confrontacionista com os EUA, a União Europeia etc. Com esses países, as oportunidades de cooperação são mais estreitas e sujeitas a maiores assimetrias e, muitas vezes, a imposições políticas inaceitáveis. Mas estão longe de serem inexistentes”. Não existe política “confrontacionista” com o imperialismo. Quem está sempre confrontando é o próprio imperialismo.
Basta analisar os dois principais casos de luta contra o imperialismo. O Irã é vítima ou ele partiu para cima dos EUA? A Rússia atacou primeiro ou foi a OTAN quem partiu para cima? Os países que mais batem de frente com o imperialismo hoje foram atacados antes. A diferença é que eles resolveram responder. E por responderem se tornaram lideranças mundiais. O Irã e a Rússia inclusive se tornam cada vez mais populares. Eles são demonizados pelo imperialismo, mas isso é inevitável. Lula não é demonizado justamente porque não está fazendo uma política combativa.
Ele tenta argumentar: “não se trata de neutralismo ingênuo, como avaliam alguns. Na realidade, é a melhor maneira de propugnar por uma ordem mundial multipolar e simétrica, mais permeável aos interesses de países como o Brasil. As grandes disputas mundiais criam espaços para o Brasil ocupar”. Pelo contrário, é um centrismo ingênuo. As grandes disputas mundiais estão polarizando o mundo, o centro não existe mais. Isso se reflete na política interna, em que o centro desaparece no mundo inteiro, e agora se mostra uma realidade na política internacional.
O caso da Venezuela é a demonstração perfeita disso. Lula tentou achar um meio-termo entre o BRICS e o imperialismo e não está conseguindo de forma nenhuma. O mundo polarizado não permite essa posição centrista. Quem tentou assumir essa postura, México, Brasil e Colômbia, está numa crise total. Agora Lula está sendo atacado pela direita e pela esquerda. E pior, a sua posição de questionar a vitória eleitoral de Maduro está auxiliando o golpe de Estado que tem como uma de suas bases o questionamento das eleições.
Por fim é precisa ligar um alerta. Aqueles que abrem margem para a interferência do imperialismo abrem um flanco para o golpe de Estado. Em 2019, Evo Morales capitulou diante do imperialismo entregando Cesare Batistti para a Itália, ele não foi recompensado, pelo contrário, sofreu um golpe de Estado no mesmo ano.