O norte-americano Michael Benz, que foi chefe da divisão de informática do Departamento de Estado durante o primeiro governo Trump, tornou-se uma figura central no ataque ao papel das agências governamentais, especialmente a USAID (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional).
Com experiência em políticas de cibersegurança e internet, Benz deixou o governo para se tornar um teórico da conspiração aliado à extrema-direita internacional. Vive de denunciar o que considera uma interferência excessiva do Estado, com foco em liberdade de expressão e influência na política externa.
As críticas de Benz ganharam notoriedade através do impulsionamento no X (antigo Twitter), após ter virado comparsa do bilionário Elon Musk. Essa aproximação alimenta a “guerra Trump-Musk contra a USAID”.
Trata-se de um movimento político mais amplo para destruir instituições governamentais dos EUA. Relatórios indicam que Benz faz parte da alt-right e teria usado pseudônimos como “Frame Game” para disseminar teorias racistas. Sua agenda política serve para deslegitimar a diplomacia americana e minar organizações globais.
Em uma entrevista concedida ao podcast de Steve Bannon, ex-coordenador de campanha de Donald Trump condenado à prisão e guru picareta de Eduardo Bolsonaro, Mike Benz afirmou que se a “USAID não existisse, Bolsonaro ainda seria presidente do Brasil”. A conversa foi compartilhada por Elon Musk.
Benz alega que a agência classificou Bolsonaro como um “Trump dos Trópicos” e teria estruturado um sistema para controlar o ecossistema de informação no Brasil, influenciando diretamente o processo político do país e comprando a Justiça para perseguir o sujeito. Atacou o TSE e disse que criaram um “polvo de censura”.
Ele diz que a atuação da USAID no Brasil se insere em um padrão mais amplo de ataques a “populistas” ao redor do mundo, em que a agência estrategicamente manipula informações e suprime discursos que considera ameaçadores à sua agenda. Para ele, essa prática ocorre não apenas em países estrangeiros, mas também dentro dos próprios Estados Unidos, onde a USAID teria papel no controle narrativo.
A entrevista BOMBÁSTICA entre Mike Benz e Steve Bannon revela uma polêmica atuação da USAID no Brasil, sugerindo que a agência teve um papel na saída de Jair Bolsonaro do poder.
Benz argumenta que a USAID classificou Bolsonaro como um “Trump dos Trópicos” e organizou um esforço… pic.twitter.com/9wDeDG5r4t
— Lorenzo Ridolfi (@lorenzoridolfi) February 4, 2025
Segundo Mike Benz, a agência é um dos pilares do que chama de “tríade do establishment da política externa”, ao lado do Departamento de Estado, do Departamento de Defesa (DOD) e da comunidade de inteligência. Essas entidades trabalharim juntas, com a USAID desempenhando um papel crucial na articulação de interesses geopolíticos sob o disfarce de ajuda ao desenvolvimento.
Benz afirma que a USAID foi criada nos anos 1960 para unificar as operações de desenvolvimento internacional, que antes eram conduzidas de forma fragmentada pelo Pentágono, Departamento de Estado e CIA. Ele argumenta que a agência evoluiu para se tornar um instrumento poderoso de manipulação política e social em outros países.
As diatribes de Benz encontram eco em Elon Musk, que passou a amplificar suas denúncias para enxovalhar a USAID. Musk chegou a chamar a agência de “organização criminosa” e “ninho de vermes” e defendeu sua dissolução, alinhando-se aos planos do governo Trump de reformular ou desmantelar o “deep state” para abrir espaço a ricos neonazistas.
Relatórios de início de 2025 indicam que a influência de Musk vai além do discurso. Por meio de seu envolvimento com o recém-criado “Departamento de Eficiência Governamental” (DOGE), Musk tem sido um dos principais defensores de reformas visando a USAID, incluindo a remoção de altos funcionários de segurança da agência, que são vistos como entraves para a agenda fascista de Trump.
No ano fiscal de 2023, os EUA destinaram por meio da agência um total de US$ 72 bilhões (cerca de R$ 420,7 bi) em ajuda humanitária para diversas áreas, incluindo saúde feminina em zonas de conflito, acesso à água potável, tratamentos para HIV/AIDS, segurança energética e combate à corrupção.
Em 2024, a agência, que tem mais de 10 mil funcionários, forneceu 42% de toda a ajuda humanitária no mundo rastreada pelas Nações Unidas.